ENCONTROS DE JESUS
Ao longo deste ano vamos tentar fazer algumas meditações em torno de encontros de Jesus nos evangelhos. Neles manifesta-se o grande do amor do Coração do Senhor. Começamos com o episódio da mulher de Samaria. No mês de janeiro refletimos sobre o episódio da mulher de Samaria e, em fevereiro, misericórdia do amor de Deus manifestada na vida de um homem chamado Zaqueu.
Estamos vivendo o Ano da Misericórdia. Toda primeira sexta-feira é ocasião de comtemplar a misericórdia do Senhor Jesus manifestada no lado aberto em seu peito. Um coração que amou até o fim! O episódio da pecadora que estava para ser apedrejada pode servir para nossa meditação daquilo que é o essencial do cristianismo: casa e espaço de misericórdia.
Texto evangélico
Por aquela ocasião Jesus foi para o monte das Oliveiras. De madrugada voltou de novo ao templo. Todo o povo se reuniu à volta dele. Sentando-se começou a ensiná-los. Nesse ínterim, os mestres da lei trouxeram uma mulher surpreendida em adultério. Colocando-a no meio deles, disseram a Jesus: “Mestre esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. Moisés, na lei, mandou apedrejar tais mulheres. Que dizes tu?” Perguntavam isso para experimentar Jesus e para terem motivo de o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, começou a escrever com o dedo no chão. Como persistissem em interrogá-lo, Jesus ergueu os olhos e disse: “Quem dentre vós não tiver pecado seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”. E tornando-se a inclinar-se, continuou a escrever no chão. E eles, ouvindo o que Jesus falou, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos; e Jesus ficou sozinho com a mulher que estava lá, no meio do povo. Então Jesus se levantou e disse: “Mulher, onde estão eles. Ninguém te condenou?” Ela respondeu; “Ninguém, Senhor”. “Eu também não te condeno. Podes ir e, de agora em diante, não peques mais”. (João 8, 1-11)
Jesus costumava passar a noite no Monte das Oliveiras. Lá se encontrava mais uma vez. De manhãzinha volta ao Templo. Imediatamente numerosos judeus se reúnem em volta dele. À maneira dos mestres da época, Jesus se senta num canto no pátio do Templo e começa a ensinar. Certamente falava das coisas relativas a esse mundo novo e belo que ele designava de reino de Deus, proposto às pessoas que tivessem um coração simples e pobre. Sem dúvida andava falando da misericórdia e da boa acolhida a ser dada às pessoas. Quem sabe, nesta manhã, não havia ele contado a maravilhosa parábola do filho pródigo?
Seus ouvintes prestavam atenção em suas palavras. Nada se ouvia, a não ser o rumor das palavras. De repente, a calma foi quebrada com um grupo barulhento que chegava. Fariseus e escribas traziam uma mulher surpreendida em adultério e como que a lançaram perto de Jesus. Depois de instantes de estupor o silêncio se restabelece. Um daqueles que haviam chegado no grupo dirigiu-se a Jesus: “Moisés, na lei, mandou apedrejar tais mulheres. O que dizes?” Falavam assim, segundo João, “para experimentar Jesus e para terem motivo de o acusar”. Não queriam questionar o rigor do castigo e sua terrível aplicação. A mulher não contava. Não davam importância à sua pessoa. Era uma mulher sem importância. Nas mãos daqueles falsos justos ela era mero pretexto para acusar Jesus. Os motivos a levavam a se prostituir, seus sentimentos, suas reações contavam pouco. E lá estava ela no meio de pessoas hostis, tremendo de vergonha e de medo, já imaginando morrer de morte atroz e horrenda.
Num primeiro momento Jesus não dirige o olhar para a pecadora, mas começa a escrever na terra. Acontece um silêncio pesado. Os discípulos, certamente, se perguntavam como Jesus se livraria da armadilha. Se apoiasse o apedrejamento estaria em oposição à sua pregação sobre a misericórdia. Se impedisse o ato estaria contra a lei de Moisés, e assim, mesmo contra Deus.
Cessando de escrever, Jesus se ergue e diz: “Quem dentre vós não tiver pecado seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”. Volta, então, a curvar-se e continua a escrever na terra. Outro silêncio, mas não o mesmo. Agora, o silêncio daqueles que se interrogam e fazem uma viagem em seu interior. Esses “justiceiros” são homens como os outros, homens comuns e pecadores, cheios de falhas e de faltas. Quem ousaria afirmar que nunca tivesse pecado? Se alguém ousasse dizer impecável, certamente ouviria a voz de alguém provando o contrário.
A pergunta de Jesus fez com que eles passassem do papel de acusadores a acusados. Jesus interessa-se pela mulher ainda jogada no chão e pelos seus acusadores. O Mestre sai vencedor da armadilha que lhe havia sido estendida. Esses homens reconheceram sua verdade e, a partir dos mais velhos, foram saindo um após o outro. Seriam os mais idosos, os mais lúcidos ou os muitos anos vividos havia acumulado mais e mais pecados?
Jesus fica sozinho com a mulher. Levanta-se e, pela primeira vez dirige-se a ela, olhos nos olhos. Desde o começo da cena ela estava no coração de seu pensamento e no coração de seu coração. Jesus teve a preocupação de não humilhá-la diante dos outros. Agora o olhar do Mestre lhe devolve a dignidade, recria-a. Bem provavelmente é sorrindo que lhe diz: “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?” E ela respondeu: “Ninguém, Senhor?” E Jesus: “Eu também não te condeno. Podes ir e de agora em diante não peques mais”.
Eu não te condeno. Não vim para condenar, mas para salvar. Vim revelar ao pecador que, apesar de sua falta, ele é amado por Deus. Vim para dizer que o amor é maior do que a falta e o abismo provocado pela falta. Não te condeno. A partir de agora, no entanto, não peques mais. Fizeste hoje a experiência do amor de Deus para contigo. Que não venhas a trair esse amor.
Nesta manhã, uma mulher nova deixava o pátio do Templo. Naquela manhã para ela o ar estava menos pesado. Ela não era mais a mesma. Toda sua experiência de mulher estava orientada agora para outros caminhos. Depois de ter encontrado Jesus voltou para seu marido com um coração novo, reconciliado. Será que ela conseguiu se fazer junto dele testemunha do perdão possível e de uma vida no amor e na fidelidade?
François Montfort, Rencontres avec le Christ – Fêtes et Saisons, n. 312, p. 9