Terra Santa: fraternidade, convivência e aceitação
09/02/2019
O Terra Sancta College foi a primeira escola fundada em Belém e, sem dúvida, é uma das primeiras da região. Está ativa desde o século XVI, graças à Ordem dos Frades Menores, que iniciou suas atividades educativas na cidade de Belém com dois objetivos: ensinar às crianças os princípios do cristianismo e fomentar o ensino de línguas estrangeiras, mais precisamente o Inglês e o Italiano, oferecendo a elas a possibilidade de uma vida diferente. Hoje, a escola tem cerca de 1.800 alunos, dos quais 62% cristãos e um pouco mais de 38% muçulmanos. Estes números representam a composição social da cidade de Belém e constitui um exemplo da missão desempenhada pelos franciscanos, que garantem instrução sem nenhuma discriminação.
“Somos todos um, somos irmãos e irmãs”, disse a professora Lina Deklallah, que leciona inglês e islamismo: “Este projeto nos ajuda a recordar isso. O Terra Sancta College de Belém representa diariamente o encontro de São Francisco e o Sultão: nós não nos sentimos diferentes”, diz. O projeto, iniciado em janeiro de 2019, possui diversos objetivos: aumentar a consciência da importância da paz, da convivência e a aceitação do diferente; melhorar a ideia de formação interativa, expressa nos workshops desenvolvidos pelos estudantes, tanto entre eles quanto com os professores; publicar uma declaração de fraternidade, convivência e aceitação a ser distribuído fora do ambiente escolar para servir de exemplo à sociedade. “Acredito que este tipo de projeto contribua para manter a nossa comunidade unida”, comentou Nader Madbouh, um dos estudantes envolvidos. “Especialmente neste momento de particular dificuldade econômica e política. Temos muitos motivos para deixar o país, mas se tivermos consciência de quem somos, poderemos continuar a viver em paz como sempre fizemos”, acrescenta.
Foram diversas as etapas de trabalho até o momento no qual foi entregue a “Declaração de Fraternidade”, no dia 30 de janeiro, quarta-feira, na presença do Custódio da Terra Santa, Frei Francesco Patton, do Patriarca emérito, D. Michel Sabbah, do Arcebispo ortodoxo, Attalah Hana; o Mufti de Belém Abdelmajid Ata. Estavam também presentes representantes da Autoridade Palestina: a Ministra do Turismo, Rula Maaya, o Ministro para assuntos religiosos islâmicos, Yousef Dias, o representate de assuntos religiosos cristãos, Hanna Issa, e o prefeito de Belém, Tony Salman.
Frei Marwan Di’des, diretor do Terra Sancta College e promotor da iniciativa, explicou que o projeto se fundamenta sobre a síntese dos diversos relatos do encontro de São Francisco com o Sultão Al Malek Al Kamel, encontrados nas Fontes Franciscanas. Os participantes do projeto assistiram ao filme “O sultão e o Santo”, produzido pela Unity Production Fondation. “Foi um grande desafio – disse Frei Marwan – porque os alunos não estão acostumados a assistir documentários, mas foi importante para o aprofundamento no assunto. Durante a iniciativa, houve também momentos provocativos, como a sessão do filme libanês “Hala la wein” (E agora, para onde?) que trata do fanatismo religioso que leva à morte. O dia 24 de janeiro foi dedicado aos workshops, nos quais os alunos produziram um documento que afirma a necessidade de coexistir. “O nosso objetivo é fazer com que os alunos entendam que o fanatismo religioso só pode levar à morte”, explicou Frei Marwan. “Para que haja a paz, é preciso que as pessoas busquem a paz, é preciso pessoas sábias. É a sabedoria, e não somente o amor fraterno, que pode trazer a paz”, acredita.
São Francisco e o Sultão: foi a partir do exemplo destes dois personagens, capazes de dialogar em um momento de guerra, que os alunos escreveram uma declaração composta de dez artigos, a fim de continuar a construção de uma sociedade que seja única e fraterna.
Por ocasião do 8º Centenário do encontro de São Francisco e o Sultão, foi escrita a seguinte declaração:
“Nós acreditamos que:
- Nós, seres humanos, somos todos iguais perante a Deus
- A educação é elemento indispensável na construção da paz.
- A consciência do outro é o fundamento para resguardar nossas diferenças e para haver a fraternidade.
- O conhecimento e a consciência do que está ao nosso redor, apesar das dificuldades, nos dá a capacidade de sobreviver.
- A verdadeira experiência de fé em Deus é o caminho para a paz.
- As religiões monoteístas são uma mensagem celeste para a construção da paz.
- A construção de relações humanas verdadeiras é o princípio fundamental para a convivência.
- É a abertura das mentes e a aceitação do outro que faz com que prevaleça o respeito recíproco e desapareçam os medos.
- As iniciativas baseadas na sabedoria são fundamentais para a manutenção da paz.
- As ações que trazem resultados concretos na vida das pessoas devem ser reforçadas.
Texto: Giovanni Malaspina em www.custodia.org
Tradução: Frei Jean Aljuni – www.comissariadoterrasanta.com.br
Foto: Nadim Asfour