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Papa: transformar tudo em amor concreto, sem “asco da pobreza dos outros”

04/08/2023

Notícias

Imagem: site oficial da JMJ Lisboa 2023

Num dos bairros mais pobres da periferia de Lisboa, o Serafina, fica a Paróquia de São Vicente de Paulo que recebeu o Papa Francisco nesta sexta-feira (4), terceiro dia da viagem apostólica em terras portuguesas. No Centro Social Paroquial, acostumado a acolher cerca de 800 pessoas para oferecer serviços sociais dos mais diversos, desde o berçário até o apoio às famílias, o Pontífice proferiu um discurso após conhecer a realidade vivida inclusive por outras duas obras assistenciais: as associações de Pais e Amigos de Crianças com Câncer ‘Acreditar’ e a de Solidariedade Social ‘Ajuda de Berço’.

O Papa começou agradecendo pelo testemunho das três entidades que procuram promover a caridade, “origem e meta do caminho cristão”, através da “realidade concreta de «amor em ação»”. Assim, destacou três aspectos comuns à realidade vivida por quem ajuda o próximo: “fazer juntos o bem, agir no concreto e estar próximo dos mais frágeis”.

Fazer juntos o bem
Primeiro, Francisco abordou o “fazer juntos o bem”, tendo o «juntos» como palavra-chave, já que o Pontífice ouviu repetidas vezes durante os testemunhos, inclusive de João, da Associação Acreditar, quando falou da sua experiência com crianças com câncer e suas famílias: “é preciso não se deixar «definir» pela doença”.

“É verdade! Não devemos deixar-nos «definir» pela doença ou pelos problemas, porque nós não somos uma doença, não somos um problema. Cada um de nós é um presente, é um dom, um dom único com os seus limites, mas um dom precioso e sagrado para Deus, para a comunidade cristã e para a comunidade humana. E, assim como somos, enriquecemos o conjunto e deixamo-nos enriquecer pelo conjunto!”

Agir concretamente junto aos mais frágeis
Em seguida, para comentar sobre o “agir no concreto”, o Papa buscou as palavras do testemunho do Pe. Francisco, do Centro Social Paroquial, que, inspirado em São João XXIII, citou o fontanário para descrever a cultura do cuidado dirigida a quem procura a entidade. E acrescentou que, “quando não se perde tempo a lamentar-se da realidade, mas se tem a preocupação de ir ao encontro das carências concretas, com alegria e confiança na Providência, acontecem coisas maravilhosas”.

Por fim, o terceiro aspecto que o Papa destacou em discurso entregue aos presentes é o de estar “próximo dos mais frágeis”, especialmente de quem mais precisa: “os excluídos, os marginalizados, os descartados, os humildes, os indefesos. São eles o tesouro da Igreja, são os preferidos de Deus!”.

A importância do amor concreto
Mas, ao improvisar, já que “meus refletores não estão funcionando e não consigo ler direito”, disse o Papa aos presentes se referindo à vista que não queria forçar, se deteve em algo que não estava escrito, mas que estava no espírito do encontro: o amor concreto.

“Não existe amor abstrato, não existe. O amor platônico está em órbita, não está na realidade. O amor concreto, aquele que suja as mãos… E cada um de nós pode se perguntar: o amor que eu sinto por todos aqui, o que sinto pelos outros, é concreto ou abstrato? Eu, quando estendo a mão a uma pessoa necessitada, a um doente, a uma pessoa marginalizada, depois de estender a mão, faço isso em seguida (limpando), para que não me ‘contagie’? Tenho asco de pobreza, da pobreza dos outros? Procuro sempre a vida destilada, aquela que existe na minha fantasia, mas que não existe na realidade? Quantas vidas destiladas inúteis, que passam pela vida sem deixar marca, porque sua vida não tem peso!”

Uma marca que, o Papa enalteceu em discurso improvisado, foi representada pelas três entidades assistenciais apresentadas no encontro e que serve de “inspiração aos outros. Não poderia existir uma Jornada Mundial da Juventude sem levar em conta essa realidade, porque isso também é juventude no sentido de que vocês geram continuamente vida nova”. E o fazem, concluiu Francisco, sujando as mãos “ao tocar a realidade e a miséria dos outros”, gerando inspiração e vida: “obrigado por isso. Eu lhes agradeço do fundo do meu coração”.

“Sigam adiante e não desanimem! E se desanimarem, tomem um copo de água e sigam adiante!”

O exemplo do português João de Deus
No discurso entregue, Francisco ainda trouxe a história de João de Deus (1495-1550), um português que, ao encontrar Jesus, decidiu pedir esmola pelas ruas, dizendo às pessoas: «Fazei bem, irmãos, a vós mesmos!». “Compreendem isso?”, questionou o Papa, ele “pedia a esmola, mas dizia a quem lhe dava que, ajudando ele, na realidade estava ajudando a si próprio!”. Assim o Pontífice explicou a importância dos gestos de amor por quem os faz, antes mesmo por quem os recebe, “porque dilata o coração e permite abraçar o sentido da vida”

João de Deus chegou a fundar a Ordem Religiosa dos Irmãos Hospitaleiros para se doar ao serviço dos pobres e doentes. “Ajudar os outros é um dom para si próprio e faz bem a todos”, acrescentou Francisco, pedindo que todos se recordem que “o amor é um presente para todos!”.
“Se queremos ser verdadeiramente felizes, aprendamos a transformar tudo em amor, oferecendo aos outros o nosso trabalho e o nosso tempo, dizendo palavras edificantes e realizando boas ações, mesmo com um sorriso, com um abraço, com a escuta, com o olhar. Queridos adolescentes, irmãos e irmãs, vivamos assim! Todos podemos fazê-lo e disto mesmo todos precisamos, aqui e em qualquer lugar do mundo.”


Imagem: site oficial da JMJ Lisboa 2023

Papa conhece o trabalho pela defesa da vida de três centros assistenciais de Lisboa

Através de três centros assistenciais que atendem desde bebês a crianças e adolescentes com necessidades especiais, econômicas e de saúde, Lisboa procurou apresentar ao Papa Francisco o trabalho desenvolvido com os mais vulneráveis na capital portuguesa. O encontro aconteceu na manhã desta sexta-feira (4) na Paróquia de São Vicente de Paulo, do bairro de Serafina, um dos mais problemáticos da periferia.

O pároco e também diretor do Centro Social Paroquial foi quem começou o giro de apresentações em nome das entidades reunidas. Em discurso, o cônego Francisco Crespo agradeceu a presença do Papa, um gesto que os “enche de grande alegria e anima a fazer sempre mais e melhor por aqueles que precisam de apoio e do amor de Cristo”.

O esforço diário do Centro Social Paroquial
Ao contar a história da obra de assistência do bairro de Serafina, Pe. Francisco disse que “a Paróquia e o Centro Social nasceram no mesmo ano de 1959, apenas com dois meses de intervalo”, por intuição do primeiro pároco, o Padre José Gallea: “para evangelizar esta população”, ele sabia que “teria que tocar a realidade concreta da sua gente, desprotegida de direitos e de meios essenciais para levarem uma vida digna e justa”. E Pe. Francisco acrescentou:

“Também a mim, ao chegar a esta paróquia, me impressionou tanta manifestação de pobreza, mas sobretudo o olhar triste e vazio dos idosos sentados nas ruas. Paulatinamente, com todo o esforço de uma comunidade de braços arregaçados, a ajuda de alguns benfeitores e apoios estatais, fomos agregando múltiplas respostas sociais, às necessidades da população.”

Hoje, o Centro Social Paroquial de São Vicente de Paulo atende quase 800 pessoa e dá emprego a mais de 170 funcionários ao oferecer serviços, como: berçário, creche, centro juvenil, Lar Residencial para Idosos e apoio às famílias. “Procuramos fazer crescer o amor por cada pessoa”, contou ainda ao Papa o pároco, através da cultura do cuidado, “aplicando a expressão do Papa São João XXIII: ‘a paróquia é o fontanário da aldeia onde todos vão beber’”.

Ajuda de Berço fundada pela defesa da vida
A Associação de Solidariedade Social ‘Ajuda de Berço’ também apresentou a sua história ao Papa, “uma casa de acolhimento para crianças abandonadas ou em risco”, fundada há 25 anos no contexto dos movimentos de defesa da vida e das campanhas do referendo do aborto de 1998:

“Moveu-nos oferecer uma alternativa aos homens e mulheres tentados a abortar os seus filhos ou que não os conseguem cuidar. Até hoje, já acolhemos 452 crianças que depois de viverem conosco encontraram um projeto de vida seguro e definitivo. Para uns foi o regresso à família, para outros, a adoção ou outras casas de acolhimento. Duas delas acompanham-nos do Céu.”

A casa de Lisboa acolhe durante as 24h do dia 40 crianças – entre os poucos dias de vida e os 13 anos de idade – que são entregues pelo governo de Portugal. Um empenho pela defesa da vida inspirada no magistério do próprio Papa Francisco, de seus predecessores e da Igreja em Lisboa, que têm “animado, confortado e confirmado” o trabalho diário da ‘Ajuda de Berço’. O apoio à entidade também vem “por crentes de diversas confissões e homens de boa vontade que não professam nenhuma religião”.

A esperança às crianças com câncer da Associação Acreditar
Por fim, o Papa também conheceu a realidade vivida pela Associação de Pais e Amigos de Crianças com Câncer ‘Acreditar’. A entidade há 30 anos “fomenta a esperança na cura e tenta minorar o sofrimento durante os tratamentos, na sobrevivência e nas famílias cujos filhos não sobrevivem”:

“Damos apoio emocional, psicológico, material e escolar, e acolhemos nas nossas Casas quem vive longe do hospital. A nossa missão é estar com todas as crianças e jovens, procurando que o câncer nunca os defina e que a evolução da cura e a melhor qualidade de vida sejam uma realidade. Sabemos que nos fortalecemos nas vidas partilhadas e na defesa dos direitos, por isso criamos elos entre os sobreviventes, doentes e pais para que, com esperança, nunca se sintam sós.”


Fonte: Vatican News (texto de Andressa Collet),


Imagem: site oficial da JMJ Lisboa 2023

Papa a jovens da JMJ: sejam estes dias ecos vibrantes do chamado amoroso de Deus

Nesta Jornada Mundial da Juventude, sejam estes dias ecos vibrantes do chamado amoroso de Deus, porque somos preciosos a seus olhos. Sejam dias em que o teu nome, através de irmãos e irmãs de muitas línguas e nações que o pronunciam com amizade, ressoe como uma notícia única na história, porque único é o pulsar do coração de Deus por ti. Este é o ponto de partida da JMJ, mas sobretudo da vida: disse Francisco no primeiro momento de encontro entre os jovens e o Papa, na cerimônia de Acolhimento.

Somos todos chamados pelo Senhor, chamados porque amados. Chamemo-nos pelo nome e lembremos uns aos outros a beleza de ser amados e preciosos, conscientes de que Deus nos ama como somos, com nossas fraquezas e nossos limites, e de que a Igreja nos acolhe a todos, todos.

Com essas palavras, Francisco desejou uma feliz JMJ aos jovens presentes naquele que foi o primeiro momento de encontro entre eles e o Papa, na cerimônia de Acolhimento realizada no Parque Eduardo VII em Lisboa esta quinta-feira, 3 de agosto. O evento reuniu meio milhão de pessoas.

Igreja jovem a caminho com o Sucessor de Pedro
Tratou-se de um evento com um caráter festivo e de encontro que, mantendo a dimensão de oração, quis mostrar a Igreja jovem que se coloca a caminho com o Sucessor de Pedro rumo à construção de uma sociedade mais fraterna.

O Santo Padre deu as boas-vindas aos jovens e agradeceu-lhes a presença. É bom estarmos juntos em Lisboa, disse, aqui fostes chamados por mim, pelo Patriarca, pelos vossos Bispos, sacerdotes, catequistas e animadores. Mas foi sobretudo Jesus quem vos chamou, ressaltou. O Senhor chamou-vos, não só nestes dias, mas desde o início dos vossos dias. Sim, Ele chamou-vos pelo nome. Chamados pelo nome.

Chamados, porque amados
Em seu discurso, o Pontífice desenvolveu sua reflexão a partir deste chamado de Deus: chamados, porque amados, enfatizou. Aos olhos de Deus somos filhos preciosos, que Ele cada dia chama para abraçar e encorajar; para fazer de cada um de nós uma obra-prima única e original, cuja beleza mal conseguimos vislumbrar.

Nesta Jornada Mundial da Juventude, ajudemo-nos a reconhecer esta realidade essencial: sejam estes dias ecos vibrantes do chamado amoroso de Deus, porque somos preciosos a seus olhos, apesar do que às vezes os nossos olhos veem, enevoados pela negatividade e ofuscados por tantas distrações. Sejam dias em que o teu nome, através de irmãos e irmãs de muitas línguas e nações que o pronunciam com amizade, ressoe como uma notícia única na história, porque único é o pulsar do coração de Deus por ti. Sejam dias para fixar no coração que somos amados tal como somos. Este é o ponto de partida da JMJ, mas sobretudo da vida.

Para Deus não és um número, mas um rosto
Amigo, amiga, prosseguiu o Papa, se Deus te chama pelo nome significa que, para Ele, não és um número, mas um rosto. Quero fazer-te notar uma coisa: muitos, hoje, sabem o teu nome, mas não te chamam pelo nome. Com efeito, o teu nome é conhecido, aparece nas redes sociais, é processado por algoritmos que lhe associam gostos e preferências. Mas tudo isso não interpela a tua singularidade, mas a tua utilidade para pesquisas de mercado. Quantos lobos se escondem por trás de sorrisos de falsa bondade, dizendo que conhecem quem és, mas sem te querer bem, insinuando que creem em ti e prometendo que serás alguém, para depois te deixarem sozinho, quando já não lhes fores útil.

São as ilusões do mundo virtual, advertiu Francisco, e devemos estar atentos para não nos deixarmos enganar, porque muitas realidades que nos atraem e prometem felicidade mostram-se depois pelo que são: coisas vãs, supérfluas, substitutos que deixam o vazio interior. Jesus, não! Ele tem confiança em ti, para Ele tu contas.

Todos pecadores, porém chamados assim como somos
Dito isso, o Santo Padre enfatizou que nós, a Igreja de Jesus, somos a comunidade dos que são chamados: não somos a comunidade dos melhores, não, somos todos pecadores, porém somos chamados assim como somos.

Pensemos um pouco nisso em nosso coração: somos chamados como somos, com os problemas que temos, com as limitações que temos, com nossa alegria transbordante, com nosso desejo de sermos melhores, com nosso desejo de ter sucesso. Somos chamados como somos. Pense nisto: Jesus me chama como eu sou, não como eu gostaria de ser. Somos a comunidade de irmãos e irmãs de Jesus, filhos e filhas do mesmo Pai.

Na Igreja ninguém é supérfluo
Amigos, continuou Francisco, gostaria de ser claro com vocês, que são alérgicos a falsidades e palavras vazias: na Igreja, há espaço para todos. Para todos. Na Igreja, ninguém é supérfluo. Ninguém é supérfluo. Há espaço para todos. Assim como nós somos. Todos nós. E Jesus deixa isso claro. Quando envia os apóstolos para convocar o banquete do senhor que o havia preparado, ele diz: “Ide e trazei todos”, jovens e velhos, sãos, doentes, justos e pecadores. Todos, todos, todos! Na Igreja, há lugar para todos. “Padre, mas eu sou um miserável”… “Eu sou um miserável, há lugar para mim?”… Há lugar para todos! Todos juntos, cada um em seu próprio idioma. Todos em seu próprio idioma, repitam depois de mim: Todos, todos, todos. Não consego ouvir, de novo! Todos vocês. Todos vocês. Todos. Todos. E essa é a Igreja, a Mãe de todos. Há espaço para todos. O Senhor não aponta com o dedo, mas abre os braços. É curioso: o Senhor não sabe fazer isso (apontar com o dedo), mas faz isso (faz o gesto de abraçar). Abraça a todos nós. Mostra-nos a Jesus na cruz, que abriu tanto os braços para ser crucificado e morrer por nós.

Maria, nossa Mãe, nos ajuda
Por fim, o Santo Padre, tendo várias vezes deixado de lado o texto previamente preparado, falando espontaneamente aos jovens, fez mais uma veemente exortação:

Queridos jovens: convido-os a pensar nesta coisa linda: que Deus nos ama, Deus nos ama como somos, não como gostaríamos de ser ou como a sociedade gostaria que fôssemos. Como somos! Ele nos chama com os defeitos que temos, com as limitações que temos e com o desejo que temos de seguir em frente na vida. Deus nos chama dessa maneira. Confie, porque Deus é um Pai e um Pai que nos ama e um Pai que nos ama. Isso não é muito fácil. E para isso temos uma grande ajuda, a Mãe do Senhor. Ela também é nossa Mãe, ela é nossa Mãe.

Isso é tudo o que eu queria dizer a vocês: não tenham medo, tenham coragem, sigam em frente, sabendo que somos “confortados” pelo amor que Deus tem por nós. Deus nos ama, finalizou.

O Papa confessa três jovens em Lisboa

Recebido por coros de “Esta es la juventud del Papa…”, o Santo Padre chegou na manhã desta sexta-feira, 4 de agosto, terceiro dia de sua viagem a Portugal para a JMJ – 42ª viagem apostólica internacional de seu Pontificado -, ao Jardim Vasco da Gama, em Lisboa.

Confessionários realizados por jovens detentos
Nesse grande espaço verde da capital portuguesa tem lugar um dos momentos mais significativos de toda a Jornada Mundial da Juventude: as confissões dos jovens. De fato, 150 confessionários, feitos por jovens detentos da prisão de Passos de Ferreira, construídos com materiais reciclados e recicláveis e feitos de forma a serem acessíveis a pessoas com deficiência, foram colocados no grande parque.

Confissão: um espanhol, uma guatemalteca e um italiano
O Papa – antes de ir ao Centro Social Paroquial São Vicente de Paulo para se encontrar com representantes de alguns centros de assistência e caridade -, tendo chegado em uma cadeira de rodas, confessou ele mesmo três jovens: um rapaz espanhol de 21 anos, uma moça guatemalteca de 33 anos e um italiano de 19 anos.


Fonte: Vatican News (texto de Raimundo de Lima)

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