Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

A Paixão de Cristo e o sentido da vida – 2

27/02/2020

                                                                                                            Imagem ilustrativa (fonte: Acervo Província da Imaculada)

O contributo da logoterapia

Escrevi no último artigo (24/01/2020) a história de sofrimento de Pedro. Levantamos questionamentos teológicos e existenciais sobre o modo pelo qual ele enfrentou tudo, desde a própria deficiência física, o cuidado do irmão mais velho até a morte e a união com uma prostituta, com quem dividiu os últimos dias da vida.

Alguém que nunca enfrentou o drama do sofrimento pode pensar que a vida lazarenta de Pedro não valeu nada. Porém, será que ele concebia a existência assim? O segredo está naquela pitada de sentido que o fez superar tudo de cabeça erguida e com dignidade. Para esta segunda parte, colho as ideias de Viktor E. Frankl e as aplico no caso citado. Depois veremos algo semelhante na Paixão de Jesus.

Frankl experimentou na própria carne as torturas do campo de concentração. Observou que muitos companheiros cometiam suicídio. Outros se sentiam apáticos e indiferentes, deixando-se conduzir pelo instinto de sobrevivência. Além de todos estes sintomas, Frankl menciona a ira, o mau-humor e alucinações, tudo causado pela fome e a terrível submissão de ser reduzido a condições desumanas.

No entanto, e esta é a tese central do fundador da logoterapia, a única coisa que resta a qualquer indivíduo, por mais cruel que seja a sua condição de sofrimento e dor, é a sua liberdade interior que o faz “[…] assumir uma altitude alternativa frente as condições dadas”. (cf. Frankl, Victor E. Em busca de sentido, Vozes, p. 88).  Como se chega à decisão de optar por este caminho alternativo que dá energia para enfrentar as mais terríveis formas de barbáries? Em outras palavras, o que nos leva a optar por continuar vivendo, mesmo quando tudo parece ser absurdo e não ter mais sentido?

Estas questões têm a ver também com o suicídio. Frankl descobriu no campo de concentração o seguinte: aqueles que cometiam o suicídio não esperavam mais nada da vida, pois deixaram de acreditar na possibilidade de futuro. Porém, para sair deste labirinto de desespero e encontrar o caminho alternativo temos que refletir assim: “[…] a rigor nunca e jamais importa o que nós ainda temos a esperar da vida, mas sim exclusivamente o que a vida espera de nós” (p. 101). Essa descoberta orienta a existência em direção ao futuro. O sentido é encontrado cada vez que pensamos que ainda nos resta algo para fazer. Ganha destaque aqui a famosa frase de Nietzsche: “Quem tem por que viver pode suportar quase qualquer como”. Frankl despertava todas as manhãs pensando na sua esposa e sonhava um dia encontrá-la. Ele se colocava essa meta, era esse o seu porquê (razão) de continuar lutando pela vida. As condições desumanas que se submetia tornaram-se relativas, pois o que importava era seu objetivo, o qual lhe dava a possibilidade de ter um futuro.

Lembra da história do Pedro? Se a vida só tem sentido se for em vista do outro, então aquele seu irmão mais velho, totalmente deficiente, e a sua mulher, tida como prostituta, foram na verdade o porquê do sentido da vida dele. Não importava o tamanho da sua dor, interessava o cuidado e a dedicação que Pedro dava a ambos. Ele fazia tudo isso porque buscava descobrir o que a vida ainda esperava dele. Era por isso que, apesar das circunstâncias serem tão difíceis, ele tinha uma meta a alcançar: cuidar de seu irmão e amar a sua mulher.

Se pensarmos a Paixão de Cristo em relação com a logoterapia, descobriremos que o próprio Jesus encontrou o sentido de sua cruz porque também ele tinha um grande objetivo a alcançar: instaurar o Reino de Deus. Essa sua meta lhe mantinha fiel, apesar das duras perseguições de Pilatos e dos sumos sacerdotes. Além do mais, a cruz pesada de Jesus não lhe rouba a possibilidade de futuro, pois foi só por meio dela que se inaugura um novo tempo de esperança para os que pensavam que tudo termina com a morte. A cruz tem sentido porque o Pai nos ressuscita: pela cruz à luz!

Voltando a história de Pedro, ainda temos que desenvolver uma questão fundamental: por que justo ele, que teve toda uma vida dedicada ao outro, sofreu tanto? O seu sofrimento se deve ao pecado humano? Qual seria mesmo a origem do sofrimento? Se você quer descobrir isso, então te convido a ler o próximo capítulo de nossa história.


Pe. Ademir Guedes Azevedo, cp, é missionário passionista e mestre em Teologia Fundamental na Pontifícia Universidade Gregoriana. Atualmente reside em Camaragibe – PE, novo Seminário para a etapa do Postulantado dos Passionistas.

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