Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

‘Todos são chamados a restaurar a Casa do Senhor’

04/10/2017

Notícias

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São Paulo (SP) – O Ministro Provincial, Frei Fidêncio Vanboemmel, encerrou as festividades do dia de São Francisco, na Paróquia São Francisco de Assis, na Vila Clementino, que também é a Sede Provincial da Província da Imaculada Conceição do Brasil, presidindo a Celebração Eucarística das 19h30.  Frei Fidêncio teve como concelebrantes o Vigário Provincial, Frei César Külkamp, o pároco Frei Valdecir Schwambach e Frei Raimundo Castro.

Em sua homilia, Frei Fidêncio ressaltou que o ser humano deveria ser o exemplo para as criaturas e o responsável pela construção de uma fraternidade universal. Ele recordou que a sociedade da qual Francisco de Assis fazia parte não era muito diferente de hoje, com guerras, violência, ganância, mas que o jovem foi chamado a olhar para esta realidade com o olhar de Deus. “Quem foi São Francisco de Assis no seu tempo? Foi apenas um grãozinho de areia neste mundo, mas que soube fazer brilhar, através de sua vida a justiça de Deus, a paz do Senhor, anunciou a reconciliação, construiu a fraternidade e sobretudo ensinou a termos um olhar diferente para a nossa Casa Comum”, afirmou.

O frade concluiu afirmando que todos são chamados, assim como São Francisco, a restaurar a casa de Deus. “Somos chamados a recriarmos a grande fraternidade universal, não apenas entre nós, criaturas humanas, mas reconstruir a casa de Deus onde nós possamos, de coração puro e transparente, convidar todas as criaturas a louvar o Criador e podemos assim dizer: Deus construiu as coisas boas. Se existem rupturas, é por causa da ganância humana. Nós somos reconvocados a restaurar a Casa do Senhor”, concluiu.

No momento de ação de graças, Frei Valdecir agradeceu a fraternidade local pela ajuda nos festejos do padroeiro. Ele agradeceu de modo especial aos voluntários, que se dedicam diariamente no serviço da comunidade. Ele afirmou que todos que estiveram presentes durante a festa, puderam experimentar a graça de Deus e voltaram um pouco mais felizes para suas casas. Ao final, ele pediu uma salva de palmas, que foi acompanhada por muitos latidos, “todos ensaiados”, brincou o pároco.


A manhã franciscana no Centro e na Vila

Mais do que a bênção dos animaizinhos, a Festa de São Francisco de Assis, desde o dia 3, com o Trânsito (passagem), até  4 de outubro, é sempre um momento celebrativo, reflexivo e muito provocativo. Principalmente em tempos da Encíclica Laudato Si’. Os frades que presidiram as Celebrações Eucarísticas na manhã desta festa franciscana foram enfáticos em citar o Papa Francisco e seu pedido de socorro pela Mãe Terra.

São Francisco de Assis é Padroeiro da Paróquia da Vila Clementino e do Convento na região central de São Paulo. Os dois lugares são referências neste dia, onde o povo demonstra sua fé e devoção no santo que se encantava com o jeito de Deus humanizar-se com extrema humildade e simplicidade.

O Definidor da Província da Imaculada, Frei Gustavo Medella, presidiu a Missa das 10h30 no Convento São Francisco, que neste 2017 também está celebrando 370 anos de fundação. Frei Medella fez sua homilia a partir do canto de entrada, a conhecida oração “Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa paz”.

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Ivone e “Luna”

“Onde houver ódio, que eu leve amor… É um propósito bonito, muito conforme a espiritualidade cristã. Só que nenhum desses propósitos que aparecem nessa oração, pela qual temos tanto carinho, podem ser cumpridos se faltar o pedido introdutório que contém esta oração, que é: ‘Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa paz’. Porque Francisco sabia que, sem Deus, nada podemos fazer. Dizia Francisco que se de nós for tirada a graça de Deus, só sobram os vícios e os pecados. ‘Ah, mas Francisco tinha uma visão muito negativa do ser humano!’, pode alguém dizer. Não tinha, não! Ele tinha uma visão realista e sabia que era limitado, cheio de pecados e dificuldades, mas profundamente amado por Deus. Quando estamos abertos a esta graça, podemos ser, sim, instrumento de paz, de amor e de todo o bem”, explicou o frade.

Segundo Frei Gustavo, para fazermos tudo isso que a canção nos propõe – o amor, a esperança, a alegria, a luz -, precisamos ter os reservatórios destas virtudes cheios. “E aí onde nós vamos buscar? Nos valores intuídos e ensinados por Francisco que aparecem nesta música. Devemos buscar, antes de tudo, como dizia Francisco, o Espírito do Senhor e seu santo modo de operar. E nós conseguimos esse santo modo de operar através da oração e da devoção”, acrescentou o presidente da celebração.

Depois, disse o frade, se estamos conectados com Deus, percebemos que essa conexão implica, necessariamente, em uma conexão com os irmãos. “E aí entra o valor da fraternidade. Sozinhos nós não conseguiremos caminhar muito. Nós vamos cansar, nós vamos sucumbir no meio do caminho”, alertou o frade.

“O Papa Francisco, na Laudato Si’, ao elencar todos os problemas que assolam o planeta, como a poluição das águas, a falta de recursos, a desigualdade social, diz que são problemas tão complexos que, por mais boa vontade que uma pessoa tenha ou um grupo isolado tenha para resolver, não vai conseguir. É necessário um espírito de conversão que perpasse e abrace toda a humanidade, para além daquilo que nos difere, seja elemento de fé, de cultura, de raça, de modo de pensar. Para além de tudo isso é urgente que construamos um espírito real e verdadeiro de fraternidade”, insistiu.

Segundo o frade, a espiritualidade franciscana, mesmo sendo espiritualidade cristã, católica, nos lança para esse espírito de diálogo, tão procurado e propagado pelo Papa Francisco. “E a Fraternidade Franciscana se estende à Fraternidade Universal com todos os bens criados. E é por isso que hoje é dia de trazer os nossos animais para receber as bênçãos, de pedir também bênçãos sobre nós, sobre as situações difíceis que estamos vivendo, mostrando que todos seres humanos, seres criados, brotamos da mesma matriz amorosa que é coração de Deus, aquele que nos criou”, lembrou.

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“Ozzy” e Maria de Fátima

Frei Gustavo disse, então, que um terceiro elemento, além da conexão com Deus e com os irmãos, é o olhar de conversão. “Reconhecer que o primeiro lugar, onde precisa de amor para não dar espaço ao ódio, é o nosso coração, porque às vezes podemos ter a ilusão que dentro de mim é só amor. Mas não é assim. Quantas vezes diante de uma topada, temos ódio da pedra que estava no caminho; diante de uma fechada do trânsito, temos ódio daquele que foi imprudente. Então, o primeiro lugar, onde o ódio, o egoísmo, a desordem e a falta de paz precisam ser vencidos, é dentro do nosso próprio coração. Isso nós só conseguimos através da graça de Deus no espírito de oração e devoção. Todas essas virtudes estão interligadas”, frisou, pedindo a inspiração de São Francisco para que o Senhor nos mostre o caminho de uma vida mais pacífica, harmoniosa, feliz, onde todos sejam respeitados e possam, de verdade, se sentirem amados por Deus, “porque conseguem encontrar em nós – aqueles que admiram Francisco e que desejam seguir a Cristo – o testemunho de amor, de paz e esperança que procuram”.

Durante toda a manhã,  a igreja esteve cheia. Ivone Aparecida da Silva participou da Celebração Eucarística das 9 horas, presidida por Frei Vanilton Leme. Durante todo o tempo, “Luna” esteve no seu colo, comportada e atenta. Só olhou desconfiada na oração do Pai Nosso quando uma pessoa ao lado colocou a mão no ombro de Da. Ivone. “Gosto muito de animais. Mas a Luna não é minha, mas de minha filha, que não pôde vir hoje aqui”, explicou.

Bem próximo estava “Ozzy”, também no colo de sua protetora. O cãozinho só tem o nome do barulhento roqueiro Ozzy Osbourne, porque ali esbanjava tranquilidade. “Minha sobrinha é a dona dele e ela é roqueira”, explicou a artesã Maria de Fátima Tavares de Nascimento, que reside na av. São João, próxima do Convento. “Sou muito devota de São Francisco e adoro os animais. Acho que quando uma pessoa trata bem dos animais ela também respeita o ser humano. Basta ter sentimentos”, observou Maria de Fátima.

 

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TRÂNSITO

festasf_041017_5O Trânsito de São Francisco é uma celebração que faz memória dos últimos momentos do santo na terra através de uma piedosa encenação. No Convento São Francisco foi celebrado ontem (3/10), às 18 horas.

Frei Diego Melo fez a pregação e chamou a atenção que esta data, 3 de outubro de 1226, pode ser celebrada como uma simples recordação dos últimos momentos de vida de São Francisco, ou seja, um fato acontecido há mais de oito séculos, “que em nada toca a nossa vida concreta, servindo apenas para uma rápida e passageira emoção e, de certa forma, como um tranquilizante de nossas consciências”.

Mas Frei Diego fez a seguinte provocação: “Há outra forma de memória, que é uma recordação mais desafiadora e até mesmo desconfortante. Trata-se da recordação do passado da qual surgem novas e desafiadoras perspectivas para o presente e para o futuro. Essa segunda maneira de fazermos memória desse trânsito de São Francisco, em que procuramos tirar lições para a nossa atualidade, talvez esteja mais próxima daquilo que Francisco mesmo nos pediu e advertiu, quando na sua sexta Admoestação lembrava que seria ‘uma grande vergonha para nós, servos de Deus, terem os santos praticado obras dignas de serem exaltadas e nós querermos receber honra e glória somente por contar e pregar o que eles fizeram'(Adm 6)”, disse.

Participaram desta celebração os frades das três Fraternidades da Província em São Paulo, religiosos (as), a OFS, Jufra, jovens vocacionados e paroquianos.


DIA INTENSO NA VILA CLEMENTINO

Não foram diferentes também as Celebrações na Paróquia São Francisco de Assis na Vila Clementino (SP). Os frades se revezaram durante a manhã e tarde para atender a todas as pessoas que traziam seus animais para as bênçãos, como é tradição no bairro. Na Missa do meio-dia, presidida pelo pároco Frei Valdecir Schwambach, a igreja, que é muito grande, lotou.

Frei Valdecir lembrou que no Tríduo de São Francisco, preparatório para este dia, refletiu-se sobre três aspectos:  cuidar do coração,  cuidar do irmão e cuidar da Casa Comum.

“São Francisco de Assis é o santo que nos ensina o cuidado”, enfatizou o pároco, lembrando que ao longo da história da fé, da história humana, separou-se muito as coisas de Deus das nossas realidades. “A nossa fé, a nossa devoção é perfeita quando nós nos envolvemos com aquele que está ao nosso lado. Não existe uma ligação com Deus se a gente se esquecer daquele que está a nossa volta”, observou.

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Luiz Henrique (na frente), Guilherme (à esquerda) e Ruan (à direita).

Frei Valdecir chamou a atenção, citando o Papa Francisco na Laudato Si’, que a crise de hoje é uma crise de falta de cuidado. “E talvez a raça que mais esteja ameaçada é a humana, porque não estamos nos cuidando uns dos outros. É só olhar, por exemplo, o que está acontecendo no mundo: as tragédias, a violência, o terrorismo etc”, destacou.

Falando do cuidado da Casa Comum, o frade reforçou que a oração é mais perfeita quando conseguimos rezar por todas as criaturas, quando conseguimos rezar louvando a Deus pela água, pelo ar, pela terra. “Ou seja, todas as criaturas que nos cercam são extensão de Deus. Tudo para Deus é sagrado. Todas as criaturas saíram Dele”, completou.

OS TRÊS “FRADINHOS” DA VILA

Para os irmãos Luiz Henrique, 4 anos, e Guilherme, 6, e o primo Ruan, 8, o dia de São Francisco foi reservado para pagar promessa. E a caráter. “Fiz promessa a São Francisco de Assis porque os três têm asma. Graças a Deus, eles estão praticamente curados e falta pouco para deixarem os remédios”, contou Aurenita Souza Costa, a avó de Luiz e Guilherme e tia de Ruan. “Eu iria ao Largo São Francisco pagar essa promessa, mas como moro em Santo Amaro, aqui ficou mais perto. Não conhecia esta igreja”, revelou Aurenita, que é natural de Itapetinga, na Bahia. “Sou devota de São Francisco porque minha mãe mora do lado de uma igreja dedicada a este santo protetor dos animais. Ali cresci e amadureci minha fé, tendo ele como meu protetor. Tanto que fiz uma promessa também para o meu filho – que é pai de Luiz e Guilherme – quanto ele tinha 4 anos e fomos pagá-la no Santuário de Bom Jesus da Lapa”, contou.

Para dª Aurenita, não há como viver sem fé. “Se não tiver fé, a gente perde a noção de vida. É ela que nos ajuda a lutar, porque as provações estão aí”, disse, completando: “Eu estou muito feliz pagando esta promessa!”


Comunicação da Província da Imaculada Conceição