Todos os verdadeiros místicos sempre estiveram perto da cruz do Senhor. Não se trata, para eles, apenas de manifestações sentimentais e emotivas. Há como que um impacto que atinge o mais profundo da pessoa. A dor se mistura com o amor na cena do Calvário. Os verdadeiros místicos não são “doloristas”, quer dizer, pessoas doentiamente fixadas no sofrimento. Os que se detêm diante da cruz e do peito aberto de Cristo não podem deixar de amar o amado e, por sua vida, torná-lo amado.
⇒ “Cristo foi verdadeiramente crucificado, verdadeiramente sepultado e ressuscitou Tudo isto foi para nós um dom da graça, a fim de que, participando de sua paixão através do mistério sacramental, obtenhamos na realidade a salvação. Ó maravilha de amor pelos homens! Em seus pés e mãos inocentes recebeu os cravos e suportou a dor e eu, sem dor nem esforço, mas apenas pela comunhão em suas dores recebo gratuitamente a salvação” (Das catequeses de Jerusalém, Lecionário Monastico III, p. 62-63).]
⇒ O místico busca um abrigo no Coração do Redentor: “Minha alma tem sede de Deus, meu Quero ver aquele que sorveu o cálice mais amargo do mundo. Como, efetivamente, deve este cálice ter sido amargo para aquele que era tão puro e tão sensível? Quero beijar estes pés ensanguentados que não pararam de andar sempre à minha busca nos becos sem saída e nos abismos mais profundos onde meus pecados me levaram. Quero ver o lado traspassado daquele que, abrindo seu coração, fez ali um lugar para mim” (Karl Ranher).
⇒ E vejam esta atribuída a São Francisco de Assis: “Senhor meu Jesus Cristo, duas graças te peço que me faças antes que morra: a primeira é que eu sinta no corpo e na alma, quanto for possível, aquelas dores que tu, doce Jesus, suportaste na hora de tua acerbíssima paixão; a segunda é que eu sinta no meu coração, também quanto for possível, aquele excessivo amor do qual tu, Filho de Deus, estavas inflamado para voluntariamente suportar tua paixão, por nós pecadores”.
Frei Almir Guimarães