Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Profissão Solene de Frei Afonso em Angola

30/06/2007

Notícias

 

Frei Laerte de Farias dos Santos, ofm.

Há dezessete anos, os primeiros missionários franciscanos chegaram a Angola vindos do Brasil com a missão de implantar a Ordem Franciscana (Implantatio Ordinis) e colaborar com a Igreja em Angola, especialmente onde a Ordem não se fizesse presente. Um dos aspectos mais visíveis do sucesso desta missão foi o feliz dia da primeira Profissão Solene de um confrade angolano.

Foram anos difíceis e de muita luta. A guerra dificultava a ação pastoral e a formação dos jovens que batiam às nossas portas desejosos viver o ideal de vida de Francisco de Assis. Assim fez Frei Afonso Katchekele Quissongo. Da casa de seus pais, em Huambo, centro do país, em plena guerra procurou os frades em Malange. Acolhido por estes, iniciou sua formação. Hoje, dia 30 de junho, com esta Profissão Solene, os sonhos se concretizaram: os dos frades missionários e o de Frei Afonso.

No Mosteiro das filhas de Santa Clara, nossas vizinhas na luta e no lugar, reuniu-se a Igreja Angolana. Com exceção de Frei Aloísio, que ficou com os aspirantes em Malange, todos os confrades missionários estavam presentes na celebração presidida pelo Ministro Provincial, Frei Augusto Koenig. A Família Franciscana de Angola também se fez presente com diversas Congregações Franciscanas Femininas e a OFS.

Família religiosa
O jeito africano de celebrar a Eucaristia marcou esta festa: os cantos animados pelas clarissas e acompanhados com muitas palmas, danças e batuques; uma belíssima e longa tâmbula (oferta) onde as mamás ofereceram os frutos da mãe terra e dos seus trabalhos: mandioca, ginguba (amendoim), batatas-doces, frutas, gasosas (refrigerantes)… e, como não podia faltar, um grande cabrito que seus familiares trouxeram de Huambo. “Recebestes de graça, dai de graça!” (Mt 10,9).

Seus pais e irmãos vieram de Huambo, unindo-se aos familiares que moram nos arredores de Luanda. A nobreza e simplicidade de seus pais chamavam a atenção de todos os que com eles conversavam, conforme lembrou o Provincial. Pessoas simples e religiosas que não temeram em oferecer ao Senhor um de seus filhos.

Na homilia, o Provincial chamou a atenção de todos para o significado dos votos que Frei Afonso iria prometer viver. Comentou e explicou cada um deles chamando a atenção para o que se tem demonstrado o mais desafiante: o voto de obediência.

“Eis-me aqui”
Momento de forte emoção se deu quando Frei Afonso foi chamado pelo nome e, após a resposta “Eis-me aqui”, veio do fundo da Igreja, tendo seus pais ao lado, cantando em Umbundo, sua língua materna, a sua disponibilidade para o serviço do Senhor. Outro instante ímpar da celebração foi quando, após fazer a profissão nas mãos do Provincial, elevou a Deus um hino de louvor tendo em suas mãos um pote com incenso e ao seu lado duas jovens que, com ele, faziam gestos de louvor enquanto as Clarissas entoavam um belo hino.

Após a celebração, ainda nas dependências do Mosteiro, serviu-se um bom coquetel preparado pelas Clarissas onde a maior parte do Povo de Deus presente pode se confraternizar. Os que puderam se dirigiram depois para Viana, onde em nossa Fraternidade estava sendo preparado um saboroso almoço com pratos da culinária local. Não faltaram os Fungis de Fuba (de milhos branco e amarelo), de Bombô, Caruru, Caldeirada, Quisaka, Lombi, Muamba, e a famosa Ginguinga.

Generosidade e partilha 
Para este almoço tradicional a partilha e generosidade do Povo, das Congregações de Irmãs e dos confrades foram importantes. O clima fraterno do almoço pôde ser melhor sentido quando as crianças de nossa vizinhança comiam: sentadas em torno de um único prato, cada uma se servia do Fungi ali colocado, sem a ambição de uma comer mais do que as outras.

Deus seja louvado por este dia feliz! Deus seja louvado por nos ter dado mais este irmão, Frei Afonso! Deus seja louvado pelo trabalho de todos os irmãos que nestas terras já foram missionários! Deus seja louvado pelos irmãos que rezam por nós e com suas orações nos sustentam! Deus seja louvado pelos benfeitores que com sua ajuda material torna possível a missão! Deus seja louvado pela vida doada de Frei Lotário, que junto do Senhor, com Frei Galvão, intercede por nós!

Terminada as festividades, ressoa forte a fala de Nosso Pai São Francisco e que foi o tema desta Profissão: “Vamos começar a servir a Deus, meus irmãos, pois até agora fizemos pouco ou nada”. Deus seja a nossa força!

Paz e Bem!


CARTA DE FREI AFONSO

Um dia senti a voz do senhor chamando para que O seguisse; e eu, a exemplo de Abraão nosso pai na fé, não questionei por quê? Nem para quê? Não olhei para trás, nem pensei em despedir-me da minha família. Como peregrino que caminha sem saber o destino, como será recebido e sem sentir medo de pôr em risco a minha vida e a dos meus familiares, pus-me a caminho em direcção à região onde estavam os Frades, sem ter-lhes visto antes nem saber ao menos qual era o seu modus vivendi. Porém, chegando a sua porta depois de algumas semanas de viagem ao seu encontro, na minoridade e simplicidade franciscana, fui recebido pelos Pobres Frades, na pessoa de Fr. Valdir Nunes Ribeiro que de mãos abertas e coração generoso me acolheu sem reticências; também Deus permitiu que  neste momento maravilhoso ele esteja connosco, tendo chegado recentemente do Brasil. Tempos depois, encaminhou-me à responsabilidade de outro Frade; Fr. Samuel Ferreira de Lima que me acompanhou durante os meus estudos propedêuticos no Seminário Maior, S. José, de Malange. Por motivo de outras responsabilidades, não pôde ficar connosco até a este momento. Para eles e tantos outros Frades que estiveram presentes naquela altura, dirijo os meus agradecimentos. Hoje celebramos o fim de uma história e o começo de outra, nova história!Foi uma longa trajectória, com inúmeros acontecimentos: Crises, Dificuldades, Tristezas, Medo, Desânimo, Questionamento… não se fizeram ausentes; mas, a coragem, a alegria e a força de vencer com o suporte em Deus misericordioso e todo poderoso, tornaram-se cada vez mais pujantes e me conduziram ao momento que tanto busquei com grande afinco. Hoje, o que parecia estar tão longe, impossível e um sonho, faz-se presente deixou de ser uma possibilidade; da potencialidade passou ao acto e do sonho, uma realidade!Sozinho neste acto, neste lugar, nesta posição estou; mas, sozinho não trilhei esta senda e talvez se assim fosse não chegaria até aqui. Muitos estiveram à frente e me estenderam as mãos para que eu não caísse; outros caminhamos juntos e tiveram que tomar outros rumos na vida. Portanto, não faltou neles em momento algum, a confiança na minha pessoa; e, repito aqui aquilo que eles diziam antes e depois de nos separarmos: “Afonso, você pode… você é capaz, você merece e nós temos confiança de que vás até aonde o Senhor te quer!”

E eu digo, a estes Irmãos, alguns presentes outros ausentes por causa de distâncias geográficas: não vos quero ser ingrato, esta vossa afirmação e as vossas qualificações à minha pessoa foram uma força impulsionadora muito grande e aumentou a minha autoconfiança e esperança.

Dizia eu, no começo: e, permitam-me repetir a esta afirmação: Este é o fim de uma história e o começo de uma nova história. Digo isto porquê? No outro linguajar propriamente na expressão do Seráfico Pai, S. Francisco de Assis no seu Testamento Exorta: «Irmãos comecemos, porque até agora pouco ou nada fizemos!» Na verdade a vida religiosa e Franciscana consiste certamente, numa busca constante e num começar a cada momento e em cada dia que passa; religando aquilo que desligamos pelas nossas imperfeições.

É o começo de uma nova história porque não devo cruzar os braços por este facto, por esta graça, mas tenho que lançar-me na peleja com a maior responsabilidade, firmeza e fidelidade, para que o dono da Messe não se arrependa pelo trabalhador que escolheu; e que não se desanimem aqueles que deram o seu tudo para que essa obra se realizasse!

Meus irmãos e minhas irmãs que estais aqui presentes e se projectam para vida Franciscana, não olhem à trás, não se deixem vencer pelas vicissitudes com as quais se deparam no mundo e na caminhada; pois, é aí onde está a perfeita alegria, conforme afirma S. Francisco. Não vos esqueçais que o futuro da Ordem, a nós pertence! Se hoje estou aqui convosco, neste dia maravilhoso e de alegria, é porque, olhei as dificuldades como lições que me ensinam a caminhar melhor.

«A confirmação da vocação religiosa só se dá a medida que o candidato se recolhe para meditar, com toda atenção e diligência ao impulso inicial. O itinerário religioso enfrenta um dos desafios e uma das dificuldades mais sérias e perigosas. Com facilidade, pode-se confundir ou desviar-se do sinal originário para seguir um ideal próprio e subjectivo». LTC (122-123). Desta feita, aceitem com generosidade: Excelentíssimo Provincial que com coração de Pai da grande família me recebestes como filho vosso.

Estimado Fr. Ângelo, nosso Presidente; Inefável Fr. José António dos Santos que desde o Postolantado e depois do noviciado, na sua paciência e na bondade, se predispôs levar avante essa obra. Ao Fr. Alexandre Magno meu 1º mestre no pós noviciado. Ao Fr. José Urley e Fr. Laerte que ainda pelejam na coroação desta mesma obra, a vós dirijo o meu muito obrigado. Às Irmãs Hospitaleiras que nos momentos de nossas preocupações sempre estiveram junto e com uma preocupação perceptível. Às Irmãs de S. José do Cluny na pessoa da Ir. Ana Nalaso, aqui presente que foram o primeiro motor para esta grande viagem; Irmãs Clarissas que dia e noite não se cansaram de cantar, e dobrar o joelho para que esse dia chegasse. Queridos confrades Capuchinhos pelo alento e carinho pelo que fui acolhido na casa do vosso Noviciado na preparação da minha profissão, em Lubango. Ao Padre Valente, grande pai que nos acolhe no seu território paroquial. Meus Pais que são a causa de tudo quanto eu sou; estimada família toda que reside cá em Luanda de modo especial a família Calupeteca que sempre esteve e está ao meu lado até em momentos críticos que tive de enfrentar, por toda a ajuda que me concede, aos meus amigos que em outrora partilhamos a vida e a todos vós povo de Deus, o meu especial agradecimento e que o senhor vos recompense.

Assim seja!”