Frei Almir Guimarães
Sempre de novo Cristo Jesus, o vivo, ressuscitado, o esposo, o amado, aquele que torna o homem humano, o bom samaritano. Hoje, mais do nunca, sabemos que precisamos alimentar encontros pessoais com ele, vivo, presente na Igreja e no mundo, como força viva. Não nos fiemos num conhecimento racional sem o coração. Franciscanos temos a missão “de tornar o Amor amado.” Para tanto, haveremos todos de nos deter diante do Senhor, não por uma fria obrigação mas porque ele no seduziu.
Pedro Crisólogo, bispo do século V, escreve página esplendorosa como se Cristo estivesse agora nos dirigindo a palavra:
Talvez vos perturbe a enormidade de meus sofrimentos causados por vós. Não tenhais medo. Esta cruz não me feriu a mim, mas feriu a morte. Estes cravos não me provocam dor, mas cravam mais profundamente em mim o amor por vós. Estas chagas não me fazem soltar gemidos, mas os introduzem mais intimamente em meu coração. O meu corpo, ao ser estirado na cruz, não aumenta o meu sofrimento, mas dilata os espaços do coração para vos acolher. Meu sangue não é uma perda para mim, mas é o preço do vosso resgate.
Pedro Crisólogo, com este artifício literário, permite que cheguemos a vislumbrar o que se passa no peito do Senhor. Quantas vezes mães que passam o tempo todo cuidando de um filho doente, desobediente, irreverente, mesmo confinado ao leito. Homem já cheio de revolta. Comida, asseio, remédios, roupas que foram encharcadas de urina, fezes, vômitos e sangue de curativos que se soltaram… nem um minuto de folga. Atenção noite e dia, semanas e semanas… Ela dirá que o faz a partir do dom, do amor, mesmo tratando-se de tarefa pesadíssima. Não precisa da pena e da compaixão porque ama esse filho que colocou no mundo. Assim, como Jesus, ela ( e com elas tantos que escondidamente padecem um calvário ) esquecem o peso da dor… o bem do outro e uma vida doada.
Permitam-se transcrever a segunda parte da reflexão de Pedro Crisólogo em que nos pede coisas maravilhosas e que nós sejamos um odorífero sacrifício ao Senhor:
Ó homem, sê tu sacrifício e sacerdote de Deus; não percas aquilo que te foi dado pelo poder do Senhor. Reveste-te com a túnica da santidade; cinge-te com o cíngulo da castidade; seja Cristo o véu de proteção de sua cabeça; que a cruz permaneça em tua fronte como defesa. Grava em teu peito o sinal da divina ciência; eleva continuamente a tua oração como perfume de incenso; empunha a espada do Espírito; faze de teu coração um altar. E assim, com toda confiança, oferece teu corpo como vítima a Deus.