“Juntos que se constroem os sonhos”
02/10/2021
Caríssimos irmãos e irmãs.
Que o Senhor vos dê a paz!
Nos dias 03 e 04 de outubro, em comunhão com toda a Igreja, a Ordem Franciscana celebra os mistérios da vida, morte e glorificação do nosso Seráfico Pai São Francisco de Assis. E neste ano queremos incluir nesta solenidade o primeiro aniversário da Carta Encíclica Fratelli Tutti, sobre a fraternidade e a amizade social, assinada pelo Papa Francisco no dia 03 de outubro de 2020, junto ao túmulo de São Francisco.
Do contexto da Encíclica Fratelli Tutti, nº. 8, a Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil escolheu o tema para o próximo Capítulo Provincial, cujo parágrafo aqui recordo: “Aqui está um ótimo segredo para sonhar e tornar a nossa vida uma bela aventura. Ninguém pode enfrentar a vida isoladamente (…); precisamos de uma comunidade que nos apoie, que nos auxilie e dentro da qual nos ajudemos mutuamente a olhar para frente. Como é importante sonhar juntos! (…) Sozinho, corre-se o risco de ter miragens, vendo aquilo que não existe; é junto que se constroem os sonhos”.
Francisco de Assis, no seu Testamento, recorda com gratidão as origens da fraternidade como uma inspiração divina: “O Senhor me deu irmãos”. Com estes irmãos ele construiu um projeto de vida “segundo a forma do Santo Evangelho”, confirmado pelo Senhor Papa Inocêncio (cf. Test 14-15). Assim, a primitiva fraternidade sonhou e construiu sonhos que não foram miragens daqueles “penitentes de Assis”, mas ousadias corajosas de homens e mulheres que fizeram do Evangelho seu ponto de partida. Quero destacar quatro sonhos:
1º) FRATERNIDADE – O sonho da FRATERNIDADE foi possível quando Francisco experimentou que cada irmão e irmã eram filhos e filhas de um mesmo Pai do céu, revestidos da mesma sacralidade formada “à imagem do seu dileto Filho” (Adm 5). Uma fraternidade que sonhou a utopia da grande fraternidade cósmica, chamando de “irmã” e “irmão” a peculiaridade e a interligação da inteira criação: “Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas” (CSol 3).
2ª). PAZ – Uma fraternidade que sonhou que a PAZ é o maior segredo para se construir verdadeiras relações e pactos fraternos. Paz é o primeiro anúncio do evangelizador franciscano. Por isso, no banquete com a Senhora Pobreza, segundo o relato do Sacrum Commercium, os valentes cavaleiros afirmam: “Não temos ferreiro para nos fazer espadas” (SC 62), ou seja, andamos desarmados, e se for necessário, cortamos o pão ressequido com os dentes. Eles fazem acontecer a bem-aventurança evangélica: “São verdadeiramente pacíficos os que se conservam em paz, interior e exteriormente” (cf. Adm 15).
3º) CUIDADO – Uma fraternidade que, longe da “cultura da indiferença”, sonhou e concretizou o real CUIDADO por cada irmão e irmã, a começar pelos leprosos, pobres, fracos, doentes e mendigos de rua (Rnb 9,3). Uma fraternidade que teve a ousadia de despojar o altar da Virgem para que nenhum de seus filhos passasse frio ou estivesse despido na sua dignidade, pois o “Senhor enviará quem restitua à Mãe o que ela nos emprestou” (2Cel 67). Uma fraternidade que também construiu a mesa fraterna fundada na pobreza e na justiça, colocando em comum aquilo que acontece nas casas dos pobres, numa confiança total às reais necessidades, da forma como uma “mãe ama e alimenta seu filho carnal” (Rnb 9,13).
4º) DIÁLOGO – Uma fraternidade que sonhou dialogar com toda humana criatura. Francisco crê na riqueza da diversidade como graça e dom de Deus. Ao romper a relação com sua “classe social”, ele se abre a “toda humana criatura”. Acolhe o irmão diferente como dádiva divina e reafirma que o verdadeiro irmão menor é aquele que acolhe em si a diversidade das virtudes dos outros (cf. EP 85) e, com eles, forma uma fraternidade dialogante. Por isso, a fraternidade é fraternidade quando constrói pontes, abre novas fronteiras, derruba os muros da segregação. Este desejo de dialogar com todos levou Francisco a um encontro inusitado de paz com o Sultão do Egito.
Estes e tantos outros sonhos foram concretizados porque Francisco de Assis permitiu que o Senhor fosse o condutor dos seus sonhos. O início de um sonho construtivo na visão do grandioso castelo de Espoleto, no qual se comprometeu a servir o Senhor, culminou com o sonho da FELIZ ETERNIDADE DA VIDA junto à pobre igrejinha da Porciúncula: “Feliz aquele que a irmã morte encontrar conforme à vontade do Senhor, porque a morte segunda não lhe fará mal. Louvai e bendizei a meu Senhor, e dai-lhe graças, e servi-o com grande humildade” (Csol 13-14).
Boa Festa de São Francisco de Assis a todos!
Frei Fidêncio Vanboemmel, OFM
Ministro Provincial
Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil