Estamos convencidos que o cultivo da fé ao longo da vida é de fundamental importância. Necessitamos de cristãos maduros. Um dos ministérios mais fundamentais e indispensáveis para o robustecimento da comunidade dos discípulos do Senhor é certamente o da formação cristã de cada discípulo. Pensamos aqui, de modo particular, na atividade da catequese. Não apenas na catequese de crianças, mas no fortalecimento e esclarecimento da fé de jovens e de adultos. Uma comunidade de cristãos adultos cuida muito da preparação de seus catequistas. Aqui queremos simplesmente traçar o perfil do catequista.
Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
Petrópolis, RJ
1. “A catequese não pode se limitar a uma formação meramente doutrinal, mas precisa ser uma verdadeira escola de formação integral. Portanto, é necessário cultivar amizade com Cristo na oração, o apreço pela celebração litúrgica, a experiência comunitária, o compromisso apostólico mediante um permanente serviço aos demais” (Doc. de Aparecida, n.299). Abrimos esta reflexão com este texto do Documento de Aparecida. Os catequistas colocarão em prática o que vem descrito: amizade com Cristo na oração, vivência do amor na comunidade e na celebração litúrgica, engajamento apostólico e missionário.
2. O catequista é, antes de tudo, um discípulo de Jesus. Espera-se dele que sempre tenha a cuidado de conviver com o Mestre já que sua missão é torná-lo conhecido e amado. Sendo formador de discípulos normal que tenha especial cuidado em ser discípulo. Será constante ouvinte da Palavra, saberá discernir a Presença do Senhor agindo nos catequizandos e na comunidade dos fiéis, na celebração digna dos sacramentos e nos sinais dos tempos.
3. Para ele são dirigidas estas palavras que o Papa Francisco escreveu na sua Exortação “A alegria do Evangelho”, já que o catequista respira a alegria de ser missionário: “O verdadeiro missionário, que nunca deixa de ser discípulo, sabe que Jesus caminha com ele, fala com ele, respira com ele, trabalha com ele. Sente Jesus vivo com ele, no meio da tarefa missionária. Se uma pessoa não o descobre presente no coração mesmo da entrega missionária, depressa perde o entusiasmo e deixa de estar seguro do que transmite, falta-lhe força e paixão. E uma pessoa que não está convencida, entusiasmada, segura, enamorada, não convence ninguém” (n.266).
4. O catequista não exerce seu ministério em busca de prestígio. Sua função é, realmente, um serviço prestado à Palavra e aos que precisam iluminar suas vidas com essa Luz que precisa atingir o mais íntimo da pessoa. O catequista sabe perfeitamente que sua missão será de fazer o melhor que puder e assim deixar Deus agir nos noivos que se preparam para o casamento, nos jovens que buscam ser crismados, nos envelhecidos que buscam preparar-se para o encontro com a Irmã Morte. Sempre servidores.
5. Exerce seu ministério com outros servidores: é colaborador do Bispo em sua missão de educador da fé, dos padres que animam e organizam a catequese em suas paróquias e comunidades e principalmente das famílias que são as primeiras evangelizadoras e catequistas dos filhos. De fundamental importância é a criação de uma verdadeira comunidade de catequistas. Não se reúnem eles apenas para traçar estratégias de ação, mas partilham sua vida de ministros das coisas de Deus. Nas paróquias precisa existir uma “comunidade de catequistas”.
6. O catequista, necessariamente, será alguém inserido na comunidade. Não é um professor de religião. Tem a convicção muito profunda de que o Cristo que anuncia está presente, de modo muito particular, na vida, nas alegrias, nas preocupações, nas inquietações e dores da comunidade. Sente-se imerso na comunidade onde está presente o Ressuscitado.
7. Trata-se de uma pessoa de olhos abertos. “Não cobre o sol com a peneira”, nem alimenta um “angelismo”. Vive uma espiritualidade encarnada. Mística, sim, no bom sentido, ou seja, de grande proximidade com Deus. O catequista não é propagandista de visões particulares. Vive no mundo envolvo nos desafios: indiferença da parte de muitos para com as coisas de Deus e do Evangelho, pragmatismo, mundo das coisas provisórias, sentimento religioso vago, dificuldade de contar com as famílias em sua tarefa. Se de um lado o catequista adestrará seus ouvidos para captar os sons da Palavra de Deus, de outro ouve também o ranger das engrenagens da história.
8. Assim, o catequista é pessoa que tem senso ou espírito crítico. Não “vai na onda”. Não aceita modismos. Não se contenta com o superficial e “novidadoso”. Tudo faz passar pelo senso crítico: trabalho, relacionamentos, dinheiro, trabalho, política, sexualidade, casamento e família. A tudo ilumina com a claridade do Evangelho sem floreios. Ele exala o perfume do Evangelho: sinceridade sem limites, esforço, passagem pela porta estreita, respeita os direitos de todos, perdoa, acolhe, não exclui, tem sede de Deus, gosta de rezar no quarto, dá sem esperar recompensa. Sim, os que anunciam o Evangelho e formam as pessoas na fé revestem-se do Evangelho.
9. O catequista não é pessoa angustiada. Também não é ingênuo. Conhece os desafios que nossos tempos colocam diante de sua atividade. Precisa aceitar uma certa “desorientação” de não ter respostas para todas as questões. Aceita o exercício do ministério sem estresse. Sabe que cada dia tem seu peso, que um é o que semeia e outro o que colhe. Sabe que as sementes lançadas levam tempo para germinar. Faz o seu dever como se tudo dependesse dele sabendo que tudo depende da ação de Deus e da abertura do coração dos ouvintes. O último resultado da catequese foge de suas mãos.
10. O catequista é alguém que cria condições para que a mensagem seja acolhida. A adesão ao que anuncia e proclama o catequista é fruto da graça e da liberdade de cada um. O catequista sabe que Deus precisa dele, mas não tem domínio sobre o Espírito que sopra onde quer. Assim, o catequista não dificultará a ação do mesmo Espírito. Não pode querer fazer do catequizando aquilo que ele, catequista, é. Cada pessoa tem sua maneira de viver a fé, seus costumes e suas tradições e devoções. Ninguém pode prender ninguém a si. O catequizando crê com e não como o catequista.
11. Conhecemos todos a situação plural vivida em nossos tempos. Os catequizandos tiveram ou não tiveram uma família como sustentáculo de sua vida e da construção de seu projeto de vida, viveram ou não viveram experiências de fé, são profunda ou levemente marcados pelos ares dos tempos. Por isso, o catequista será uma pessoa profundamente acolhedora. Todos precisam ser bem acolhidos. Não se trata apenas de uma questão de fineza no receber as pessoas, mas de tentar apreender, compreender quem é outro, aquilo que vem do outro, as possibilidades que afloram no outro. Não se trata apenas de receber bem, mas de pedir licença de entrar no mundo do outro.
12. O catequista é alguém que busca personalizar os relacionamentos. O Evangelho nos mostra, muitas vezes, Jesus dirigindo-se às multidões. De outro lado, vêmo-lo entabolando diálogos personalizados entre um “eu” e um “tu”. Conhecemos os diálogos “personalizados” com a mulher de Samaria, com Zaqueu, o jovem rico e Nicodemos entre tantos outros. Parece importante que o evangelizador, o missionário e o catequista acompanhem respeitosamente o caminhar dos catequizandos com diálogos deste tipo. O catequista passa a ser um companheiro.
13. Lembremos algumas qualidades humanas do catequista: pessoa psicologicamente equilibrada, que sabe assumir compromissos, que trabalhe em equipe, que exerça uma certa liderança na comunidade. Será pessoa com espírito criativo, sem favorecer estado generalizado de dispersão.
14. Terminamos esta reflexão com observações do Diretório Geral para a Catequese: “A formação dos catequistas compreende diversas dimensões. A mais profunda se refere ao próprio ser do catequista, a sua dimensão humana e cristã. A formação deve, de fato, ajudá-lo a amadurecer, antes de mais nada como pessoa, como fiel e como apóstolo. Depois há o que o catequista deve saber para cumprir bem a sua tarefa. Esta dimensão, permeada pela dúplice fidelidade à mensagem e ao homem, requer que o catequista conheça adequadamente a mensagem a transmitir e, ao mesmo tempo, o destinatário que a recebe, além do contexto social em que vive. Enfim, há a dimensão do saber fazer, já que a catequese é um ato de comunicação. A formação tende a fazer do catequista um educador do homem e da vida do homem” (n. 238).