Sefras e CNBB estabelecem parceria diante da crise socioambiental
17/10/2024
Você sabia que, desde 1985, quase um quarto do Brasil foi queimado? Isso equivale a 199 milhões de hectares ou 23% do território nacional. Apenas no primeiro semestre de 2024, mais de mil cidades brasileiras estiveram sob a classificação de seca extrema e severa.
Por outro lado, o excesso de chuvas também causou estragos e incontáveis perdas: quase 95% das cidades gaúchas foram afetadas pelas chuvas em abril e maio de 2024, segundo dados da Defesa Civil do estado.
Esse é apenas um exemplo de situações extremas que, a cada dia, tornam-se mais e mais comuns no Brasil e no mundo. Tudo isso por conta da crise socioambiental que produz efeitos e consequências mais graves não só para seres humanos, mas para os animais, para os biomas e para o próprio Planeta. O cenário é tão alarmante que cientistas estimam que mais de 100 milhões de pessoas no mundo serão empurradas para a pobreza até 2030 devido às mudanças climáticas.
É diante deste cenário de intensa crise socioambiental que o Sefras – Ação Social Franciscana e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) se unem para refletir e dar luz à urgente necessidade de ação para reverter esse quadro.
Uma das primeiras ações da parceria foi o apoio por parte da Campanha da Fraternidade, uma iniciativa anual da CNBB com mais de 60 anos, na concepção e realização da 10ª edição da Revista Casa Comum, iniciativa de comunicação multiplataforma com foco em direitos humanos e socioambientais criada pelo Sefras.
A parceria é pautada no valor franciscano do diálogo, um dos pilares da atuação da Revista Casa Comum, que adota em suas ações e práticas, os ensinamentos de São Francisco de Assis.
O tema de 2025 da Campanha – Fraternidade e Ecologia Integral, juntamente com o lema “Deus viu que tudo era muito bom!” (Gn 1,31) – inspirou o volume especial da revista, que trouxe como tema “Somos Natureza: a necessária conversão ecológica” e foi lançada em setembro.
O volume especial foi planejado pela equipe da Revista Casa Comum e, além da CF, contou com a colaboração de um comitê externo, formado por diversas pessoas conectadas à temática do meio ambiente e outros especialistas.
“Essa parceria com a CF 2025 é um marco para a agenda de mobilização da justiça socioambiental e o fortalecimento de iniciativas locais para o país. Para nós, franciscanos, essa é uma forma de promover os valores do diálogo, fraternidade e bem comum em uma iniciativa histórica em parceria com a Igreja no Brasil”, analisa Fábio Paes, coordenador de incidência política do Sefras – Ação Social Franciscana e da Revista Casa Comum.
Graças à parceria também com a PAULUS Social, serão impressos e distribuídos por todo o Brasil, em caráter extraordinário, 135 mil exemplares da edição.
Volume especial
A 10ª edição da Revista conta com um leque de motivos para ser um volume especial. Além de se inspirar na temática da Campanha da Fraternidade 2025, a Revista Casa Comum também considerou outros acontecimentos importantes em 2025 para escolher o tema desta nova edição.
O ano que vem marca, por exemplo, os 10 anos da publicação da Carta Encíclica Laudato Si’, a carta ecológica do Papa Francisco, onde clama a todos pelo cuidado com a Casa Comum.
É também em 2025 que se completam 800 anos do Cântico das Criaturas, poema escrito em 1225 por São Francisco de Assis que exalta e expressa uma profunda conexão com todos os elementos naturais e criaturas, colocando sol, lua, vento, água, fogo, a morte e, finalmente, a Mãe Terra na posição de irmãos e irmãs. Inclusive, a 10ª edição traz um texto especial sobre este tema.
Quando o assunto são os grandes eventos e conferências, a cidade de Belém, no Pará, será palco da Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), a COP 30, entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025. É a primeira vez que o evento acontecerá na Amazônia brasileira.
Isso sem falar que, em 2025, o Sefras completa 25 anos de atuação no país.
Ecologia Integral
O conceito de conversão ecológica – que aparece no título da 10ª edição da Revista Casa Comum – engloba a necessidade de mudanças radicais de estilo de vida, do modelo econômico vigente, da forma de ser e estar no mundo e no modo de relacionar-se com o Planeta.
O objetivo é que, com mudanças de atitude e nas formas de produzir e consumir, os seres humanos possam resgatar e reestabelecer uma relação de respeito com os outros seres, com os elementos constituintes da Natureza e com a própria Mãe Terra, a Casa Comum. Esse apelo se faz cada dia mais urgente diante dos efeitos das mudanças climáticas e da crise socioambiental que se agravam e produzem efeitos extremos.
Jean Poul Hansen, secretário executivo de Campanhas da CNBB, destaca que, embora essa conceituação ainda não existisse há vários séculos, a Igreja Católica já abordava, em seus documentos internos e externos, a importância da Ecologia Integral e essência, e apontava os desafios para a humanidade neste aspecto.
A Campanha de 2025 representa a nona vez que o termo Ecologia aparece, de alguma forma, na Campanha da Fraternidade, sendo o tema mais abordado pela iniciativa.
“Precisamos ouvir as vozes e os gritos dos pobres e da Terra porque são os que mais sofrem. Os gritos da Terra podem ser ouvidos diante dos incêndios, desmatamentos e poluição,” enumera o Padre.
Casa Comum em Brasília
Dando continuidade à parceria entre revista e CNBB, a 10ª edição foi lançada durante o Seminário Nacional da Campanha da Fraternidade 2025, que aconteceu em Brasília entre 26 e 29 de setembro, e contou com a participação de cerca de 100 pessoas.
Parte da equipe da Revista Casa Comum esteve presente e acompanhou os debates sobre a urgência de uma Ecologia Integral.
“Lançar a Revista Casa Comum juntamente com a CNBB é um marco para nós franciscanos, para o Sefras e para a equipe da publicação, frente a esse momento de necessária visibilidade e incidência para a agenda socioambiental”, analisou Fábio.
Mutirão em Defesa da Casa Comum
Mais uma ação resultante da parceria é o curso Mutirão em Defesa da Casa Comum.
Com o tema “tudo o que existe e vive precisa ser cuidado”, o Mutirão prevê o uso do conteúdo da 10ª edição da Revista Casa Comum e da Trilha de Saberes que a acompanha como base para as discussões, debates e trocas de experiências entre os(as) inscritos(as).
A iniciativa tem como objetivo capacitar animadores(as) e multiplicadores(as) para a defesa e o cuidado da Casa Comum, e pretende contribuir para o despertar da consciência crítica e ecológica diante da grave crise socioambiental no Brasil e no mundo, a promoção da justiça social e climática e o exercício da cidadania.
O novo curso foi inspirado pelo Mutirão pela Democracia, iniciativa da Revista Casa Comum em parceria com o Projeto Encantar a Política realizado no início de 2024, com base nas reportagens da 8ª edição da Revista Casa Comum – que pautou o tema “Reencantar a política: pela mobilização das urnas e das ruas” – e também na Trilha de Saberes.
Com o objetivo de possibilitar a participação de pessoas de diferentes regiões do país, o Mutirão acontece, em sua totalidade, no formato virtual e gratuito. As formações, diálogos e rodas de conversa são realizadas na plataforma Zoom, além dos comunicados e materiais enviados por e-mail e nos grupos de WhatsApp.
O curso terá validade de extensão universitária e será certificado pela Cátedra Unesco de Juventude da Universidade Católica de Brasília, em parceria com o Vida e Juventude. O recebimento do certificado dependerá da participação em pelo menos cinco das sete rodas de conversas e da realização das atividades avaliativas com aproveitamento mínimo de 60%.
Além disso, cada participante deve assumir o compromisso de multiplicar a formação recebida para sete novas lideranças, que, por sua vez, devem mobilizar outras sete pessoas em suas localidades, multiplicando, assim, o efeito e alcance da formação.
O Mutirão em Defesa da Casa Comum será composto por duas turmas. A primeira, com inscrições abertas, tem início previsto para 28 de outubro. Já a segunda será realizada entre janeiro e março de 2025. Juntas, têm como objetivo formar cerca de 1.300 pessoas.
Para participar, basta realizar a inscrição por este link.
Sobre a Revista Casa Comum
Com o lema “Cuidar de si, do outro e do planeta”, a Revista Casa Comum é uma iniciativa de comunicação multiplataformas, com uma atuação diversificada e pensada para diferentes mídias: impressa, digital e audiovisual, com foco em direitos humanos e socioambientais.
O projeto foi criado em 2022 pelo Sefras – Ação Social Franciscana e conta com coordenação editorial do Estúdio Cais – Projetos de Interesse Público.
Enquanto projeto de comunicação, a Revista Casa Comum visa articular e convergir as ações e as agendas de incidência política de organizações, coalizões, movimentos, coletivos e redes que atuam em defesa de direitos humanos e ambientais.
A perspectiva é o fortalecimento das ações populares, produção de conteúdo crítico e disseminação de informações qualificadas referentes aos direitos humanos e ambientais, a fim de gerar conhecimento e incentivar o engajamento e a mobilização social em torno de temas urgentes do país.
Seu principal produto, a revista impressa tem periodicidade trimestral e traz debates da agenda de direitos socioambientais em diferentes formatos: desde grandes reportagens, passando por entrevistas em profundidade com especialistas, estudiosos(as) e ativistas, infográficos e ensaios fotográficos.
Todas as edições da revista são acompanhadas pela Trilha de Saberes. Desenvolvido com apoio institucional da Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais de Educomunicação (ABPEducom) e de impressão e disseminação da PAULUS Social, o material é direcionado aos educadores e educadoras, ou seja, todos e todas que promovem atividades com grupos, coletivos, movimentos, espaços escolares etc. a fim de que possam explorar todo o conteúdo da revista em momentos de encontros, rodas de conversa e formações, incentivando a reflexão e o engajamento de cidadãos e cidadãs em iniciativas de transformação social.
A Revista Casa Comum conta, ainda, com produções exclusivas do site – www.revistacasacomum.com.br -, e presença nas redes sociais – Instagram e LinkedIn -, canais no YouTube e Spotify, além de uma comunidade no WhatsApp. Todos os canais contam com a divulgação de temáticas da agenda socioambiental brasileira em diferentes formatos: textos, vídeos, podcast, e mais.
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Daniele Próspero