Um mês com o Papa Francisco
18/04/2013
Passou um mês desde a eleição para a Cátedra de Pedro do Cardeal Jorge Mário Bergoglio. Desde os primeiros momentos do seu pontificado, o Papa Francisco conquistou fiéis e não-fiéis com a sua simplicidade, a sua ternura, a sua espontaneidade. Algumas das suas palavras, bem como alguns dos seus gestos, já fazem parte da memória coletiva.
Abaixo, a crônica Alessandro Gisotti (intitulada “A força da ternura”), publicada no site Rádio Vaticano.
Um mês apenas com o Papa Francisco e, no entanto, parece que esteve sempre conosco. Aquele “boa noite” dirigido aos fiéis poucos minutos depois da eleição e que tanto tinha espantado pela sua surpreendente simplicidade tem agora o sabor da familiaridade para todos, e não apenas para os fiéis de Buenos Aires, que ao longo dos anos aprenderam a conhecer e a amar o estilo simples, humilde – numa palavra, evangélico – do seu pastor. Bispo e povo, precisamente. Um binômio que Francisco quis imediatamente sublinhar ao aparecer na Varanda central da Basílica do Vaticano, na noite de 13 de Março. Povo ao qual o novo bispo de Roma, de forma inédita, pediu para rezar, inclinando-se para receber também ele, antes de mais, a bênção de Deus invocada pelos fiéis.
“E agora, gostaria de dar a bênção, mas antes… antes peço-vos um favor: antes de o bispo abençoar o povo, peço-vos que rezeis ao Senhor para que Ele me abençoe: a oração do povo que pede a bênção para o seu bispo. Façamos em silêncio esta oração de vós sobre mim”. (13 de Março 2013)
No dia após a eleição, como tinha anunciado aos fiéis, o Papa Francisco foi logo de manhã à Basílica de Santa Maria Maior, para prestar homenagem à Virgem. O novo Bispo de Roma levou flores à Virgem Maria. Um gesto que evoca firmemente a dimensão mariana de Jorge Mário Bergoglio. Nesse mesmo dia, de tarde, a primeira missa celebrada como Papa, na Capela Sistina, juntamente com aqueles que ele chama “irmãos cardeais”. Papa Francisco centra a homilia sobre três palavras, três verbos: caminhar, edificar, confessar. No centro destas ações que caracterizam a vida de discípulos de Cristo, é a sua advertência, há de estar sempre a Cruz:
“Quando caminhamos sem a Cruz, quando edificamos sem a Cruz e quando confessamos um Cristo sem Cruz, não somos discípulos do Senhor: somos mundanos, somos bispos, padres, cardeais, papas, mas não discípulos do Senhor”. (Missa Pro Ecclesia, 14 de Março)
De novo, aos cardeais, recebidos em audiência no dia seguinte, 15 de Março, o Papa exorta com força a não ceder “ao pessimismo”, à amargura que o “diabo nos oferece todos os dias”. Não devemos ceder ao pessimismo, observa ele, porque “o Espírito Santo dá à Igreja, com o seu sopro poderoso, a coragem de perseverar e de procurar também novos métodos de evangelização”. Nos próximos dias de pontificado, parece a todos natural pensar que o nome escolhido pelo Papa está ligado a São Francisco de Assis. Um pensamento que ele mesmo confirma no encontro com os jornalistas de todo o mundo na Sala Paulo VI. O Santo Padre confia algumas emoções vividas no Conclave e em particular recorda o convite do Cardeal brasileiro Cardeal Hummes a não esquecer os pobres: “Não te esqueças dos pobres!’. E aquela palavra entrou aqui: os pobres, os pobres. Depois, imediatamente em relação aos pobres, pensei em Francisco de Assis.. E’ o homem que nos dá este espírito de paz, o homem pobre … Ah, como gostaria de uma Igreja pobre e para os pobres”. (Audiência aos Jornalistas, 16 de Março)
O primeiro domingo como Papa é vivido por Francisco como um “dia normal”. E’ um sacerdote, um bispo e, portanto, celebra Missa na paróquia de Sant’Ana, no Vaticano. À saída, entre alegria e espanto, saúda um a um os participantes da assembleia e mesmo os muitos fiéis concentrados fora da porta. É o primeiro banho de multidão para o papa Francisco, um pastor que não quer subtrair-se ao abraço dos seus fiéis. E que entra na lógica da Misericórdia, no DNA de Jorge Mário Bergoglio, como se pode perceber também pelo seu lema episcopal, Miserando atque elegendo.. Não é de estranhar, portanto, que no primeiro Angelus perante uma Praça de São Pedro superlotada, ele fale exatamente do amor de Deus que nunca se cansa de perdoar: “Ele, nunca se cansa de perdoar, mas nós, por vezes, cansamo-nos de pedir perdão. Nunca nos cansemos, nunca nos cansemos! Ele é o Pai amoroso que perdoa sempre, que tem um coração de misericórdia para todos nós. E também nós aprendamos a ser misericordiosos para com todos”. (Angelus, 17 de março)
Passam dois dias e a Praça de São Pedro enche-se novamente, desta vez, não apenas de simples fiéis mas também de chefes de Estado e líderes religiosos, entre os quais o Patriarca Ecumênico Bartolomeu I. É 19 de março, festa de São José, Padroeiro da Igreja universal, e o Papa Francisco celebra missa para o início do seu ministério petrino. O Papa percorre várias vezes a Praça a bordo de um jeep descoberto, parando aqui e além para saudar os fiéis, para beijar as crianças. Vai ao encontro dos doentes, dos que sofrem, das pessoas com deficiência: abençoa, abraça. O abraço amoroso de um pai aos filhos que mais necessitam. A escutar o 266° (ducentésimo sexagésimo sexto) Pontífice estão, portanto, os poderosos da Terra, mas Francisco quis perto de si também os últimos, como um representante dos “cartoneros” de Buenos Aires. Da homilia, centrada no tema do “guardar”, o próximo e a criação, permanecerá na memória a passagem do poder como serviço: “Nunca nos esqueçamos que o verdadeiro poder é o serviço e que também o Papa para exercer o poder deve entrar cada vez mais naquele serviço que tem seu vértice luminoso na Cruz”. (Missa para o Início do pontificado, 19 de Março)
E um dos serviços que o Papa pode fazer à humanidade é ser construtor de pontes, pontífice precisamente, e promotor da paz. São Francisco é o homem do diálogo e o Papa que foi o primeiro a adotar este nome, quer situar-se na esteira do Pobrezinho de Assis, como dirá aos embaixadores de todo o mundo, na audiência ao Corpo diplomático acreditado junto da Santa Sé : “Desejo mesmo que o diálogo entre nós ajude a construir pontes entre todos os homens, para que cada um possa encontrar no outro não um inimigo, não um concorrente, mas um irmão a acolher e a abraçar”. (Audiência ao Corpo Diplomático, 22 de Março)
No dia seguinte, um evento que entra nos livros de história: Francisco desloca-se a Castelgandolfo para se encontrar com Bento XVI. Pela primeira vez um Papa abraça um Papa emérito. E’ o abraço entre dois “irmãos”, como Francisco sublinha num momento de grande emoção. Significativamente, este evento único ocorre na véspera da primeira Semana Santa celebrada pelo novo bispo de Roma. No dia 24 de Março, Domingo de Ramos, um sol tépido ilumina os mais de 200 mil fiéis reunidos na Praça de São Pedro para a Missa. Muitíssimos os jovens presentes. Também a eles, o Santo Padre dirige palavras de encorajamento: “E por favor, não deixeis que vos roubem a esperança! Não deixeis que roubem a esperança! Aquela que nos dá Jesus”. (Domingo de Ramos, 24 de Março)
Na Quinta-feira Santa o Papa reitere pessoalmente esta exortação aos jovens internados da prisão romana de Casal del Marmo. O Papa Francisco lava os pés a 12 deles, incluindo duas jovens. A estes jovens, leva “a carícia de Jesus,” a misericórdia de Deus que nunca se cansa de perdoar. Antes desta Missa in Coena Domini, celebrada na Prisão de Menores, de manhã o bispo de Roma tinha celebrado a Missa Crismal com os sacerdotes da sua diocese. Na homilia, o convite aos sacerdotes (romanos, e não só), para saírem de si próprios e irem para as periferias, físicas e existenciais, onde o povo mais sofre. Um pastor, adverte, não pode não conhecer as suas ovelhas: “Isto eu vos peço: sede pastores com o odor das ovelhas, pastores no meio do próprio rebanho, e pescadores de homens”. (Missa Crismal, 28 de Março)
E um pastor, na verdade qualquer cristão – recorda o Papa na sua primeira Via Sacra no Coliseu – deve saber que a “Cruz de Jesus é a Palavra com a qual Deus respondeu ao mal do mundo”. Eis donde nasce a esperança do cristão, proclama com força no Domingo de Páscoa: do amor de Jesus que venceu a morte. Passaram menos de três semanas depois da eleição e o Papa Francisco volta a aparecer na Varanda central da Basílica Vaticana. “Cristo ressuscitou”, anuncia com face cheia de alegria. E na mensagem pascal, incentiva a todos, “em Roma e no mundo”, a deixarem-se transformar por Jesus: “Deixemo-nos renovar pela misericórdia de Deus, deixemo-nos amar por Jesus, deixemos que o poder do seu amor transforme também a nossa vida; e tornemo-nos instrumentos desta misericórdia, canais através dos quais Deus pode irrigar a terra, guardar a criação e fazer florescer a justiça e a paz”. (Bênção Urbi et orbi, 31 de março)
Antes da Bênção Urbi et Orbi, o Papa Francisco tinha dado diversas voltas à Praça de São Pedro a bordo do jeep para saudar a maior número possível de fiéis. Muitas as crianças que o Santo Padre beija e abençoa, como vai acontecer em cada uma das audiências gerais. Comovente o abraço prolongado que reserva a um jovem deficiente. Imagem que é já um símbolo do pontificado.
Entre os gestos que chocam, nestas primeiras semanas, está também a decisão do Papa de ficar a residir na Casa Santa Marta. Todas as manhãs, o Santo Padre celebra Missa na Capela. As homilias são sintetizadas pela nossa emissora, e assim os fiéis de todo o mundo podem ter o comentário do Papa ao Evangelho do dia. Ecumenismo, empenho pelos pobres, impulso para a nova evangelização: estão entre os temas que o novo Papa coloca no centro do seu ministério, já no primeiro mês. Entre estes, destaca-se também a importância que o Papa atribui aos leigos e em particular às mulheres. Na audiência geral de 3 de Abril, entre os aplausos da Praça, o Papa Francisco elogia o gênio feminino ao serviço do Evangelho: “E isto é belo, e isto é um pouco a missão das mulheres, das mães, das avós. Dar testemunho aos filhos, aos netos, que Jesus está vivo, é o Vivente, ressuscitou. Mães e mulheres, para frente com o testemunho!” (Audiência Geral, 3 de Abril)
“Para frente com este testemunho”. Uma exortação que, com palavras diferentes mas com o mesmo espírito, o Papa Francisco repete no Domingo dia 7 de Abril, quando no Regina Caeli na Praça de São Pedro, recorda o Beato Wojtyla na exortação aos fiéis a não terem medo de proclamar Jesus e levá-lo até mesmo às praças entre as pessoas. E uma Praça o espera ansiosa logo nesse dia à tarde. E’ a Praça São João de Latrão, repleta de fiéis para a tomada de posse da Basílica de Latrão, Cátedra de Bispo de Roma. Bispo e povo: o binômio com o qual se se tinha apresentado ao mundo na noite de 13 de março, soa novamente com grande força na saudação que Papa Francisco dirige aos romanos: “E vamos para a frente todos juntos, o povo e o bispo, todos juntos, sempre para frente com a alegria da Ressurreição de Jesus: Ele está sempre ao nosso lado”. (Missa em São João de Latrão, domingo 7 de Abril).
Fonte: Rádio Vaticano