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Papa: episcopado é o nome de um serviço, não de uma honra

17/10/2021

Papa Francisco

  Imagens: Vatican Media

O Papa Francisco presidiu à Santa Missa na manhã deste domingo, com o rito de ordenação episcopal de Guido Marini e de Andrés Gabriel Ferrada Moreira. Destinado à diocese de Tortona, norte da Itália, Dom Guido Marini concluiu seu período de 14 anos como mestre das celebrações pontifícias com a ordenação episcopal. A missa deste domingo marcou o início do serviço do seu sucessor, Mons. Diego Ravelli. Já o chileno Andrés Gabriel Ferrada Moreira foi nomeado pelo Papa Francisco secretário da Congregação para o Clero.

Sempre servir
Em sua homilia, o Pontífice propôs uma reflexão sobre a responsabilidade eclesial do bispo. “O Senhor nosso Jesus, enviado pelo Pai para redimir os homens, por sua vez enviou ao mundo os doze apóstolos para que, repletos da potência do Espírito Santo, anunciassem o Evangelho a todos os povos”, explicou o Papa.

A fim de perpetuar de geração em geração este ministério apostólico, os Doze se muniram de colaboradores, transmitindo a eles, com a imposição das mãos, o dom do Espírito recebido por Cristo. Assim, através da ininterrupta sucessão dos bispos na tradição viva da Igreja, se manteve este ministério primário e a obra do Salvador continua e se desenvolve até os nossos tempos. No bispo, circundando dos seus presbíteros, está presente o próprio Senhor Jesus Cristo, sumo sacerdote em eterno.

Dirigindo-se à assembleia, Francisco pede então que acolha com alegria e gratidão esses nossos irmãos, que hoje se associam ao colégio episcopal. Aos novos bispos, pediu que reflitam sobre o fato de que foram escolhidos entre os homens para os homens, não para si mesmos.

“’Episcopado’, com efeito, é o nome de um serviço – não é verdadeiro episcopado sem serviço -, não de uma honra – como queriam os apóstolos, um à direita, outro à esquerda -, porque ao bispo compete mais servir do que dominar, segundo o mandamento do Mestre: ‘Quem é o maior entre vós, se torne o menor. E quem governa, como quem serve’. Servir. E com este serviço, vocês vão custodiar a vocação e serão autênticos pastores no servir, não nas honras, na potestade, na potência… Não. Servir, sempre servir.”

Proximidade
Francisco então faz uma série de exortações: anunciem a Palavra em qualquer ocasião, oportuna ou não. Advirtam, repreendam e exortem com magnanimidade e doutrina, continuem a estudar. Vocês serão os custódios do serviço, da caridade na Igreja, por isso Deus os quer próximos. Proximidade, aliás – disse o Papa – , é o traço mais característico de Deus.

“Por favor, não abandonem esta proximidade”, afirmou, citando as quatro proximidades do bispo: a Deus, aos bispos, aos sacerdotes e ao povo. Sempre na oração: “A primeira tarefa do bispo é rezar e não como um papagaio. Não! Rezar com o coração, rezar. “Eu não tenho tempo.” Não! Deixe todas as outras coisas, mas rezar é a primeira tarefa do bispo.”

O Papa recordou que dentro da Igreja não há “partidos”, portanto recomendou a proximidade a todos os bispos, sem falar mal dos irmãos. E pediu tempo para dedicar aos sacerdotes, sem que tenham que esperar dias para serem recebidos e ouvidos. “Quantas vezes ouvi lamentações, que um sacerdote diz: ‘Liguei para o bispo, mas a secretária disse que estava com a agenda cheia, que talvez em 30 dias poderia me receber…’. Isso não está certo. Se souber que um sacerdote o procurou, ligue no mesmo dia ou no dia seguinte.”

Francisco então concluiu: “Que o Senhor os faça crescer neste caminho da proximidade, assim imitarão melhor o Senhor, porque Ele sempre esteve próximo a nós e, com a sua proximidade que é de compaixão e de ternura, nos leva avante. E que Nossa Senhora os proteja.”


Angelus: a lógica de Cristo é descer do pedestal para servir

Depois de celebrar a missa na Basílica de São Pedro, o Papa Francisco rezou com os fiéis reunidos na Praça São Pedro a oração do Angelus. Comentando o Evangelho deste 29º Domingo do Tempo Comum, o Pontífice destacou dois verbos: emergir e imergir.

Marcos narra que dois dos discípulos, Tiago e João, pedem ao Senhor para se sentar ao Seu lado na glória, “como primeiros-ministros”, causando indignação nos demais. Jesus então ensina que a verdadeira glória se obtém vivendo o batismo que estava para receber em Jerusalém, e não elevando-se sobre os outros.

A palavra batismo significa “imersão”. Portanto, a glória de Deus é amor que se faz serviço, não poder que busca o domínio.

As ciladas da busca do prestígio pessoal
Emergir, explicou o Papa, expressa aquela mentalidade mundana da qual somos sempre tentados: viver todas as coisas, até mesmo as relações, para alimentar a nossa ambição, para subir os degraus do sucesso. A busca do prestígio pessoal, advertiu, pode se tornar uma doença do espírito. “Isso na Igreja também acontece”, lamentou Francisco: “Quantas vezes, nós cristãos, que deveríamos ser os servidores, buscamos galgar, ir avante.” É importante sempre verificar as verdadeiras intenções do coração e perguntar-se se levo avante um serviço somente para ser notado e louvado.

A esta lógica mundana, Jesus propõe a sua: ao invés de elevar-se sobre os demais, descer do pedestal para servir. Ao invés de emergir sobre os outros, imergir-se na vida dos outros. O Papa então citou um programa da televisão italiana que veiculou uma reportagem sobre o serviço da Cáritas para que ninguém fique sem alimento: “Preocupar-se com a fome dos outros, preocupar-se com as necessidades dos outros. São muitos, muitos os necessitados hoje e mais ainda depois da pandemia. Olhar e abaixar-se no serviço e não buscar galgar para a própria glória”.

Eis então o segundo verbo: imergir-se. Jesus não ficou lá no céu, a olhar-nos do alto, mas se abaixou para lavar nossos pés. E pede que façamos o mesmo com os outros com compaixão.

“Mas nós pensamos com compaixão na fome de tantas pessoas? Quando estamos diante da refeição, há uma graça de Deus, que nós podemos comer. Há pessoas que trabalham e não conseguem ter o alimento suficiente para todo o mês. Pensemos nisto! E imergir-se com compaixão, ter compaixão não é um dado de enciclopédia. Não! São pessoas e eu sinto compaixão por essas pessoas?”

Mas para passar do emergir ao imergir, só o empenho não é suficiente. Mas cada um tem dentro de si a força do batismo, daquela imersão em Jesus que impulsiona a segui-Lo, é um fogo que o Espírito acendeu e que deve ser alimentado.

Francisco então concluiu pedindo a Nossa Senhora nos ajude a encontrar Jesus. “Ela, mesmo sendo a maior, não buscou emergir, mas foi a humilde serva do Senhor e imergiu-se completamente ao nosso serviço para nos ajudar a encontrar Jesus.”


Fonte: Vatican News