1. “Quem não ama não conheceu a Deus, porque Deus é amor. Foi assim que se manifestou o amor de Deus para conosco: Deus enviou ao mundo seu Filho unigênito para que tenhamos a vida por meio dele. Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (1Jo 4,8-10). Deus nos amou por primeiro, veio ao nosso encontro.
2. Estamos vivendo o tempo do advento e do Natal. Há no ar essa atmosfera da festa do Menino que nos veio visitar. Empurrou a porta de nossas casas e pediu que lhe fizéssemos um espaço. Mas ele veio na singeleza e na simplicidade. A iniciativa foi do Senhor Deus. Sempre o tema do amor gratuito. Deus toma a iniciativa. Bernhard Häring assim se exprime: “O Coração de Jesus que começou a palpitar no seio da Mãe e cujos últimos latejos na cruz são para nós sinônimo de um amor inefável e ilimitado. Representa o núcleo da nossa fé na encarnação do Filho de Deus. Neste coração humano, por meio deste coração capaz de amar do que todos os outros corações, o próprio Deus nos ama com um amor divino e ao mesmo tempo humano” ( El Sagrado Corazón de Jesús y la salvación del mundo, San Pablo, Bogotá, 1995, p. 14).
3. O cardeal John Newman assim se dirige ao Coração de Jesus: “Ó símbolo santíssimo e sacramento do amor ao mesmo tempo divino e humano, amor em sua plenitude, tu me salvaste com tua força divina e teu calor humano e, por fim, com teu sangue milagroso, transbordando de amor”. Sempre o tema do amor, de um Deus que vem, que ama, que salva, que acolhe, que perdoa. Um Deus que ama…
4. Deus, com efeito, criou o mundo e os homens num movimento de amor. Nada existia. Do nada, de graça, brotaram as estrelas, os pássaros, os animais dos campos e a sinfonia do universo. No centro da criação o homem e a mulher, criados à imagem e semelhança do Senhor. De graça. Deus quer pessoas que o amem de fora, de fora dele, dele Trindade, Pai, Filho e Espírito. “Deus, que é amor na plenitude trinitária, não podia ter outro motivo para criar o homem a não ser um amor transbordante, que deseja comunicar-se. Quer a nós, seres humanos, não apenas como objeto de seu amor, mas como participantes deste mesmo amor, pessoas que amam com ele. Este o sentido mais profundo da afirmação: Deus criou o homem à sua imagem e semelhança” (idem, p. 14-15).
5. Um Deus que é amor vem ao encontro do ser humano que precisa amar, mas que vive no desamor, no pecado. Esses tantos homens e mulheres rodando em torno de seus interesses, incapazes de fazer o êxodo de si mesmos e buscar o outro, por causa do outro, para que o outro não se extravie. Há no ser humano essa fissura interior, esse dilaceramento que se chama pecado. Aquele que veio na noite de Belém é o mesmo que tem o Coração aberto para mostrar até que ponto nos ama e nos convocar para ingressarmos na senda da volta, no caminho da conversão, Deus não se cansa de amar. Continua sendo fiel aos seus desígnios. Jeremias lembra que mesmo com o pecado do homem, Deus não abandona os desígnios de seu coração (Jr 30,24). Ou Oséias: “Eu curarei as suas apostasias, eu os amarei de todo o coração, pois minha ir se afastou dele” (14, 5). E, no alto da cruz, depois de amar de todos os modos, Jesus tem o peito aberto para mostrar o mistério de seu interior.
6. Sempre o amor, o amor que busca, o amor que previne, o amor com fortes conotações de misericórdia. No Coração de Jesus se escondem os tesouros da sabedoria, da ciência…Os que contemplam o Coração aberto do Redentor se dão conta de que amor precisa ser pago com amor. Assim, a vida cristã passa a ser uma existência de ardorosa resposta ao amor que veio até nós em primeiro lugar. Na vida de oração, no apostolado, na fidelidade de todos os dias, no abraço da cruz, o devoto do Coração de Jesus percebe que precisa viver a chama do amor. Muitas vezes, mesmo os cristãos mais ou menos praticantes, são formais. Rezam por rezar. Não se dão conta da beleza do dom de Cristo na cruz e no altar. Falta-lhes o ardor. Muitas pessoas foram ficando insensíveis de coração e se tornaram cegas. Praticam a religião monótona da rotina dos gestos, dos ritos e das palavras. Amam mas vão até o fim. Em muitos cristãos a caridade foi se esfriando.
7. Os verdadeiros devotos do Coração do Redentor não buscam apenas aprofundar e purificar incessantemente o seu amor pessoal pelo Senhor, abeirando-se das fontes da salvação, mas querem ver Deus amado por outros. Pode acontecer que o mundo venha a morrer dormente e os cristãos conscientes inventam meios e modos para fazer com que o amor de Cristo que tomou conta deles possa ser conhecido de todos e por todos. Os devotos do Coração de Jesus são missionários criativos. Não são meros tocadores de pastorais mecânicas, mas agem a partir da espiritualidade daquele que no alto da cruz dá a vida pelos seus.
8. Realmente não existe maior amor do que dar a vida pelos seus amigos!