Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Abeirando-nos da fonte da vida

02/04/2010

O amor de Cristo nos constrange, considerando que, se um morreu por todos, logo todos morreram. Ele morreu por todos para que os que vivem já não vivam para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou (2Cor 5,14-15)

Ressoam ainda em nossos ouvidos as leituras bíblicas e patrísticas que nos colocavam no alto do Calvário na quaresma e nesta semana santa. Ali, na colina da dor e do amor, o mais belo de todos os filhos dos homens dava a vida pela vida dos homens. Estamos envolvidos no mistério da morte e ressurreição do Senhor. Não o contemplamos do exterior. Paulo nos exorta a que não vivamos para nós, mas para aquele que por nós morreu e ressuscitou. João, no evangelho desta sexta-feira das dores falava do Coração de Jesus. Um soldado, depois da morte, toca o peito do Mestre com a lança. Do corpo crucificado de Cristo jorra a torrente vivificante; a água que o Espírito dado aos que crêem nele, a água que se alguém beber jamais terá sede de novo.

1.
Quando eu for elevado da terra, atrairei todos a mim
(Jo 12,32). Com efeito, se o Senhor atrairia a si pela cruz, sobre a qual deveria ser elevado, assim também é pela humildade, a paciência e o amor que deveria atrair todos os homens: pois, como ele sofreu, assim deveremos segui-lo na medida de nossas forças deixando-nos igualmente prender, amarrar e condenar espiritualmente (Sermões de João Tauler, Lecionário Monástico II, p. 447).

2. Santo Anselmo não encontra palavras adequadas para descrever o amor do Amado: “Terno, com os braços estendidos. Estendendo os braços, manifesta que abraços ele próprio deseja receber de nós. Parece dizer: Vós todos que estais cansados e carregados de fardos (Mt 11, 28), vinde vos refazer em meus braços, com meus abraços. Vinde, pois, todos. Que ninguém tema ser repelido, pois não tenho prazer na morte do ímpio, mas que mude de conduta e viva (Ez 18,23). Minha alegria é estar com os filhos dos homens (Pr 8,31).

3. São Boaventura se extasia diante da fonte que esteve diante de nossos olhos na sexta-feira das dores: “Acorre com vivo desejo a esta fonte de vida e de luz, quem quer que sejas, o alma consagrada a Deus e exclama com todas as forças do teu coração. Ó inefável beleza do Deus altíssimo e puríssimos esplendor da luz eterna, vida que vivifica toda vida, luz que ilumina toda luz e conserva em perpétuo esplendor a multidão dos astros, que desde a primeira aurora resplandecem diante da vossa divindade. Ó eterno e inacessível, brilhante e suave manancial daquela fonte oculta aos olhos de todos os mortais! Sois profundidade infinita, altura sem limite, amplidão sem medida, pureza sem mancha! De ti procede o rio que vem trazer alegria à cidade de Deus(Sl 45,5), para que entre vozes de júbilo e de contentamento ( cf. Sl 41,5)possamos cantar hinos de louvor ao vosso nome, sabendo por experiência que em vós está a fonte da vida, e em vossa luz comtemplamos a luz (Sl 35,10) (Liturgia das Horas III, p.572).

4. Damos, por fim, a palavra a João Crisóstomo: “Do seu lado saiu sangue e água (Jo 19,34). Não quero, querido ouvinte, que trates com superficialidade o segredo de tão grande mistério. Falta-me ainda explicar-te outros significado místico e profundo. Disse que essa água e esse sangue são símbolos do batismo e da eucaristia. Foi desses sacramentos que nasceu a santa Igreja, pelo banho da regeneração e pela renovação do Espírito Santo , isto é, pelo batismo e pela eucaristia que brotaram do lado de Cristo. Pois o Cristo formou a Igreja de seu lado traspassado, assim como do lado de Adão foi formada Eva, sua esposa” (Lecionário Monástico II, p. 580).

Durante o tempo pascal, prelúdio da eternidade, abeiramo-nos da fonte da vida.

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