Frei Luiz Iakovacz
Embora o início do Ano Litúrgico comece com o Ciclo do Natal, no primeiro domingo do Advento, cronologicamente, nem sempre foi assim.
Os primeiros cristãos celebravam um único fato: o da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, vivamente, testemunhado pelos apóstolos. Àqueles que acolhiam este inédito anúncio, eram convidados a se reunirem, ao entardecer de todos os sábados, passar a noite em vigília e, ao raiar do domingo, “partirem o pão” (= Eucaristia).
A vigília era o momento próprio para o querigma (anúncio da doutrina de Cristo), preparação para o batismo e outros sacramentos. Este jeito de viver a fé, é testemunhado pela celebração que Paulo presidiu em Trôade (cf. At 20,7-12). Sem dúvida, no transcorrer da vigília, havia intervalos, lanches e/ou janta. São Paulo é muito enérgico ao corrigir os abusos ocorridos em Corinto (cf. 1Cor 11,17-34) e, provavelmente, em outras comunidades.
Advento e Natal não faziam partes integrantes dessas vigílias. Suas origens são posteriores e extra bíblicas.
No Hemisfério Norte, celebrava-se o Solstício do Inverno (25 de dezembro), isto é, quando a noite é a mais longa do ano e, consequentemente, o dia mais curto. Paulatinamente, porém, o dia vai avançando noite adentro, até chegar ao Solstício do Verão, onde o dia e a noite se invertem em sua duração. O Solstício do Inverno era conhecido como o “Dies Solis Invictus” era uma grande festa e sua preparação variava conforme as regiões.
Na cultura mesopotâmica, por exemplo, faziam-na durante doze (12) dias. Na Grécia, o deus Mitra era o centro das atenções, porém, Baco contagiava a todos com abundante vinho. Em Roma, a festa durava sete (07) dias, homenageando Saturno, deus da agricultura. Havia muita comida, bebida, orgias! São as famosas “saturnálias” que terminavam no dia 25 com “rito de purificação e troca de presentes”. Os primeiros cristãos, durante quatro séculos conviveram com esta situação. Não tinham como ignorar tais fatos.
Com o passar dos anos, ressignificaram esta data, anunciando que Cristo é o “Sol nascente que veio nos visitar” (Lc 1,78). Esta ressignificação ganhou dois (02) grandes impulsos, durante o século IV.
Com o Edito de Milão (313), o Imperador Constantino permitiu que os cristãos realizassem seus cultos, publicamente. Alguns anos depois (380), Teodósio oficializou o cristianismo como religião oficial em todo o Império Romano.
Desde então, a preparação para 25 de dezembro era feita através do Advento (= estar esperando a chegada de alguém), cujas leituras enfocavam as duas vindas de Cristo. Os três (03) primeiros domingos visavam a segunda vinda de “Cristo que viria com poder e glória – não para salvar – mas para julgar” (Mt 24,30).
O fim dos tempos “não algo trágico, nem de destruição da História (Konings, Liturgia Dominical, p. 213), “nem de medo ou terror” (Lc 21,26). Para Paulo, o fim do mundo acontecerá quando Cristo entregar toda a obra da criação ao Pai e, então, “Deus será tudo em todos” (1Cor 15,28).
Por isso, através de Isaías e João Batista, personagens centrais deste tempo kairológico, fazem o constante apelo à conversão e à mudança de vida. Portanto, o tempo do Advento, bem como todo o Ano Litúrgico, é um contínuo processo de mudanças comportamentais e não uma sequência cronológica de “mais um Advento, mais uma Páscoa”.
Somente nos últimos sete dias (17 a 24 de dezembro – que lembram as saturnálias romanas) é que aparece a preparação próxima ao nascimento de Jesus. É o chamado “domingo de Maria” que, com seu sim, realiza a promessa do Messias que veio, não “para ser servido, mas para servir” (Mt 20,28). Maria é a expressão viva desse serviço quando diz ao anjo “eis aqui a serva do Senhor” (Lc 1,38). Pode-se dizer, então, que a Igreja é um contínuo advento até o retorno de Jesus.
Um dos símbolos mais significativos é a “Coroa do Advento”. Teve seu início na Alemanha, com o Pastor luterano Johann Wichern, em 1839. Ele trabalhava num orfanato, com crianças de rua. Para explicar-lhes o tempo do Advento, teve a seguinte ideia: desenhou um círculo com uma vela para cada dia; as velas menores representavam os dias de semana e, as maiores, os quatro domingos do Advento. Os outros pastores gostaram da ideia e começaram a usar este símbolo, mas sem as velas pequenas. As grandes foram colocadas numa guirlanda, isto é, numa coroa enfeitada com folhagem verde.
Em 1925, a Igreja Católica adotou este símbolo e, desde então, começou a fazer parte do Advento. Hoje, a Coroa está espalhada em toda parte: igrejas, lojas, portas das casas e, até, nas ruas.
Sejamos, nós também, portadores de um Cristo que se “fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). A melhor maneira de fazê-lo é o serviço, pois Ele diz: “Minha comida é fazer a vontade do Pai” (Jo 4,34) e, Dom Demétrio Valentini acrescenta, “Diante de uma criança recém-nascida, o mundo é chamado a colocar-se ao serviço dela”.
Frei Luiz Iakovacz, OFM, frade desta Província da Imaculada, é coordenador da Fraternidade Santo Antônio de Sant’Anna Galvão de Colatina (ES).