Papa pede ajuda da Comunidade internacional contra a fome
13/02/2019
O Papa Francisco participou, nesta quinta-feira (14/02), da cerimônia de abertura da 42ª sessão do Conselho de Governadores do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida), agência das Nações Unidas. O encontro realizou-se na sede do Fundo das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), em Roma. Em seu discurso aos participantes do evento, Francisco agradeceu ao presidente do Fida, Gilbert F. Houngbo, pelo convite feito a ele em nome do organismo. “Minha presença deseja trazer a esta sede os anseios e as necessidades da multidão de nossos irmãos que sofrem no mundo”, disse, acrescentando: “Gostaria que pudéssemos olhar para seus rostos sem ficarmos vermelhos de vergonha, pois finalmente seu clamor foi ouvido e suas preocupações foram atendidas”.
“Eles vivem em situações precárias: o ar está viciado, os recursos naturais dizimados, os rios poluídos, os solos acidificados; eles não têm água suficiente para si ou para suas colheitas; suas infraestruturas de saúde são precárias, suas casas escassas e defeituosas”.
Segundo Francisco, “essas realidades se prolongam no tempo, quando, por outro lado, a nossa sociedade alcançou grandes conquistas nas áreas do saber. Isso quer dizer que estamos diante de uma sociedade que é capaz de progredir em seus propósitos de bem, e vencerá também a batalha contra a fome e a miséria se a propor seriamente”.
Estar decididos nesta luta é primordial para que possamos ouvir, não como um slogan, mas realmente: “A fome não tem presente nem futuro. Apenas passado”. Para isso, é necessária a ajuda da Comunidade internacional, da sociedade civil e daqueles que possuem recursos. Não se foge das responsabilidades, passando-as de uns para outros, mas devem ser assumidas a fim de oferecer soluções concretas e reais”.
Incentivo da Santa Sé
A Santa Sé sempre incentivou os esforços feitos pelas agências internacionais para combater a pobreza. Em dezembro de 1964, São Paulo VI pediu, em Bombaim, atual Mumbai, na Índia, “e depois reiterou em outras circunstâncias, a criação de um Fundo mundial para combater a miséria e dar um impulso decisivo na promoção integral das áreas mais pobres da humanidade. Desde então, os seus sucessores não deixaram de animar e incentivar iniciativas semelhantes, e um dos exemplos mais conhecidos é o Fida”, sublinhou o Papa.
“Esta 42ª sessão do Conselho de Governadores do Fida segue essa lógica e tem diante de si um trabalho fascinante e crucial: criar possibilidades inéditas, dissipar hesitações e colocar cada povo em condições de enfrentar as necessidades que os afligem. A Comunidade internacional, que elaborou a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, precisa tomar outras medidas a fim de alcançar os 17 objetivos que a compõem”.
A esse propósito, Francisco sublinhou que “a contribuição do Fida é imprescindível para cumprir os primeiros objetivos da Agenda, os que se referem à erradicação da pobreza, a luta contra a fome e a promoção da soberania alimentar”.
“Nada disso será possível sem alcançar o desenvolvimento rural, um desenvolvimento do qual se fala há muito tempo, mas que não se concretiza”, disse. “É paradoxal que uma boa parte dos mais de 820 milhões de pessoas que sofrem de fome e desnutrição no mundo vivam nas áreas rurais, se dedicam à produção de alimentos e são camponesas. Além disso, o êxodo do campo para a cidade é uma tendência global que não podemos ignorar”, lamentou.
“O desenvolvimento local tem valor em si mesmo e não em função de outros objetivos. Trata-se de garantir que cada pessoa e cada comunidade possa desenvolver suas próprias capacidades de maneira plena, vivendo assim uma vida humana digna desse nome”, frisou ainda o Papa.
Francisco exortou os responsáveis das nações, as organizações intergovernamentais e todos dos setores público e privado, “a desenvolverem os canais necessários para que medidas apropriadas possam ser implementadas nas áreas rurais da Terra, a fim de que as pessoas possam ser artífices responsáveis de sua produção e progresso”.
INSPIRADOR NA LUTA CONTRA A FOME
O Papa Francisco tem sido um grande inspirador da luta contra a fome e contra a desigualdade no mundo: palavras do diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), Dr. José Graziano da Silva. O brasileiro foi um dos anfitriões do Papa Francisco na sede da FAO, para a abertura da 42ª Assembleia do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA): “O Papa Francisco tem sido um grande inspirador da luta contra a fome e contra a desigualdade no mundo de modo geral. Particularmente a palavra do Santo Padre no sentido de procurar uma alimentação mais saudável e que tenha um menor impacto no uso dos recursos naturais, principalmente das terras e águas em todo o mundo, tem sido fundamental para inspirar os nossos programas e projetos”.
Dr. Graziano se declara “honrado” em receber a visita do Papa, recordando que o Pontífice já esteve outras vezes na sede FAO, mas a visita é inédita numa conferência do FIDA: “O FIDA é um dos maiores parceiros da FAO. Na verdade, a nossa colaboração com as três agências romanas – FAO, FIDA e PAM – tem crescido muito nos últimos anos. Particularmente com o FIDA temos uma ação com os agricultores familiares. O FIDA é um mecanismo de financiamento para os agricultores familiares e a FAO ajuda não só a elaborar os projetos que são apresentados, mas também ajuda muitas vezes a implementar esses projetos no terreno. Como vocês sabem, a agricultura familiar é muito importante para a FAO – são 500 milhões de agricultores em todo o mundo – e o paradoxo é que são entre os mais pobres e muitos deles passam fome porque não conseguem nem produzir o suficiente para alimentar a sua família. São os agricultores de subsistência, para quem também há um programa especial com o FIDA para torná-los mais produtivos e levar a sua produção aos mercados locais”.
Aos indígenas: obrigado por salvaguardar o meio ambiente
A 4ª reunião do Fórum dos Povos Indígenas convocada pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), tem como tema: “Fomentar os conhecimentos e as inovações dos povos originários em prol da resiliência às mudanças climáticas e o desenvolvimento sustentável”. Na ocasião, o Papa encontrou um grupo de 38 delegados de 31 povos indígenas provenientes das Américas, África, Ásia e Pacífico. O Fórum, instituído em 2011, é uma plataforma de diálogo permanente entre os representantes dos povos indígenas, o FIDA e os governos internacionais.
Ao encontrar os participantes do encontro o Papa Francisco observou que “a presença de vocês aqui mostra que as questões ambientais são de extrema importância”, porque o nosso planeta, prosseguiu, “está ferido por causa da avidez humana, pelos conflitos bélicos”, que dão origem a “catástrofes naturais que deixam rastros de penúria e devastação”.
“Não podemos continuar ignorando estes flagelos respondendo com a indiferença e ou a insolidariedade ou adiando medidas que os afrontem com eficácia”, disse. “Somente um vigoroso sentido de fraternidade fortalecerá nossas mãos para socorrer hoje os que precisam e abrir a porta do amanhã às novas gerações”.
Águas cristalinas e solo fértil
Francisco continuou recordando que “Deus criou a terra para o benefício de todos, para que fosse um espaço acolhedor onde ninguém se sentisse excluído e todos pudessem encontrar um lugar. Nosso planeta é rico em recursos naturais” e recordou que “o homem não é o proprietário da natureza, mas apenas o seu gerente. A sua função é cuidar da terra com esmero, para que não perca a sua biodiversidade, e a água possa continuar sendo saudável e cristalina, o ar puro, as matas frondosas e o solo fértil”.
Cuidado da casa comum
Ao falar da presença dos povos originários disse: “Os povos indígenas são um grito vivo em favor da esperança. Recordam que nós, seres humanos temos uma responsabilidade compartilhada com o ‘cuidado da casa comum’”. Em seguida ao falar sobre decisões tomadas no passado que não deram certo afirmou: “nunca é tarde para aprender a lição e adquirir um novo estilo de vida”.
Francisco continuou dizendo “se unirmos as forças e, com espírito construtivo estabelecermos um diálogo paciente e generoso, teremos maior consciência de que temos necessidade uns dos outros, e que uma ação prejudicial ao meio ambiente que nos circunda repercute negativamente também na serenidade e na harmonia da convivência”.
Em seguida o Papa agradeceu os indígenas presentes afirmando: “Obrigado a todos vocês pela tenacidade com que afirmam que a terra não deve ser apenas explorada sem um objetivo. Obrigado por levantarem a voz para assegurar que o respeito ao meio ambiente deve ser sempre salvaguardando acima dos interesses exclusivamente econômicos e financeiros”.