Papa pede perdão pela indiferença dos cristãos
11/11/2016
Cidade do Vaticano – Peço-lhes perdão pelas pessoas da Igreja que não olharam para vocês, que voltaram o olhar para o outro lado: foram palavras do Papa Francisco acolhendo ao meio-dia desta sexta-feira, 11 de novembro, na Sala Paulo VI, no Vaticano, cerca de quatro mil pessoas provenientes de muitos países europeus que viveram ou que vivem na rua, presentes estes dias em Roma para celebrar o seu Jubileu da Misericórdia. Várias associações que assistem pessoas em grave situação de precariedade e sem-teto aderiram ao evento promovido pela Associação francesa “Irmão”.
As palavras pronunciadas pelo arcebispo de Lion, Cardeal Philippe Barbarin, abrindo o encontro, foram precedidas dos calorosos cumprimentos e abraços entre Francisco e seus convidados.
“Vimos encontrar a Igreja e o próprio Cristo”, disse Etienne Villemain da Associação Irmão dirigindo-se ao Papa, a quem agradeceu por habitualmente recordá-los desse modo. Também nós queremos experimentar a ternura de Deus, disse, expressando ao Pontífice um grande desejo: de que possam ser organizadas Jornadas mundiais dos pobres.
Em seguida, Christian e Robert deixaram o seu testemunho: dois sem-teto, repletos de gratidão para com aqueles que os ajudaram e para com o Papa, por levar consigo os pobres em seu coração.
O Pontífice iniciou dizendo ter anotado algumas palavras que tinha acabado de ouvir. As seguintes: “como seres humanos não nos diferenciamos dos grandes do mundo. Temos nossas paixões e nossos sonhos, que buscamos levar adiante dando pequenos passos”.
A paixão e os sonhos: duas palavras que podem ajudar. “Não deixem de sonhar”, recomendou o Santo Padre, falando espontaneamente aos presentes, ou seja, sem texto previamente preparado.
“A pobreza está no coração do Evangelho. Aquele que tem tudo não pode sonhar! As pessoas, os simples foram até Jesus porque sonhavam que os haveria de curar, de libertar, de servir e seguiram-no e Ele os libertava.”
Uma segunda palavra: “A vida é tão bela”. O que significa que a vida seja bela mesmo nas situações piores? – perguntou-se o Papa. Isso significa dignidade! A mesma dignidade que teve Jesus que nasceu pobre, que viveu como pobre: “Sei que muitas vezes vocês encontraram pessoas que queriam explorar a pobreza de vocês… Porém, sei que este sentimento de ver que a vida é bela, este sentimento, esta dignidade, salvou-os de ser escravos. Pobre sim, escravo não! A pobreza está no coração do Evangelho, para ser vivida. A escravidão não está no Evangelho para ser vivida, mas par ser libertada.”
Sempre encontramos pessoas mais pobres do que nós, a capacidade de ser solidários é um dos frutos que a pobreza nos dá: “obrigado por este exemplo que vocês dão. Vocês ensinam ao mundo a solidariedade!” Francisco disse ter ficado impressionado ao ouvir falar de paz. A pobreza maior é a guerra, afirmou, a guerra que destrói: “A paz que, para nós cristãos, teve início numa estrebaria, a partir de uma família marginalizada; a paz que Deus quer para cada um de seus filhos. E vocês, a partir da pobreza, da situação em que vivem, podem ser artífices de paz. A guerra se faz entre ricos, para ter mais, para ter mais território, mais poder, mais dinheiro. Precisamos de paz no mundo! Precisamos de paz na Igreja; todas as Igrejas precisam de paz; todas as religiões precisam crescer na paz.”
Agradeço a vocês por terem vindo aqui visitar-me, disse, por fim Francisco, pedindo perdão se alguma vez os ofendeu com suas palavras ou por não ter dito as coisas que deveria dizer: “Peço-lhes perdão por todas as vezes que nós, cristãos, diante de uma pessoa pobre ou de uma situação pobre olhamos para o outro lado. O perdão de vocês, a homens e mulheres da Igreja, que não querem olhar ou não quiseram olhar para vocês, é água benta para nós, é limpeza para nós, é ajudar-nos a voltar a crer que no coração do Evangelho está a pobreza como grande mensagem e que nós – os católicos, os cristãos, todos – devemos formar uma Igreja pobre para os pobres.”
Ao término do encontro, o Papa, colocando-se de pé, recitou uma invocação ao Senhor: “Deus, Pai de todos nós, de cada um de vossos filhos, peço-vos que nos dê força, que nos dê alegria, que nos ensine a sonhar para olhar adiante; que nos ensine a ser solidários, porque somos irmãos; e que nos ajude a defender a nossa dignidade”.
Em seguida, Francisco deteve-se ainda por um momento intenso de oração silenciosa, circundado de homens e mulheres que lhe puseram as mãos em suas costas. Um gesto que expressou, mais do que as palavras, a amizade entre o Papa e os pobres.