Imagem: Annibale Carracci – Cristo e a Mulher Samaritana – Wikimedia Commons/domínio público

Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves

Ao observarmos o caminho feito pela Igreja do Brasil sobre a campanha da Fraternidade de 2022, temos a oportunidade de rever alguns aspectos sobre a educação e sobre a relação que temos com a sociedade e todos os atores envolvidos nessa realidade. Sendo assim, diante do tema “Fraternidade e Educação”, o método “Ver, Julgar e Agir”, em 2022, assumirá a realidade do “Escutar, Discernir e Agir”.

Na proposta de Escutar, encontramos o desejo de construção de um progressivo processo ensino-aprendizagem que nos coloca frente aos desafios atuais e às possíveis respostas. Jesus, antes de ensinar, escuta o Pai, aprende com Ele, tem outro olhar sobre os fatos e acontecimentos. Escutar é mais do que ouvir; é o ponto de partida para acolher, compreender e transformar a realidade. Educação não é adestramento ou simples transmissão de conteúdos, é levar a pessoa a ser sujeito. Sendo assim, duas lições sobre o ato de Educar: 1. valorização da pessoa como princípio da educação e 2. a correção, que é conduzir ao caminho reto, sabendo como interagir com as diversas realidades.

Diante de uma realidade de grandes desafios e constantes problemas, em que a pandemia da Covid-19, vivenciada pelo mundo inteiro, já fez milhares de vítimas. Não podemos menosprezar o número de mortos; são vidas humanas abreviadas pela Covid-19. Essa realidade é, acima de tudo, um caminho que exige cuidado, zelo ético pelos que mais sofrem. Sendo assim: “A realidade da educação nos interpela e exige profunda conversão de todos. Verdadeira mudança de mentalidade, reorientação da vida, revisão das atitudes e busca de um caminho que promova o desenvolvimento pessoal integral, a formação para a vida fraterna e para a cidadania.” (Texto Base CF 2022, nº 5).

Dessa forma, a Campanha da Fraternidade nos convida a escutar os ensinamentos de Cristo, que se coloca como servo e atento aos que mais precisam. Ele é o modelo, ele é o Educador que nos dá a condição de aprender com nossas realidades e em nossos contextos, ou seja, aprender sobre os fundamentos do ato de educar observando a realidade de cada um.

Infelizmente, o ser humano não se coloca a escutar, somente deseja falar sem dar atenção àquilo que mais necessita. O ser humano se tornou mais uma mercadoria a ser utilizada e descartada. Com a atual cultura do descartável, como nos apresenta o Papa Francisco, há uma tendência a tornar a vida humana como “parte do negócio”, algo que se pode barganhar.

Dessa maneira, o Papa nos apresenta a necessidade de escutar a sociedade e afirma que é a condição mais necessária, principalmente em tempos tão difíceis e obscuros. “É preciso inclinar o ouvido e escutar em profundidade, sobretudo o mal-estar social agravado pelo abrandamento ou cessação de muitas atividades econômicas.”

Por isso “uma educação humanizada não pode limitar-se a fornecer um serviço de formação, mas também cuidar dos seus resultados no horizonte das capacidades pessoais, morais e sociais dos participantes no processo educativo. Não se pede simplesmente ao professor para ensinar e ao aluno para aprender, mas exorta cada um a viver, estudar e agir de acordo com as premissas do humanismo solidário.” (Texto Base, nº 227).

Destarte, só será possível compreender essa realidade se a educação for priorizada, sendo algo necessário para uma mudança no mundo. Sendo assim, a educação é a promotora de uma grande mudança; traz para o contexto uma condição privilegiada para uma grande abertura e descortina em nossa frente novas possibilidades. Sendo assim, somente com a uma educação integral é que conseguiremos chegar a uma condição mais humana e solidária.

Portanto, a Educação Integral deve ser assumida por todos e por todas, principalmente com o foco no processo formativo de crianças, jovens e adultos. Tudo isso deve ocorrer em uma grande sintonia para colaborar nos processos de aprendizagens que atuam dentro e fora da escola, nas casas e em todos os locais, colaborando assim na formação integral do ser humano. Por isso, a proposta de uma educação integral que zele pelo bem dos indivíduos  “é um dos caminhos mais eficazes para humanizar o mundo e a história”, como afirma o Papa Francisco ao lançar o Pacto Educativo Global, propondo ao mundo todo uma aliança em prol de uma educação inclusiva e atenta aos problemas atuais.

E ele continua ao afirmar que a construção de nova realidade educacional mais amorosa e comprometida: “A educação é, sobretudo, uma questão de amor e responsabilidade que se transmite, ao longo do tempo, de geração em geração. Por conseguinte, a educação apresenta-se como o antídoto natural à cultura individualista”.

Destarte “Escutar supõe proximidade, sem a qual não é possível um verdadeiro encontro. A escuta permite encontrar o gesto e a palavra que nos desinstala da condição de espectador.” (Texto Base, nº 26). Para tanto, é nesta proposta de escutar que Jesus transforma a sociedade de sua época. A sua pedagogia é a escuta daqueles que o buscam.

Assim, promover essa mudança, nos ajuda a compreender melhor a realidade. “É necessário educar para reverter essa tendência de esvaziamento do coletivo e da crise do compromisso comunitário. A ilusão do individualismo se fortalece em uma distorção da noção de individualidade e de uma desilusão com vários projetos coletivos”. (Texto Base, nº 39).

Afinal, refletir sobre esse contexto nos ajudará a pensar que somente com a transformação da instituições educacionais em verdadeiras realidades de protagonismo no processo ensino-aprendizagem de todos os seus membros, construindo uma grande comunidade de aprendentes, ou seja, “Trabalhar por uma educação que promova a vida acima de qualquer outro valor, ajudando a resgatar a dignidade de cada pessoa humana, em um exercício permanente de fraternidade e solidariedade contribuirá para o surgimento e desenvolvimento de uma nova humanidade”. (Texto Base, nº 122).

Enfim, o Texto Base convoca a uma reflexão profética sobre a educação, ou seja, “uma educação para o cuidado com a casa comum, que valoriza a dimensão lúdica, o diálogo e o respeito, que acompanha e ensina o verdadeiro, o belo e o bom, em todos os contextos sociais”. (Texto Base, nº 136). É preciso escutar, abrir os ouvidos para que tracemos um caminho ético pautado no zelo e no cuidado com o próximo, preocupados com o bem comum. Jesus, com seu exemplo, nos mostra a realidade e como escutar, preocupar-se, atentar-se ao que o outro diz.

Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves é mestre em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), em BH, professor de teologia no Instituto Teológico Franciscano (ITF), em Petrópolis (RJ) e membro do Conselho Regional de Formação (CRF) – LESTE II do CNLB.