Quem somos - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Carta do Ministro Geral por ocasião do Dia Mundial dos Pobres

29/10/2021

                                                                                                                Imagem: Frei Dito (Acervo Província)

18 de outubro – Festa de São Lucas evangelista

– Aos Ministros provinciais, aos Custódios e aos Presidentes das Fundações

– A todos os Frades da Ordem dos Frades Menores

Caros Irmãos,  o Senhor lhes dê a paz!

No dia 14 de novembro próximo, se celebra a V Jornada Mundial dos Pobres, e exatamente dois dias antes, sexta-feira, 12 de novembro, o Papa Francisco será peregrino na Porciúncula, na Basílica de Santa Maria dos Anjos, para encontrar 500 pobres provenientes de diversas partes da Europa, para escutá-los e dialogar com eles. O Senhor Papa dá-nos ainda testemunho de um gesto muito eloquente.

Estarei presente com outros irmãos neste momento. Estarei lá em nome de todos vocês.

Recebida a notícia desta visita, juntamente com uma grande alegria, senti por todos nós, frades, a forte provocação de um gesto que será realizado exatamente no lugar onde todos nós nascemos.

O Papa não se limita a escrever uma mensagem, mas encontra a carne, o próprio corpo dos pobres, que é sacramento de Cristo, que por nosso amor se fez pobre e quis identificar-se com eles.

Na memória, voltei às palavras de São João XXIII, terciário franciscano, que um mês antes da abertura do Concílio, disse com espírito profético:

A Igreja apresenta-se como ela é e quer ser, como Igreja de todos, particularmente a Igreja dos pobres.

(Radiomensagem aos fiéis de todo o mundo, 11 de setembro de 1962)

Esta consciência da Igreja de cada tempo encontra uma testemunha extraordinária em São Francisco, como nos recordou o Papa em sua Mensagem ao nosso recente Capítulo Geral:

Renovar a própria visão: é isto que aconteceu ao jovem Francisco de Assis. Ele próprio o atesta, contando a experiência que, no seu Testamento, ele coloca no início da própria conversão: o encontro com os leprosos, quando “aquilo que era amargo se lhe transformou em doçura de alma e de corpo” (Test 1-4). Na raiz da vossa espiritualidade está este encontro com os últimos e com os sofredores, no sinal do “fazer misericórdia”. Deus tocou o coração de Francisco através da misericórdia oferecida ao irmão e continua a tocar os nossos corações através do encontro com os outros, sobretudo com as pessoas mais necessitadas. A renovação da nossa visão só pode partir de novo deste olhar novo com o qual contemplar o irmão pobre e marginalizado, sinal, quase sacramento da presença de Deus. Deste olhar renovado, desta experiência concreta de encontro com o próximo e com as suas chagas pode nascer uma renovada energia para olhar para o futuro como irmãos e como menores, como vocês são, segundo o belo nome de “frades menores” que São Francisco escolheu para si e para vocês.

Pergunto-me, na escuta da minha consciência e da voz do Senhor, o que faço com cada um de vocês:

– Até que ponto sou consciente de que o encontro com os pobres está no coração da minha vida de frade menor nos passos de Jesus, “Ele que era rico acima de todas as coisa e quis neste mundo, juntamente com a beatíssima Virgem, escolher a pobreza” (2Fi 5)?

– Quantos momentos e ocasiões de encontro, de partilha tive com pobres concretos? Sinto que isto me “perturbou” e recolocou no caminho? Ou não?

– Muitas vezes não me defendo, pensando que esta seja uma dimensão muito social e pouco religiosa? Mas, segundo a palavra dos profetas nas Escrituras, os pobres não são talvez o espelho no qual vemos se ainda somos crentes? Deus os amou e quis que o seu Filho fosse um deles. O mesmo vale para os apóstolos e para tantos amigos do Senhor ao longo da história, não últimos São Francisco e Santa Clara e Santa Isabel. Poderá o encontro com o rosto real de alguns pobres e sofredores concretos, com o odor, com a sua presença muitas vezes desagradável, com as perguntas que nos fazem, poderá finalmente mover-nos e comover-nos? Induzir-nos à conversão? Fazer-nos sair das nossas tocas, frequentemente muito cômodas?

Por isso, como ministro e servo de vocês e em comunhão com o Definitório geral, por meio desta carta, amadureci na oração a ideia de pedir a todos os Frades da Ordem e às diversas fraternidades do mundo que se realize no mês de novembro pelo menos um momento concreto de encontro com os pobres. Não sozinhos, mas como fraternidade, ao menos dois a dois (cf. Lc 10, 1), para buscar um simples encontro de presença, proximidade e serviço com algum deles, para bater à porta deles, como escreveu o Santo Padre na sua Mensagem para esta V Jornada. Ouçamo-lo:

Não podemos esperar que os pobres batam aa nossa porta, é urgente que os alcancemos nas suas casas, nos hospitais e nas residências de assistência, pelas estradas e nos cantos escuros onde às vezes se escondem, nos centros de refúgio e de acolhimento… É importante compreender como se sentem, o que experimentam e quais desejos eles têm no coração. Fazemos nossas as palavras de Dom Primo Mazzolari: “Eu gostaria de pedir-vos para não perguntar se há pobres, quem são e quantos são, porque temo que semelhantes perguntas representem uma distração ou o pretexto para escapar de uma precisa indicação da consciência e do coração. […] Eu nunca contei os pobres, porque não se podem contar: os pobres se abraçam, não se contam” (“Adesso” n. 7 – 15 de abril de 1949). Os pobres estão no nosso meio. Como seria evangélico se pudéssemos dizer com toda a verdade: também nós somos pobres, porque só assim conseguiremos reconhecê-los realmente e fazer com que eles se tornem parte de nossa vida e instrumento de salvação.

No Capítulo geral, nós nos interrogamos de novo sobre a nossa identidade e a reconhecemos na fraternidade e na minoridade. Podemos discutir longamente e encontrar-nos sempre no mesmo ponto.

Estou e estamos felizes pela presença do Santo Padre na Porciúncula: certamente é uma honra àquele lugar e a todos nós e, ao mesmo tempo, nos impulsiona a sair de nós mesmos e das nossas casas e atividades ordinárias ao encontro dos pobres, e descobrir que a nossa identidade está ali, nos espera, nos dá nova luz, é possível vivê-la hoje com alegria, também no meio das fadigas.

Creio que a todos nós é possível um passo do gênero: aos ministros e a todos os irmãos, aos jovens como aos anciãos, aos frades empenhados na pastoral como aos que estudam, aos noviços e candidatos à vida franciscana como aos seus formadores, aos evangelizadores como aos missionários, a todos os que se sentem firmes na vocação e aos que se fazem tantas perguntas e talvez olhem além.

Isto, porque encontrar os pobres não é uma atividade nem uma ideologia? É uma porta de misericórdia, sempre aberta. Escolhamos atravessá-la juntos, e creio que virá ao nosso encontro uma grande surpresa do Espírito, um importante novo início na nossa vida evangélica. Não importa quão santos ou pecadores sejamos: os pobres acolhem aquele pobre que está em cada um de nós, reconhecem-no e, se nos aproximar-nos deles sem arrogância ou temor, nos ajudam, são eles a fazernos caminhar e a sustentar-nos.

Se o Papa Francisco sonha com uma Igreja dos pobres, eu sonho que na nossa Fraternidade universal saibamos redescobrir e deixar-nos encontrar pelo rosto dos pequenos e dos pobres, com os seus nomes e condições diversas. Creio que, deste encontro vivido a partir de dentro de nossa vocação, nós, frades, receberemos a graça e ainda poderemos escolher de novo tornar-nos novamente pobres, revendo a nossa relação com as coisas, com o dinheiro, com o poder e com os afetos. Deus sabe quanto precisamos disso, para não extinguir-nos em uma vida muito cômoda e garantida, tão distante da condição dos pobres, de modo a não fazer-nos mais sentir a sede de Cristo e de uma humanidade viva e genuína, capaz de gastar-se.

“Os pobres são nossos mestres” (CCGG 93,§ 1): deixemo-nos evangelizar por eles O Senhor espera-nos junto deles e está pronto a presentear-nos com grandes surpresas. Deixemos com que ele o faça, irmãos amados no Senhor, não oponhamos resistência a este desejo, a este sopro do carisma que o Espírito ainda suscita com uma força que nós, sozinhos, não sabemos encontrar. Peço e pedimos a todos por isto.

Peço-lhes em nome de São Francisco: façamos esse passo em direção aos pobres no mês de novembro e ficaremos surpresos! O Senhor precede-nos e espera-nos neste caminho: escolhamos um gesto, andemos a uma casa, a um abrigo, uma enfermaria dos frades doentes, um cárcere, um hospital, um centro de migrantes, uma periferia, uma comunidade de acolhimento e tantos lugares ainda, para visitar Cristo nos seus vigários, os pobres. E deixar-nos encontrar por ele, que quer ainda atrair e acender a nossa vida.

De boa vontade receberei, de quem de vocês que o quiser, uma restituição, um pequeno relato deste encontro com alguns pobres, sobre como isso manteve viva a chama da fé e da vocação: poderemos começar a narrar e escrever o traço da vida franciscana que nos é dado e pedido para este nosso tempo, de modo a poder transmiti-lo, com a vida e com a palavra, à próxima geração.

O Senhor nos abençoe, e São Francisco sustente, neste tempo abençoado e difícil, o nosso desejo de uma nova partida na vocação como irmãos, menores e pobres, à busca do rosto do Senhor nas estradas dos homens e das mulheres de hoje, capazes de encontro e de testemunho.

Abraço-os com grande afeto e fraternidade

seu ministro e servo

Premium WordPress Themes Download
Download Nulled WordPress Themes
Download Premium WordPress Themes Free
Download WordPress Themes
free download udemy paid course
download intex firmware
Download Best WordPress Themes Free Download
online free course

Conteúdo Relacionado