Os cristãos gostam de refletir sobre a figura de Jesus em todo tempo e em todo lugar. Ressoam sempre aos nossos ouvidos a declaração do Altíssimo feita no momento em que Jesus era batizado no Jordão. Na verdade, faz pouco tempo que ouvimos: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus meu agrado”. Lendo as Escrituras, alimentando encontros pessoais com o Senhor, prestando atenção em seus gritos na voz rouca dos mais abandonados vamos tentando escutar o “Filho amado”. Na primeira sexta-feira de cada mês consagrada, ao Coração do Redentor, procuramos nos aproximar mais e mais daquele que nos amou até o fim.
Precisamente na Festa do Batismo do Senhor, o Lecionário Litúrgico Monástico inseriu uma admirável página sobre Jesus. Trata-se de uma parte de um tratado de Tertuliano (160-220). O tema: “Jamais vemos o Cristo sem a água”. Tertuliano faz inusitadas reflexões sobre o tema. Eis um trecho que nos leva até o peito aberto do Senhor do alto da cruz:
“Quanta graça tem a água junto de Deus e de seu Cristo na instituição do batismo! Jamais vemos o Cristo sem a água! Ele mesmo se deixa batizar na água. Chamado às núpcias, é com ela que inaugura manifestação de seu poder. Quando prega, convida os que têm sede a beber da sua água eterna. Quando fala da caridade, aprova entre as obras de amor o copo d’água oferecido ao próximo. Junto a um poço, restaura suas forças. Caminha sobre a água, atravessando-a livremente. Até em sua paixão prossegue o testemunho do batismo: pois a água está presente – sabem-no as mãos de Pilatos! – quando é condenado à cruz. E ao ser transpassado – bem o sabe a espada do soldado! – jorra a água de seu lado” (Lecionário Monástico I, p. 512-513).
Água… tantas imagens, tantas circunstâncias. Jesus convivendo com as águas. Os corações acendrados e místicos devotam amor ao Coração do Redentor. Fixam-se, de modo especial, nesta imagem joaneica do peito aberto jorrando água, água de vida, água que limpa o pecado, água que purifica as feridas, água que mata a sede, água irriga os corações com o amor do qual ela símbolo saindo do peito daquele que foi somente fonte de amor.
Frei Almir Guimarães