Sobre a árvore da cruz, como um valente guerreiro, ferido durante o combate em suas mãos, em seus pés e em seu lado divino, curou a chaga de nossos pecados, isto é, curou a nossa natureza ferida pela serpente venenosa. (São Teodoro Studita)
Sobre a árvore da cruz, como um valente guerreiro, ferido durante o combate em suas mãos, em seus pés e em seu lado divino, curou a chaga de nossos pecados, isto é, curou a nossa natureza ferida pela serpente venenosa. (São Teodoro Studita)
Sempre de novo voltamo-nos para a cruz do Senhor, sinal da vitória do amor sobre o ódio. Os discípulos do Mestre ressuscitado contemplam, em longas horas de meditação silenciosa, os passos serenos e firmes que Jesus foi dando entre a quinta-feira da Ceia e a tarde de sua morte.
Vários sentimentos tomam conta do orante e discípulo. Admiração, respeito, gratidão se entrelaçam. Num primeiro momento, quando ouvimos os relatos da Paixão somos levados a pensar que ele se comportava de maneira passiva, que fatalisticamente ia aceitando o que não podia ser diferente. Não, esse Jesus não pode ser um joguete na mão do destino. Ele foi dando um sentido ao absurdo de sua Paixão e Morte. Caminha para a morte sabendo o que está fazendo e dando sentido ao que parece absurdo.
Há essa árvore, dois pedaços de madeira que se encaixam um no outro. Madeira que veio de uma árvore. Arvore do Paraíso. Árvore da desobediência. Árvore do fruto que não podia ser comido. Fruto mastigado pelo homem desejoso de ser deus, de ser rei, de dominar, de não querer depender, de não se dobrar, filial e amorosamente, à vontade do Senhor. Esta outra árvore nova, essa árvore da cruz que produz um fruto inaudito e cheio de sabor, fruto do amor de Deus que se torna homem e dá a vida por amor.
Sobre a árvore da cruz está um guerreiro. Não encontramos um ser amorfo, fleumático, apático. Trata-se um valente guerreiro. Toda sua vida fora uma luta. Lá nas terras do deserto, da areia, da poeira e das pedras esse jovem adulto diz um sim a Deus, seu Pai, e um não ao inimigo. Com um soldado aguerrido expulsa o demônio de perto de si. Não aceita suas sugestões aliciadores. Brada com veemência. Diz um não. Aqui e ali, muitas vezes, em sua vida, ele, mesmo ameaçado de morte, como um valente guerreiro abate o orgulho dos que o assediam.
De modo especial, ele é um valente guerreiro no cenário do Calvário. Já demonstrara antes sua valentia. Agora é guerreiro ferido. Ferido nas mãos, ferido nos pés. Os anjos do céu contemplam o Rei machucado com as chagas dos pés e das mãos. O valente guerreiro morreu sobre a árvore, aparentemente derrotado.
Havia ainda essa chaga do lado, do lado divino, chaga do peito, do Coração do Filho de Deus. Teodoro Studita afirma que o Senhor todo cheio de chagas, o valente guerreiro, curou nossas chagas, as chagas que se abrem quando nosso coração não descansa no coração do Senhor. O fruto novo da cruz, o corpo do Senhor, cura nossas chagas.
Pedro Crisólogo (séc. 3), um dos maiores escritores eclesiásticos de todos os tempos, coloca nos lábios do valente guerreiro estas palavras admiráveis: “Talvez vos perturbe a enormidade de meus sofrimentos causados por vós. Não tenhais medo. Esta cruz não me feriu a mim, mas feriu a morte. Estes cravos não me provocam dor, mas cravam mais profundamente em mim o amor por vós. Estas chegas não me fazem soltar gemidos, mas vos introduzem mais intimamente em meu coração. O meu corpo, ao ser estirado na cruz, não aumenta o meu sofrimento, mas dilata os espaços do coração para vos acolher. Meu sangue não é uma perda para mim, mas é o preço do vosso resgate”.
Frei Almir Ribeiro Guimarães