Papa na Eslováquia: trabalhar pela reconciliação das diferenças
13/09/2021
Na tarde deste domingo (12/09), o Papa Francisco deixou o solo húngaro e se dirigiu para Bratislava, na Eslováquia, dando prosseguimento à sua 34ª viagem apostólica internacional. Na Nunciatura Apostólica de Bratislava, o Pontífice encontrou-se com o Conselho Ecumênico das Igrejas na República Eslovaca.
“Este encontro é um sinal de que a fé cristã é – e quer ser – neste país semente de unidade e fermento de fraternidade”, disse Francisco que a seguir, acrescentou:
O caminho de suas comunidades pôde ser retomado após os anos da perseguição ateia em que a liberdade religiosa esteve impedida ou sujeita a dura prova. Agora, vocês têm em comum uma parte do caminho, experimentando como é belo, mas ao mesmo tempo difícil, viver a fé em liberdade. De fato, existe a tentação de voltar a ser escravos, não certamente de um regime, mas de uma escravidão ainda pior: a interior.
“Daqui, do coração da Europa, perguntemo-nos: Será que nós, cristãos, perdemos um pouco o ardor do anúncio e a profecia do testemunho? É a verdade do Evangelho que nos faz livres, ou então sentimo-nos livres quando alcançamos áreas de conforto que nos permitem gerir a vida e avançar tranquilos sem particulares contratempos? Contentando-nos com pão e segurança, será que não perdemos o ímpeto na busca da unidade que Jesus implorou, uma unidade que certamente requer a liberdade madura de opções fortes, renúncias e sacrifícios, mas é a premissa para que o mundo creia? Não nos preocupemos apenas com o que possa ser útil às nossas próprias comunidades; a liberdade do irmão e da irmã é também a nossa liberdade, porque, sem a dele e a dela, não será plena a nossa liberdade”, disse ainda Francisco.
A seguir, o Papa recordou os santos Cirilo e Metódio, responsáveis pela expansão do cristianismo entre os eslavos do Leste europeu, dizendo que ali, “a evangelização nasceu de modo fraterno, trazendo impresso o selo dos santos irmãos de Tessalônica”.
Que eles, testemunhas dum cristianismo ainda unido e inflamado pelo ardor do anúncio, nos ajudem a continuar o caminho, cultivando entre nós a comunhão fraterna no nome de Jesus. Caso contrário, como podemos desejar uma Europa que reencontre as suas raízes cristãs, se somos nós os primeiros desarraigados da plena comunhão? Como podemos sonhar com uma Europa livre de ideologias, se não temos a coragem de antepor a liberdade de Jesus às necessidades dos grupos particulares de fiéis? É difícil exigir uma Europa mais fecundada pelo Evangelho sem se preocupar com o fato de ainda não estarmos plenamente unidos entre nós no continente e sem cuidarmos uns dos outros. Cálculos de conveniência, razões históricas e laços políticos não podem ser obstáculos irremovíveis no nosso caminho.
“Que os Santos Cirilo e Metódio, «precursores do ecumenismo» nos ajudem a trabalhar pela reconciliação das diferenças no Espírito Santo; por uma unidade que, sem ser uniformidade, se revele sinal e testemunho da liberdade de Cristo, o Senhor que desata as amarras do passado e nos cura dos medos e da timidez”, disse ainda Francisco.
“A unidade não se alcança tanto com os bons propósitos e a adesão a qualquer valor comum, mas fazendo algo em conjunto por aqueles que mais nos aproximam do Senhor. Quem são? Os pobres, porque neles está presente Jesus”, frisou o Papa, acrescentando:
A partilha da caridade abre horizontes mais amplos e ajuda a caminhar mais rápido, superando preconceitos e equívocos. Trata-se de um traço que encontra também genuína aceitação neste país. Que o dom de Deus esteja presente sobre a mesa de todos, pois, embora ainda não possamos partilhar a mesma Mesa Eucarística, podemos hospedar juntos Jesus, servindo-O nos pobres. Será um sinal mais sugestivo do que muitas palavras, que ajudará a sociedade civil a compreender, especialmente neste período doloroso, que só estando do lado dos mais fracos poderemos sair verdadeiramente todos da pandemia.
Por fim, o Papa disse que “o caráter sereno e acolhedor, típico do povo eslovaco, a tradicional convivência pacífica entre” eles, e a “sua colaboração em prol do bem do país são elementos preciosos para o crescimento do Evangelho”. Francisco encorajou a “prosseguir no caminho ecumênico, tesouro irrenunciável e valioso”.
Fonte: Vatican News (texto de Mariangela Jaguraba )
O encontro do Papa com os jesuítas eslovacos:
“Ele fortaleceu a nossa identidade”
Os 53 confrades jesuítas de toda a Eslováquia acolheram com um sorrido o Papa Francisco em um encontro privado no final da tarde deste domingo, 12, na Nunciatura Apostólica em Bratislava. Um encontro com os membros da Companhia de Jesus da Igreja local, que já se tornou uma tradição consolidada em todas as Viagens Apostólicas. Francisco ouviu suas perguntas, fez outras, encorajou sua missão em uma época de secularização e declínio vocacional. Nunca se mostrou cansado, como dizem os presentes, apesar da intensidade das atividades no primeiro dia da viagem que começaram em Budapeste e se concluíram em Bratislava.
Uma pessoa da família
Tudo durou cerca de uma hora e meia. “Correu muito bem, em um ambiente sereno”, afirma o padre Jozef Bartkovjak, responsável pela Secção eslovaca da Rádio Vaticano-Vatican News e correspondente em Bratislava, que esteve presente neste encontro que define como “um encontro de família”.
Embora ainda não tivesse jantado e recém tinha saído de um exigente encontro com o Conselho Ecumênico de Igrejas, o Santo Padre “mostrou-se bem renovado. Ele já tinha feito várias coisas, mas estava bem presente, brincou, estava animado. Deu-nos a impressão de estarmos reunidos com uma pessoa muito querida, com quem é um prazer estar juntos. Uma pessoa que conhecemos, mas não conhecíamos de perto. Ouvimos as suas palavras e pudemos dizer-lhe o que desejamos, o que fazemos”.
Encorajamento à missão
O Papa, de sua parte, encorajou fortemente os 53 jesuítas (são 80 no total, em toda a Eslováquia) a continuar a missão no país que se desenvolve em vários apostolados, com particular ênfase na educação e formação, em uma Faculdade de Teologia e duas Casas para Exercícios Espirituais, que permaneceram ativas mesmo durante os anos sombrios do regime comunista.
Um alento não desprezível nos tempos difíceis como os de hoje, marcados pela pandemia de Covid-19, mas também pela secularização que permeia toda a Europa, pelo declínio demográfico e das vocações. “É algo que sentimos muito … No passado – explica padre Jozef – na Igreja clandestina durante o regime comunista, os jesuítas formavam novos membros, quase um noviciado escondido. Isso permitiu que em nossa Província nunca se pulasse uma geração, cada ano foi preenchido, mesmo durante o comunismo”.
Novos desafios
Agora há novos desafios pela frente, mas, diz o religioso, “ter o encorajamento do Papa que nos fez sentir realmente a sua presença, que apreciou o que fazemos apesar das dificuldades, ajudou-nos a não desanimar”. “Todo jesuíta, de fato – relata Bartkovjak – que vincula sua vocação à do Sucessor de Pedro, sentiu nossa identidade fortalecida. Estar perto do Papa e não sentir nenhum bloqueio era como um carinho”.
Perguntas e respostas
O que tornou a visita ainda mais livre e familiar foi certamente o caráter reservado do encontro: a portas fechadas e sem a presença da mídia. Nenhuma palavra sobre o conteúdo do encontro, de fato, por parte dos presentes, mas muitos comentários sobre o estado de espírito do Pontífice. “Como mencionei, foi tudo muito espontâneo. Várias perguntas surgiram dos jesuítas presentes, mas também do Santo Padre. Poderíamos conversar sobre qualquer coisa, com muita liberdade”.
O encontro terminou com uma foto de grupo e se “o Santo Padre parecia satisfeito”, os jesuítas dizem que estão “100% satisfeitos, aliás, 200%”.
Fonte: Vatican News (texto de Salvatore Cernuzio )