Frei Almir Guimarães
O Papa Francisco tem insistido muito no tema da misericórdia. Em suas homilias e intervenções não cessa de voltar ao assunto. Quando falamos em misericórdia pensamos nas posturas delicadas, carinhosas de Jesus em seu modo de agir: proximidade do que é frágil, um voltar-se interior para os que estão sem ânimo, jogados à beira do caminho, viúvos, órfãos, cegos, rejeitados, pecadores. Contemplamos sempre a paisagem da cruz: o mais belo dos filhos dos homens tendo seu peito aberto, seu coração exposto, para dizer que não existe maior amor do que dar a vida pelos seus, que o sentido de nossa vida é dar vida, semear vida, ter um coração aberto para os outros, alimentar com a água do Coração de Jesus todos esses. Os que estão jogados à margem da vida necessitam do coração daqueles que são tocados pelo amor do Coração do Redentor. O Coração aberto de Jesus sobre a cruz pede que nosso coração continue a manifestar amor.
São muitos os que estão jogados à beira da vida: crianças que não têm pai e mãe valentes, unidos, amorosos; velhos jogados em fétidos hospitais; mulheres mal amadas por seus maridos e exploradas pela vida; presidiários que já deveriam estar em liberdade; moços e moças homoafetivos que são rejeitados e mortos; seres da era digital que são incapazes de fazer uma viagem à sua interioridade; homens e mulheres macerados pelo trabalho sem sonhos, sem lazer, sem esperança. O Coração de Jesus se volta para esses todos através de cada um de nós.
Agir com misericórdia e bondade! Este o convite do Coração aberto de Jesus a cada um de nós.
Transcrevemos duas reflexões sobre a misericórdia que nos falam muito do jeito de praticar a bondade para com os outros:
Senhor, se eu tivesse entranhas de misericórdia…
sairia de minha casa para encontrar-me com os necessitados;
de minha apatia para ajudar os que sofrem;
de minha ignorância para conhecer os ignorados;
de meus caprichos para socorrer os famintos;
de minha atitude crítica param compreender os que falham;
de minha suficiência para estar com os incapazes;
de minhas pressas para dar meu tempo aos abandonados;
de minha preguiça para ajudar os cansados de gritar;
de minha burguesia para compartilhar com os pobres.Quero crer, Senhor,
que o grande é pequeno,
que o último é o primeiro;
que o pobre é o preferido,
que o insignificante é que conta para ti.
Quero crer isto, mas me custa,
porque eu mesmo não vejo
que importem tantas crianças sem hoje.
O mundo pode passar sem elas
e sem notar sua falta.
Senhor, dize-me que a ti te importam, por favor!Nota: As duas orações acima transcritas são de F. Ulibarri, citadas por José A. Pagola em Grupos de Jesus, Vozes, p. 184-185.