Somos sempre convidados e convocados a contemplar o amor do Senhor que vai até o fim no seu abandono-entrega no alto da cruz. Aos passantes pelo caminho, o Coração do Redentor poderia dizer mais ou menos o seguinte:
“Pediria, homem, um instante de tua atenção. Por favor. Aqui estou eu. Venho do Pai, vim beber da água das fontes, comer dos frutos da terra, conviver com pessoas, afirmar por palavras e gestos que o Pai quer todo o bem possível a vocês que passam, que circulam pelos caminhos da vida. Por favor, prestem atenção!
Não tenho beleza, nem formosura. Compreendo que muitos desviem o rosto do meu semblante, experimentando repugnância, diante de tanta feiura. Um soldado tocou meu peito, como que expôs meu segredo, o segredo de meu coração. Ali estou eu, na minha verdade, eu que convivo com o Pai, que venho do Pai e que vim nesta terra dos homens. Vim para amar e ensinar a amar, a fazer com que as pessoas tenham certeza que a vida tem sentido, que o Pai ama a todos, que a vida é um canto de amor, de serviço, de busca carinhosa dos mais desalentados e abandonados. Por meus gestos e por minhas palavras mostrei que meu Pai semeia a boa semente, que é o Pastor que busca as ovelhas no abismos do desespero, da droga, da mentira, da maldade. Contei parábolas e enxuguei lágrimas, abri os olhos dos cegos e fortaleci as pernas e joelhos dos fracos. Que mais poderia ter feito? Dize em que te contristei?
Agora estou aqui. O soldado acaba de tocar meu peito com a lança. Por meio desta janela vocês podem ver que me esvaziei, que inventei um ninho para abrigar as pessoas perdidas, que desta fissura do peito sai a água que lava e o sangue que alimenta”.
“A devoção ao Coração de Jesus nada nos ensina a partir do exterior, cada um deve, fazendo confiança na Igreja e em seu Espírito, tentar aproximar-se de seu mistério: nas horas luminosas e nas horas sombrias, dever-se-á murmurar esta prece: Coração de Jesus, tem piedade de mim!” (Karl Ranher).
Frei Almir Guimarães