Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves
Ao longo da Semana Santa, Jesus nos mostrará o que acontecerá com ele, assim como a traição que sofrerá. O caminho de Jesus é permeado de provações e desconfortos. Depois de subir a Jerusalém e ser aclamado com mantos e palmas, agora ele passa por algumas situações. Sua permanência na cidade incomoda, pois ele faz duras críticas a todos que ali estão, acomodados, sedentos por poderes e status social.
De fato, hoje, com a atual situação que vivemos, devemos observar atentamente o caminho feito por Jesus, seus discípulos e todos que estão à sua volta. Ainda estamos vivendo o período da pandemia da Covid-19, que inspira cuidados básicos e necessários para o bem de todos. Para pensar na relação entre nós, devemos observar o caminho de Cristo, aclamado pelo povo, mas traído por Judas, um dos seus discípulos. Para nós, a traição de Judas é algo inadmissível, algo impensável, mas é também uma realidade das nossas vidas e nas relações que temos com o outro.
Papa Francisco, em sua homilia do dia 8 de abril de 2020, nos mostra algo intrigante, quando afirma: “Pensemos nos muitos Judas institucionalizados neste mundo, que exploram as pessoas. E pensemos também no pequeno Judas que cada um de nós tem dentro de si na hora de escolher entre lealdade ou interesse. Cada um de nós tem a capacidade de trair, de vender, de escolher pelo próprio interesse. Cada um de nós tem a possibilidade de se deixar atrair pelo amor ao dinheiro, aos bens ou pelo bem-estar futuro. “Judas, onde estás?” Mas faço esta pergunta a cada um de nós: “Tu, Judas, o pequeno Judas dentro de mim: onde estás?”.”
Essa reflexão de Francisco nos incomoda, principalmente por vermos como somos fracos, omissos e interesseiros. Esta pergunta: “Tu, Judas, o pequeno Judas dentro de mim: onde estás?” ressoa em nosso ser e nos força a fazer um exame de consciência. Será que neste período de pandemia, em que as pessoas têm passado dificuldades e necessidades, temos nos comprometido com um amadurecimento e cuidado com todos e todas? Temos observado a condição de sermos mais humanos diante de tanto descaso e problemas sociais graves?
As respostas são inúmeras, mas o Papa Francisco manifestou o desejo de que a Igreja fosse um “hospital de campanha”, local onde recebe os feridos, sem distinção, comprometendo-se na prevenção, fazendo observar os diagnósticos e procurando agir com misericórdia diante dos ameaçados de morte e seus familiares. Reforço aqui a prudência frente à pandemia. Desta forma, temos que saber levar cada situação. Jesus deseja que saibamos acolher o outro e viver com ele a realidade e todos os problemas inerentes a esta pandemia.
Vivenciar este período, olhando para a realidade, é um convite à conversão. Diante dos desafios, somos chamados a nos colocar no processo de reinvenção do cotidiano. Recriar atitudes e novo jeito de ser e viver. Repensar nossas prioridades e sermos menos interesseiros. Algo ainda difícil para uma sociedade que vive com pressa e sem tempo, voltada para dentro de seus pequenos mundos, que nos levam a fugir da realidade.
Devemos ter cuidado com o excesso de informação e com a tecnologia que veio ao nosso favor, mas também nos faz adoecer. Devemos priorizar o nosso tempo, as nossas relações e, sem medo de errar, priorizar a nossa espiritualidade. Para tanto, frente aos desafios atuais, que possamos buscar e alimentar a nossa espiritualidade, nestes tempos de retorno às atividades e exercitar o amor em nossa casa e em nossa família. Acima de tudo, que sejamos atentos às condições em que estamos vivendo, ou seja, um convite a olhar para o nosso caminho e, acima de tudo, buscar uma nova realidade, com um outro jeito de viver: mais humano, mais ético e solidário. Que Jesus, nesta preparação para Semana Santa, nos guie nesta caminhada.
Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves é mestre em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), em BH, professor de teologia no Instituto Teológico Franciscano (ITF), em Petrópolis (RJ) e membro do Conselho Regional de Formação (CRF) – LESTE II do CNLB.