Mensagem da Ordem Franciscana para o início do Ramadã
23/05/2017
O Ramadã é o nono mês do calendário islâmico. Nesse mês, os muçulmanos jejuam durante o dia, rezam e celebram a revelação do Corão, o livro sagrado, ao profeta Maomé (SWT). As datas para o Ramadã de 2017 (ou 1438, segundo o calendário islâmico) é de 27 de maio a 25 de junho.
O Ramadã é o período do ano mais importante para o mundo islâmico, quando faz-se o jejum de dia e a celebração da purificação à noite. O Ramadã é um mês de festividades e alegrias e as relações com a família são estreitadas, as orações se tornam mais intensas, assim como a caridade.
O Ramadã é praticado durante todos os dias do mês, começando na alvorada e terminando quando o sol se põe.
O jejum faz parte de um dos cinco pilares da religião islâmica. Os outros atos de adoração são a shahadah, que é a declaração de fé; salah, as cinco orações diárias; zakah, ou esmola; e o hajj, a peregrinação à Meca.
RAMADAN KAREEN!
(expressão em árabe para se desejar um ótimo mês)
ÍNTEGRA DA MENSAGEM DA ORDEM DOS FRADES MENORES
A nossos irmãos e irmãs muçulmanos em todo o mundo,
As-salaamu ‘alaykum! Paz a todos!
Em nome da Comissão Especial da Ordem dos Frades Menores para o Diálogo com o Islã, temos o prazer de expressar nossa saudação no início da celebração do Ramadã, um mês dedicado ao jejum, à oração e à esmola, honrando a Deus (SWT,2) e a revelação do Alcorão.
Os frades franciscanos e muçulmanos têm uma história em comum que remonta há quase 800 anos, começando com o nosso fundador São Francisco de Assis. Seguimos nos inspirando no encontro de São Francisco e o Sultão al-Malik al-Kamil em 1219, um encontro baseado na paz, admiração mútua e respeito. Com este espírito, nós os saudamos.
Durante este mês sagrado do Ramadã, nos os animamos e os apoiamos em seu jejum rigoroso. O jejum é uma prática prescrita a todos os filhos de Abraão (sobre Ele esteja a paz!) em nossos respectivos livros sagrados. Como religiosos na Igreja Católica, os frades praticam o jejum durante o tempo da Quaresma, que precede a nossa celebração da Páscoa, seguindo o exemplo de Jesus (sobre Ele esteja a paz!), que jejuou durante quarenta dias (Lucas 4, 2).
O jejum que vocês realizam agora é um poderoso sinal de seu compromisso com a fé e obediência a Deus (SWT) assim como está escrito no Alcorão (al-Baqara, 183): “Chegarás a ser mais justo” e poderá glorificar Deus e ser grato (al-Baqara, 185). Seu jejum expressa nossa fome comum e sede de um relacionamento mais íntimo com Deus (SWT), na fé, perdão, justiça e paz.
O Papa Francisco tem falado muitas vezes da união entre o jejum, a oração e a paz. No primeiro ano de seu Pontificado, 7 de setembro de 2013, ele chamou todos os crentes do mundo a jejuar e orar pela paz na Síria, no Oriente Médio e em todo o globo terrestre. Este dia foi escolhido para coincidir com a celebração do nascimento de Maria, que tanto cristãos como muçulmanos honram como a mãe de Jesus. Cristãos católicos a chamam de “Rainha da Paz”.
Hoje, muçulmanos e cristãos em todo o mundo sofrem discriminação, perseguição, guerra e violência. Como membros das duas maiores religiões do mundo, somos chamados, como irmãos e irmãs em Abrahaão (sobre Ele esteja a paz!), a darmos nossas mãos e corações para construir um mundo de paz e justiça.
Ao quebrar o jejum no final de cada dia do Ramadã, expressam o valor de uma comunidade compartilhada, de reunir-se em torno da comida. Alimento que é compartilhado com todos para que todos possam se beneficiar da bondade generosa de criação de Deus ‘Iftar, compartilhada com todos, que demonstra vivamente o que o Papa Francisco escreveu em sua encíclica sobre a Criação:
“Precisamos fortalecer a consciência de que somos uma família humana. Não há fronteiras ou barreiras políticas ou sociais que nos permitam isolarmo-nos, e é por isso que não há espaço para a globalização da indiferença “(Laudato Sí, 52).
Durante este mês, além de jejum, muitos de vocês também praticam o dever religioso do zakah, a caridade ou esmola, que se dá para o cuidado dos necessitados. Tal como acontece com o jejum. Cuidar dos pobres confiados a todos os filhos de Abraão é uma preocupação constante de todos os profetas de Deus (que a paz esteja com Eles!). Nos Salmos de Davi (que a paz esteja com Ele), ali lemos: “Defendam o pobre e o órfão, façam justiça ao humilde e ao necessitado” (Sl 82,3).
Jesus (sobre Ele esteja a paz) diz no Novo Testamento: “Antes, deem em esmola o que vocês possuem, e tudo ficará puro para vocês” (Lc 11,41).
Hoje, há mais de 740 milhões de pessoas no mundo que vivem em extrema [1] pobreza. A maioria dessas pessoas vive na África e na Ásia, em países habitados por muçulmanos e cristãos. A pobreza não é uma questão sectária; é um problema humano para o qual condividimos a responsabilidade, independentemente da religião, raça, etnia e país de origem.
Durante o período do Ramadã, vocês se dedicam devotamente à oração com especial atenção e frequência, superando a prática das cinco orações diárias. Os irmãos franciscanos, como homens de oração diária, valorizamos muito a grande devoção com que os nossos irmãos e irmãs muçulmanos buscam a oração. O Papa Francisco, recentemente, nos lembrou, citando o grande teólogo cristão Santo Agostinho, que o jejum e a esmola são “as duas asas da oração”, porque elas são sinais de humildade e caridade. (Homilia na Quarta-feira de Cinzas, 2017)
Acima de tudo, o mês do Ramadã é o momento em que vocês celebram a revelação do Alcorão. Como “Povo do Livro”, nós também reconhecemos que Deus (SWT) se comunica com a humanidade em Sua Palavra revelada aos profetas (sobre eles esteja a paz!). Durante mais de mil e quatrocentos anos, o glorioso Alcorão serviu de fundamento da vida muçulmana em muitas culturas e países, gerando uma grande devoção, erudição e obras sublimes de arte e arquitetura. Que continue inspirando grandes e santas ações e obras!
Todos os franciscanos do mundo desejam um abençoado Ramadã!
Ramadan Mubarak! Ramadan Kareem!
Michael D. Calabria, OFM
Manuel Corullón, OFM
Ferdinand Mercado, OFM
Jamil Albert, OFM
Comissão Especial para o Diálogo com o Islã da Ordem dos Frades Menores (OFM)
22 de maio de 2017
[1] Cf: https://ourworldindata.org/extreme-poverty/
[2] Sigla usada quando se menciona o nome do Senhor e se usa Subhanahu wa-ta’ala, que significa Glorificado e Exaltado sejas, recebendo a abreviação de SWT.
Tradução: Moacir Beggo