Em Cristo estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência de Deus (Colossenses 2,3)
Não é possível esgotar toda riqueza, profundidade e magnanimidade que se alojam em Cristo Jesus, nosso Mestre e Senhor, aquele que vive e que nos chama. Andamos atrás dele. A convite do Papa Francisco estamos voltando ao Evangelho, à Boa Nova que é ele. Não se conhece a Cristo tão somente pelo estudos, dogmas ou pelo perscrutar de doutrinas. Há um conhecimento sapiencial e místico.
Os tesouros do coração da Redentor se manifestam por sinais e palavras. Há o sinal de seu nascimento simples e singelo. Há posicionamentos límpidos de bondade para os jogados à beira da estrada e por todos os que mostram um coração dilacerado. Há essa atenção aos Zaqueus e Pródigos. Tudo indica, no entanto, que os tesouros mais íntimos de seu bem-querer se revelam em sua entrega na cruz e, ali, em seu peito aberto. O coração do Senhor esconde os tesouros da ciência e sabedoria de Deus.
Caíram sob meus olhos palavras fortes e densas de São João da Cruz. Temos que sair da superficialidade. Não fiquemos repetindo fórmulas por mais belas que sejam a respeito do amor do Senhor. É pouco. “É preciso cavar fundo em Cristo, que se assemelha a uma mina riquíssima, contendo em si os maiores tesouros; nessa mina, por mais que alguém cave em profundidade, nunca encontra fim ou termo. Ao contrário, em toda cavidade aqui e ali, novos veios de novas riquezas”.
Não somos, é claro, homens e mulheres da “religião da sexta-feira das dores e da paixão”. Somos discípulos do Ressuscitado. A cruz e o sofrimento, as labutas vividas por Cristo e por nós não podem, no entanto, deixar de serem levadas em consideração. Por meio dela penetramos mais e mais no mistério do amor de Cristo. Não somos “doloristas”, mas não fazemos economia da estrada da cruz.
Novamente damos a palavra a São João da Cruz: “Quem dera reconhecessem os homens ser totalmente impossível chegar à espessura das riquezas e da sabedoria de Deus! Importa antes entrar na espessura das labutas, suportar muitos sofrimentos, a ponto de renunciar à consolação e ao desejo dela. Com quanta razão a alma, sedenta da divina sabedoria, escolhe antes e verdade entrar na espessura da cruz”.
Nesta reflexão cabe recorrer a outro texto de Paulo. Fala do crescimento do homem interior: “Que Cristo habite pela fé em vossos corações, arraigados e consolidados no amor, a fim de que possais com todos os santos compreender a largura, o comprimento, a altura e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo que supera todo conhecimento para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus” (Efésios 3, 17-19).
Terminemos ainda com São João da Cruz: “Já que a porta por onde se pode entrar até essa preciosa sabedoria é a cruz, e é porta estreita, muitos são os que cobiçam as delícias que por ela se alcançam; pouquíssimos os que por ela desejam entrar”.
Frei Almir Guimarães
Obs.: As citações de São João da Cruz foram tiradas da Liturgia das Horas I, p. 1072-1073.