A primeira sexta-feira do mês de abril neste ano de 2012 coincide com a sexta-feira da Paixão do Senhor. Neste dia contemplamos todas as finezas amorosas do Senhor que dá a vida pelos seus e que tem o coração aberto pela lança. Transcrevemos uma das mais belas páginas de Santo Anselmo que fala das delicadezas do Crucificado.
“Eu te suplico, ó Majestade, ó amor suspenso na cruz! Tu és minha esperança, meu refúgio, minha misericórdia. Tem piedade de mim, e ensina-me a te adorar, a te amar pois é meu desejo te adorar e te amar, embora não saiba como fazê-lo.
Eu te peço, ó Jesus, que ouves os que te amam, pelo amor que manifestaste na cruz pelo homem: faze que eu jamais sinta desgosto ou vergonha de estar diante da tua cruz; mas que minha alma se compraza em permanecer fielmente sob o teu olhar, e que teus divinos olhos se comprazam em me olhar misericordiosamente. Dá-me a força de chorar minha miséria, dá-me o contentamento de ver minha tristeza mudada em alegria.
Eu me lembro de haveres dito a tua mãe quando pendias da cruz: Mulher, eis aí o teu filho! (Jo 19,26). Agora, boníssimo Senhor, dize a teu servo: “Eis aqui teu Deus, teu redentor” E tu, Virgem bendita entre todas as mulheres, dize-me: “Eis aqui meu filho, eis aqui teu salvador”. Pois eu vejo muito bem teu Filho, ó Senhora, deitado no presépio, eu o reconheço ensinando no templo, mas em nenhum outro lugar o conheço com tanta certeza como na cruz. É lá que ele declara: Mulher, eis aí teu filho! É lá, Santa Mãe, que é preciso interceder por mim, pois, dizendo-se teu Filho, ele assume a obrigação de acolher com amor tua prece. Dize-lhe: “Meu filho, um pecador clama por mim! Perdoa seus pecados, pois ele agiu irrefletidamente”. – Sim, Senhor, é verdade. Eu sou culpado e confesso a ti e a tua mãe. Desde a infância tua cruz me é apresentada e eu não soube adorá-la. Tu que triunfas na bondade, perdoa o mal que cometi sem refletir. Tu és a minha verdadeira e única esperança.
Quero sentir o perfume de tua cruz, como o ladrão que disse: Senhor, lembra-te de mim quando entrares em teu reino. O que teus milagres não puderam fazer, tua cruz fez. Ele te conheceu com maior certeza e mais perfeitamente sobre a cruz do que na pregação e nos milagres. Ó poder da cruz, ó triunfo do crucificado! Desde que viu o madeiro, o homem reconheceu o teu reino. Vendo-te crucificado, compreendeu que eras rei. Ó perfume da cruz que dissipas as dúvidas! Senhor! – exclama o ladrão, vendo com seus olhos o preço com que Deus o resgatou.
Mas, boníssimo Senhor, que respondeste ao ladrão suplicante? – Hoje estarás comigo no Paraíso (Lc 23,43). Ó meu rei, os cravos te atravessam e tu prometes o Paraíso! Ó desejo das almas, onde é o Paraíso? Será que o Paraíso está contigo? Que o Paraíso é lá onde queres? Sim, eu sei, o Paraíso és tu, que o prometes com tanta certeza. Eu creio, Senhor, eu creio sem reserva que o Paraíso é lá onde queres, lá onde estás. Estar contigo, eis o Paraíso. Hoje é o dia da cruz e o dia da eternidade, contigo o reino. Felizes os que estão contigo no Paraíso, pela fé e pelo amor”.