Migrações: o acolhimento é um dever cristão
18/10/2018
Cidade do Vaticano – A maior parte dos meios de comunicação, quando aborda o tema das migrações, refere-se em particular aos jovens que partem da África para chegar à Europa. Mas essa é uma visão limitada porque parte das migrações dos jovens, 80%, se dá internamente na África.
O arcebispo de Adis-Abeba, capital etíope, cardeal Berhaneyesus Demerew Souraphiel, recordou este dado, pouco analisado na mídia ocidental, ao participar do briefing desta quinta-feira (18/10) na Sala de Imprensa da Santa Sé sobre os trabalhos sinodais em andamento no Vaticano.
É triste saber que fronteiras são fechadas
A África, ressaltou o purpurado, é devastada pela corrupção, pelos conflitos, por guerras civis e pelo comércio de armas. Por causa desse comércio, em particular, morrem muitas crianças recrutadas como soldados.
“Hoje não é fácil ser um migrante”, deixar a própria casa e a família: um estrangeiro que bate à porta deve ser acolhido. Mas é triste saber “que algumas fronteiras são fechadas”, disse o cardeal etíope.
“A Igreja está do lado dos deslocados, das pessoas obrigadas a deixar suas casas”, declarou ele. “Há 40 milhões de escravos no mundo e a maior parte é de jovens”, recordou.
Ouvir o grito dos jovens
Por sua vez, a docente de Economia na Pontifícia Faculdade de Ciências da Educação Auxilium, em Roma, Irmã Alessandra Smerilli, observou que “economia e ecologia têm a mesma raiz”. A Carta Encíclica Laudato si’ nos faz entender que “não se pode deixar de ouvir o grito da terra e dos jovens”, disse a religiosa.
Referindo-se ao relatório da Caritas italiana, Irmã Smerilli destacou também que na Itália, pela primeira vez após a Segunda Guerra Mundial, a incidência da pobreza absoluta é mais alta entre os jovens do que entre os anciãos. Na Itália 50% dos pobres é formado por jovens ou menor de idade. “Esse estado de coisas não poderá mudar se não for tomado o caminho da sustentabilidade”, concluiu ela.
Sínodo, experiência de comunhão
O arcebispo de Bolonha, Dom Matteo Zuppi, ressaltou que o Sínodo é uma experiência de grande comunhão, de encontro, também de conhecimento e de escuta. É um poliedro que apresenta situações muito diferentes, acrescentou. Falou-se do diálogo inter-religioso, dos refugiados, dos migrantes. Muitos desses são jovens, evidenciou o prelado.
Na mesma linha pronunciou-se também o secretário do Dicastério Vaticano para os Leigos, a Família e a Vida, Pe. Alexandre Awi Mello: “O Sínodo é por si um sucesso. Valeu a pena estar aqui. Temos respirado um espírito de comunhão, de esperança”, frisou o sacerdote brasileiro.
A política seja um serviço
O prefeito do Dicastério Vaticano para a Comunicação, Paolo Ruffini, recordou por sua vez que entre os temas surgidos durante as últimas assembleias sinodais destaca-se o papel da política como forma de serviço.
Os jovens, em particular, estão preocupados com a ascensão de lideranças corruptas. Outra questão abordada foi a da escravidão: a Igreja, disse, tem um papel crucial no combate ao tráfico de seres humanos. Por fim, Ruffini divulgou que foi composta uma Comissão para a redação de uma Carta a ser endereçada aos jovens do mundo inteiro.
Fonte: Vatican News