Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

“São Francisco de Assis é nossa inspiração”, diz o Ministro Provincial na festa dos 20 anos do Sefras

18/09/2020

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                                                                                                                                                           Imagens: captura de tela

Moacir Beggo

São Paulo (SP) – Com Missa de Ação de Graças, às 19 horas, na Paróquia Santo Antônio do Pari, o Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras) celebrou 20 anos neste dia 17 de setembro, uma data especial para a Ordem Franciscana, quando se celebra a festa da Impressão das Chagas de São Francisco, conhecida como festa de São Francisco das Chagas.

A Celebração Eucarística foi presidida pelo bispo auxiliar de São Paulo, Dom Eduardo Vieira dos Santos, e concelebrada pelo Ministro Provincial da Província da Imaculada Conceição, Frei César Külkamp, e pelo diretor presidente do Sefras, Frei José Francisco de Cássia dos Santos. O pároco Frei Wilson Batista Simão, fez a acolhida dos fiéis e colaboradores do Sefras.

Frei César, no sermão desta festa franciscana, observou que Francisco de Assis mereceu tamanha graça por ter encontrado na Cruz um caminho e a razão de toda a sua vida. “Na vida de São Francisco, desde o início de sua conversão, ele se dedicou de maneira toda especial à devoção e veneração do Cristo crucificado, devoção que até a morte ele anunciava a todos por palavras e exemplo”, disse. “Na cruz, Deus se faz verdadeiramente homem, servo na total pobreza do esvaziamento de Si mesmo. Um amor tão sublime que ainda não é amado, nem mesmo pelos seus seguidores, os cristãos”, acrescentou.

Segundo Frei César, celebramos este mistério na liturgia para que sejamos provocados também por esta contemplação. “Queremos que ela nos conduza à adoração e à gratidão da manifestação de Deus, mas também à restituição ao Seu amor com amor e serviço aos nossos irmãos e irmãs! É isto, acima de tudo, que significa amar o Amor!”, ensinou.

Para o Ministro Provincial, esse serviço aos irmãos é a ligação com a ação de graças pelos 20 anos de fundação do Serviço Franciscano de Solidariedade.

Frei César recordou que em setembro de 2000, na Assembleia Capitular,  instância máxima da vida provincial, foi aprovada a criação desta entidade, reunindo serviços diversos já existentes, mas buscando organizar as iniciativas de solidariedade num trabalho mais articulado. “A solidariedade é parte fundamental da missão evangelizadora franciscana: missão primeiramente de abrir-nos aos outros como irmãos e irmãs”, ressaltou.

O Ministro Provincial falou da expectativa pela nova encíclica do Papa Francisco, prevista para ser divulgada no próximo dia 3 de outubro, em Assis, que será dedicada à Fraternidade e à Amizade Social e terá como título “Irmãos todos”, tomando uma Admoestação escrita por São Francisco que começa com esta saudação: “Irmãos todos”. “É a saudação que demonstra este espírito de fraternidade universal. Somos todos filhos e filhas do mesmo Pai. E isto é muito mais forte do que qualquer diferença de raça, de credo, de gênero, de posição social, política e do que quer que seja. Podemos dizer então que solidariedade franciscana é, sobretudo, este espírito de fraternidade universal”, explicou.

Frei César lembrou que o Papa Francisco, na sua Mensagem para o Dia Mundial das Missões de 2020, usou uma palavra que serve também para motivar e orientar a ação de solidariedade franciscana: “No sacrifício da cruz, onde se realiza a missão de Jesus (cf. Jo 19, 28-30), Deus revela que o seu amor é por todos e cada um (cf. Jo 19, 26-27). E pede-nos a nossa disponibilidade pessoal para ser enviados, porque Ele é Amor em perene movimento de missão, sempre em saída de Si mesmo para dar vida”. “Uma poesia do saudoso Dom Hélder dizia que Missão é sobretudo abrir-se aos outros como irmãos, mas também descobri-los e encontrá-los. Nosso tempo precisa tanto de atitudes de inclusão, ou seja, de amor!

Graças a Deus, vemos atitudes bonitas de tantos cristãos, neste tempo de pandemia, na solidariedade com os que mais precisam, os doentes, os idosos, os grupos de risco e os pobres. E o Sefras tem sido uma presença referencial neste sentido”, enfatizou.

Segundo Frei César, São Francisco de Assis é sempre a inspiração. “Um humano feito gigante em sua fé orante, consciente e comprometida. Por sua fidelidade a este Deus que se revela e quer chegar a todo coração humano, ele consagra a própria vida, a sua saúde e vive pouco, mas com profunda intensidade. Em sua vida, o Deus Trindade fez-se concreta morada e o converteu num autêntico representante da sua plural Unidade. Fez dele um precioso caminho de cuidado e de acolhida”, recordou.

“Nestes 20 anos, o Sefras tem assumido esta tarefa de ir ao encontro, especialmente dos últimos da sociedade, das periferias sociais e existenciais, das minorias mais golpeadas por mecanismos sociais de exclusão, buscando conhecê-los e amá-los. Por isso, em nome de toda a nossa Província, quero agradecer a tantos confrades, religiosas, colaboradores, voluntários e benfeitores que compartilharam esta missão de ser expressão muito concreta e irrenunciável do carisma franciscano. Que todas estas presenças e serviços, generosamente prestados, continuem em nossa Memória como testemunho vivo de Solidariedade e Esperança!”, desejou o Ministro Provincial.

TODOS QUEREMOS QUE OS POBRES DEIXEM DE SER POBRES

Nos seus agradecimentos, o diretor-presidente do Sefras, Frei José Francisco, criticou e lamentou o contexto de violência que vem se agravando na sociedade, especialmente neste tempo de pandemia. “Pessoas que se colocam ao lado dos mais pobres são chamadas de comunistas. Ninguém de nós é comunista, ninguém é partidário, ninguém de nós está galgando a disputa do poder público. Nós apenas queremos defender aqueles que estão enfraquecidos e não têm mais condições nem sequer de reivindicar o que lhes é de direito”, lamentou.

Frei José recordou as ameaças que o Pe. Júlio Lancellotti, pároco da igreja São Miguel Arcanjo e coordenador da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo, vem sofrendo depois de ser atacado virtualmente pelo deputado e candidato à prefeitura de São Paulo Arthur do Val. “A solidariedade nos desafia com as questões do nosso tempo”, disse, como a questão ambiental, tão bem retratada na Laudato Si’ do Papa Francisco. “Precisamos cuidar da Casa Comum, que é a nossa condição necessária de vida”, observou, citando ainda a questão migratória, a questão de gênero, a questão econômica e o aumento da fome e da violência em todos os níveis.

Frei José lembrou também o acirramento do ódio nas redes sociais. “Temos que ter senso crítico e discernimento. E certas palavras que navegam nas redes sociais se tornam injúria, calúnia e difamação a muitas pessoas”, criticou.

Segundo o frade, este contexto desafia o Sefras a continuar construindo a solidariedade. “Nós queremos ver o mundo transformado. O céu e a nova terra anunciados pelo profeta Isaías. A terra onde o amor e a justiça possam entrelaçar e sustentar nossas vidas. Este é o nosso sonho. Esta é a nossa esperança. Esta é a esperança que nos anima a construir fraternidade, nutrir vínculos de amor que possam incluir nossos irmãos que estão à margem da vida”, enfatizou.

Nessa construção em 20 anos, três coisas marcaram este trabalho evangelizador, enumerou o diretor do Sefras: qual o nosso lugar na sociedade?; a profissionalização do trabalho; e a questão da sustentabilidade.

“Sefras 20 anos: memória, solidariedade e esperança. Penso que, olhando para os 20 anos – e de boa parte deles eu fiz parte -, podemos encontrar uma fonte de sabedoria: muitos erros, muitas dificuldades, muitos acertos, mas em tudo um grande aprendizado. Uma grande escola, na qual estamos aprendendo a cada dia. Uma escola que significa acolher, cuidar e, sobretudo, o mais difícil: defender, colocar-se ao lado dos mais pequenos, dos fracos, dos injustiçados, dos que não têm nada para oferecer, daqueles que não têm nem condição de dizer obrigado”, sublinhou.

Frei José lembrou e agradeceu os frades que formaram essa grande “teia de solidariedade” na primeira hora: Frei Augusto Koenig, Mnistro Provincial, Frei David Raimundo dos Santos,  Frei Reynaldo Ameixeira, Frei André Gurzynski, Dom Severino Clasen, hoje Arcebispo em Maringá, Dom Bernardo Bahlmann, que é bispo em Óbidos,  Frei Mário Tagliari, guardião Convento São Francisco, Frei Vitorio Mazzuco. São todos irmãos da primeira hora que começaram a sonhar como poderia organizar tudo isso. Depois, sob a liderança de Dom Caetano Ferrari, que era o Provincial da época, depois Frei Augusto, depois Frei Fidêncio Vanböemmel e hoje Frei César Külkamp. “Outros frades deixaram sua marca. E com eles uma multidão de voluntários, parceiros e colaboradores”, agradeceu.

Dom Eduardo também fez um agradecimento especial à Família Franciscana. “Aqui, de modo particular aos frades, na pessoa do Frei César, Ministro Provincial, de Frei José Francisco, presidente do Sefras, o nosso agradecimento da Arquidiocese de São Paulo pelo trabalho que vocês realizam, sobretudo nesse tempo de pandemia. Diante dos apelos que vinham das ruas, prontamente vocês tomaram a frente. Que Deus os abençoe e ao trabalho de vocês para que nunca lhes faltem vocações, para que nunca lhes falte a coragem, sobretudo a fé, para testemunhar Jesus Cristo”, completou Dom Eduardo.