Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

“O cuidado é mais que uma virtude”, afirma Leonardo Boff

23/06/2017

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Érika Augusto

São Paulo (SP) – Na noite desta quinta-feira (22), o teólogo e filósofo Leonardo Boff esteve em São Paulo, no Teatro Tucarena, na Pontifícia Universidade Católica (PUC), para lançar quatro livros e fazer um bate-papo com os leitores. Entre os participantes estava o Pe. José Oscar Beozzo, da Casa da Reconciliação, apontado por Leonardo Boff como um dos padres mais inteligentes do Brasil. O evento foi realizado pela Pró-Reitoria de Cultura e Relações Comunitárias da PUC São Paulo, Hospital Premier e OBORÉ Projetos Especiais, que foram representados por Antonio Carlos Malheiros, Dr. Samir Salman e Sérgio Gomes, respectivamente.

Os livros, lançados em 2016 e 2017, são de 4 editoras diferentes e abordam diferentes temáticas. Lançado em 2016, pela Editora Mar de Ideias Navegação Cultural, o livro “De onde vem” aborda a nova cosmologia e nasceu a partir de um outro livro, “O Tao da Libertação – Explorando a Ecologia da Transformação”, escrito em parceria com o cosmólogo norte-americano Mark Hathaway. Segundo Boff, este livro lançado no Brasil é uma tentativa de trazer o assunto para a população em geral. De onde vem é um livro mais lúdico, com ilustrações e uma linguagem mais popular, e é recomendado para crianças e adolescentes.

“O livro dos Elogios”, lançado em 2017 pela Editora Paulus, tem como objetivo resgatar pequenos gestos e símbolos do cotidiano. “Onde domina o poder, não há amor e misericórdia”, afirmou o teólogo ao comentar um pedido do Papa Francisco aos cardeais por ocasião do Ano da Misericórdia. O Pontífice, na época, pediu que o medo não fosse mais usado como modo de conversão, mas a misericórdia. “A Igreja tem que ser uma casa aberta, não um castelo com dragões. Quando a pessoa entra, sai reconciliado, mais humanizado”, ressaltou o teólogo.

Também lançado em 2017, pela Editora Paulinas, o livro “A Casa comum, a Espiritualidade, o Amor”, aborda a importância do resgate da razão cordial e a relação do ser humano com a Criação. “A essência da relação é o cuidado, o amor, está no coração”, afirmou Boff. O teólogo recordou ainda o exemplo de São Francisco de Assis. “Ele sentia todas as criaturas como irmãos e irmãs, abraçava todos os seres”, ressaltou.

“O Divino em nós”, lançado pela Editora Vozes, tem a coautoria do monge beneditino Anselm Grün. A obra é dividida em duas partes, a primeira, escrita por Grün, aborda o Divino no humano, e a segunda, escrita por Boff, aborda o Divino no Universo. “Deus é esta realidade sempre presente, podemos reconhecê-la, internalizá-la, dialogar com ela, sermos seres espirituais”, acrescentou o teólogo.

Brasil: para além da indignação, coragem para dar novos passos
Antes de falar sobre os livros, Leonardo Boff fez algumas considerações a respeito da situação política do Brasil. “O que ocorreu e foi desmascarado é fruto dos 500 anos de nossa história”, afirmou, criticando o governo feito por cima e de costas para o povo. “Isso gerou uma situação que é a profunda desigualdade da sociedade brasileira. Desigualdade é uma palavra neutra. Política ou eticamente significa injustiça social, teologicamente significa pecado – contra Deus, contra os filhos e filhas de Deus”, acrescentou Boff.

Para ele, o momento é de retomar a esperança, não se resignar diante da situação, mas, a partir da indignação, ter coragem para dar novos passos. “Temos todas as bases ecológicas, culturais, econômicas, para ter uma arrancada nova”, encorajou.

Donald Trump pode ameaçar a espécie humana
No início de sua fala, Leonardo Boff falou a respeito do presidente dos Estados Unidos e alertou para o perigo que o mundo corre com sua administração. Ele citou uma declaração de Paul Krugman, ganhador do Prêmio Nobel de Economia, ao afirmar que Trump é uma ameaça não somente os Estados Unidos, mas para o mundo todo.

Necessidade do cuidado
O teólogo falou sobre o meio ambiente e a urgência de mudanças na relação do homem com a Criação. Ele afirmou que a lógica de dominação está levando o mundo para um caminho sem retorno. “Talvez o cuidado seja a alternativa da sociedade e da nossa civilização”, apontou. “O cuidado é um gesto amoroso com a realidade, a carícia essencial, a relação não-destrutiva com a realidade”, acrescentou Boff, que comentou a Encíclica “Laudato Sí’” e a “Carta da Terra”, lançada em 1992. “Uma civilização onde todos cuidam da terra, do lixo, da água, um do outro, da linguagem, para que não haja um corte na comunicação. O cuidado é mais que uma virtude, é um princípio estruturante da civilização”, animou o teólogo.

Ao final, Sergio Gomes, da OBORÉ, convidou os presentes para a celebração dos 80 anos do nascimento de Vladimir Herzog, que acontecerá no próximo sábado, 24 de junho, das 10h às 12h, na Praça Memorial Vladimir Herzog, ao lado da Câmara Municipal.

Após sua fala, Leonardo Boff continuou autografando os livros e conversando com os participantes.