“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos. Vós sois meus amigos se fizerdes o que eu vos mando. Já não vos chamo de servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor. Eu vos chamo de amigos porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai” (Jo 15, 13-15)
Mês após mês, na primeira sexta-feira, temos o hábito prazenteiro de nos colocar diante de Jesus, vivo e ressuscitado, contemplado, de modo especial, com seu coração aberto, fonte de um bem querer sem limites. Ora, determo-nos do Coração do Senhor é extasiar-nos diante de seu amor que vai até o fim. Contemplando o peito aberto, vemos a concretização de um louco amor.
>> Jesus, nas páginas dos evangelhos, tem muitos títulos: pastor, caminho, verdade, ungido. Quando nos damos conta do amor de Jesus que dá a vida no alto temos certeza de que ele conquistou um novo título: nosso amigo. Não nos chama de servos, empregados, subalternos, súditos. Quer que sejamos seus amigos. Conquista-nos dando-nos sua vida.
>> Ele vem do Mistério que é uma fornalha de amor. Enviado pelo Pai veio revelar, sussurrar aos nossos ouvidos, as ternuras do Pai. O Jesus do quarto evangelho quer ser o Amigo.
>> Não existíamos. Viemos do nada. Nossos pais se encontraram e nascemos com as marcas do Infinito. Carregamos em nós a imagem daquele nos inventou. Sempre tivemos sobre nós o olhar do Mistério. Chamemo-lo assim de Mistério. Aquele que não sabemos descrever, mas que faz com que em nosso interior haja o palpitar de seu amor. Que vive perto, mais perto de nós do que somos a nós mesmos.
>> Jesus, o revelador, o amigo que segreda intimidade à nossa intimidade, aquele que coloca sede na garganta da mulher da Samaria, pressa nas pernas de Zaqueu, lágrimas benditas nos olhos de Pedro depois da traição, aquele que salva a mulher pecadora das pedras dos falsos justos… Ele vai ajuntando títulos de amor para conosco. Nada de imposição. Ele vai chegando, de seu jeito, hoje como Ressuscitado e vai dizendo que somos seus amigos, mesmo nos momentos de fragilidade, no coração de uma aventura conjugal com luzes e sombras, no tecido complexo da história e da arte de viver. Ele, ressuscitado, é nosso Amigo.
>> “Cristo não é só o Senhor que salva, mas o amigo próximo que compreende e acompanha. A teologia atual sublinha a importância de um Cristo amigo numa época em que não poucos experimentam a solidão existencial. São vários os cristólogos que chamam atenção para esta frase que, segundo Mateus, resume a atuação de Jesus: ‘Não quebrará o caniço rachado, nem apagará o pavio que ainda fumega’” (Mt 12,20) (Pagola, João, p. 160).