Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Jovens lideram ações solidárias na Província

08/04/2020

Notícias

Jovens voluntários vieram de diferentes cidades para ajudar na Tenda Franciscana do Largo São Francisco de SP

Moacir Beggo (*)

São Paulo (SP) – Em tempos de coronavírus, a Igreja do Brasil não ficou parada. Com ajuda da tecnologia, celebrações e momentos de oração chegaram às famílias nos distantes rincões do país. Essa mudança também chegou à Província da Imaculada Conceição do Brasil, através de suas paróquias, conventos e santuários no Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Ao mesmo tempo, ações de solidariedade reuniram os frades e jovens missionários franciscanos num grande mutirão a favor dos mais pobres e esquecidos por grande parte da sociedade e pelo poder público, especialmente os moradores em situação de rua.

Iniciativas vêm do Sul e do Norte da Província. “É com grande alegria que estou acompanhando todas essas iniciativas evangelizadoras em nossa Província durante esse tempo de pandemia”, constata Frei Diego Melo, coordenador da Frente da Solidariedade para com os Empobrecidos da Província. “Creio que o Coronavírus despertou muitas fraternidades e comunidades para um novo modo de ser Igreja, um novo modo de vivenciar a fé. A necessidade fez despertar uma criatividade pastoral que certamente deixará muitos frutos para o nosso modo de Evangelizar. Além disso, destaco o protagonismo jovem nas principais iniciativas de Solidariedade para com os mais empobrecidos”, avalia o frade.

Frei Diego, incansável no trabalho social e com as juventudes na Província

De modo geral, segundo Frei Diego, embora tenham o apoio das Fraternidades Franciscanas, quem está na linha de frente, no contato direto e na grande articulação de toda essa movimentação são os jovens. Alguns atenderam o apelo do Serviço Franciscano de Solidariedade para ajudar na Tenda Franciscana, armada no Largo São Francisco, no centro de São Paulo, e vieram de longe, como Mariana Lopes Florencio (Bauru, SP), Reginaldo Taborda Ribas (Campo Largo, PR) e Maurício Bernz (Maringá, PR). Da cidade catarinense de Lages, Elisa Lima, Cíntia Melo e Igor Marafigo falam do Projeto Amar; em Curitiba, o projeto Ação Solidária, da Paróquia Bom Jesus dos Perdões, atende 5 mil pessoas; a campanha “O Meu Próximo”, da Paróquia São Luiz Gonzaga, juntamente com a Rádio Cultura e a Pastoral da Juventude, está arrecadando alimentos não perecíveis; o Serviço Franciscano de Solidariedade da Fraternidade Porciúncula de Niterói também faz campanha para angariar produtos para cestas básicas;

“Creio que essa atitude tem um sinal profético muito grande, pois são eles, que no auge da sua juventude, nos mostram um jeito de ser Igreja que não se reduz às burocracias eclesiásticas ou a uma vivência estritamente sacramental da fé. São os jovens que, através das suas atitudes, entusiasmo, liderança e decisão anunciam uma igreja mais samaritana, comprometida, próxima e que sabe colocar-se a serviço”, celebra Frei Diego.

Fila em frente ao Convento São Francisco, onde está a Tenda Franciscana

Para Frei Diego, a atitude desses jovens também é uma provocação para um modelo de igreja autorreferencial, ensimesmada e preocupada demasiadamente consigo mesma. “A capacidade deles superarem o medo, o preconceito e até mesmo o receio de suas famílias pelo contágio, é um forte testemunho de que o isolamento social não pode ser desculpa para um enclausuramento existencial e eclesial”, observa. “Na liberdade dos seus corações sonhadores, idealistas e livres, estão vencendo um vírus tão presente em muitas estruturas eclesiais, o vírus de um fechamento estéril e autorreferencial”, denuncia.

O PROJETO AMAR DE LAGES

Na cidade de Lages, desde o dia 18 de março, os missionários Franciscanos, em parceria com a Pastoral de População de rua e Diocese de Lages, vêm preparando o jantar para pessoas em situação de rua, que reúne aproximadamente 100 pessoas e alguns imigrantes, pois é uma cidade de ligação a outras regiões. É o Projeto Amar, da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, assistida pelos frades da Província.

 

Elisa em primeiro plano com o grupo de voluntários em Lages

“Nosso bispo diocesano, D. Guilherme Antônio Werlang, em conversa com o prefeito, solicitou que tivesse um abrigo para nossos irmãos, principalmente nesse momento em que a preocupação com a saúde também o ponto alto de contágio. Foi liberado parte de uma escola para que pudessem tomar banho e dormir. Conosco, fez uma parceria para auxiliar na alimentação. Durante todos esses dias, pudemos contar com a solidariedade e generosidade das comunidades, que auxiliam nas arrecadações tornando possível essa ação”, explica Elisa Lima, que vê nesses irmãos o Cristo vivo e imigrante. “Em contato mais próximo com eles, pudemos também perceber a fragilidade da vida humana; o que para nós é tão simples, uma sopa, um arroz com feijão, quirera (prato típico da região), para nossos irmãos é um banquete”, atesta.

“A pandemia está aí, é fato, mas não podemos deixar de viver a missão. Seguimos com todos os cuidados necessários, pois até agora, pouco ou nada fizemos”, conclama Elisa.

Para Cintia Melo, que começou há algumas semanas no voluntariado, sua percepção de mundo mudou. “Me sinto tão rica e tão pobre ao mesmo tempo, tenho tanto a compartilhar mas nenhum pouco da bagagem que eles carregam. O momento mais bonito que, por vezes, me enchiam os olhos de lágrimas era ver que mesmo em meio a tudo o que eles passavam, que tão pouco eu sabia, não perdiam a fé. Agradeço a todos que se comprometeram e puderam nos ajudar com as doações. O mundo está rodeado de meras estrelas e se nos unirmos em prol do bem, viramos uma constelação”, ensina.

Igor em primeiro plano durante o trabalho no projeto de Lages

Para Igor Marafigo, o trabalho o ajudou superar barreiras. “A primeira foi a do medo. Medo esse que adquiri pelo pré-conceito que criei através da sociedade que só os menospreza e diz que deveriam ser mortos para que a pobreza acabasse. A barreira seguinte foi o entendimento. Entender que além do alimento e a pernoite, eles também lutam e buscam por dignidade e reconhecimento humano. Junto a eles, exerci o dom da empatia e acumulei muito aprendizado. Enfim, hoje sei da importância desse trabalho que desenvolvemos, e sei também que muito mais do que um alimento, eles buscam alguém que os valorize, escute e os reconheçam como ser humano que são”, pede.

 “MÁSCARAS NÃO ESCONDEM SORRISOS NOS OLHOS”

Mariana em ação na Tenda Franciscana

Mariana Lopes Florencio, 29 anos, participa da Paróquia Santa Clara de Assis de Bauru (SP), ficou sabendo do voluntariado no Sefras de São Paulo e, com ajuda de uma “vaquinha”, conseguiu o dinheiro para viajar a São Paulo. “Eis, que no dia 30 de março, embarquei no ônibus com destino a São Paulo. A cada dia é uma experiência nova. Cheguei aqui totalmente insegura, mas com muita vontade de ajudar, consciente de que estaria saindo do meu conforto, do meu porto seguro, da minha família, do meu comodismo de certa pra forma, para poder me colocar em risco”, contou.

Na Tenda Franciscana, distribui as “quentinhas”: “O meu coração se alegra de estar ali e entregar uma marmita, uma água, um suco, um talher, enfim seja o que for. Essa alegria poderia ser transmitida por um sorriso, porém, devido às máscaras, os sorrisos ficam ocultos, mas os nossos olhos sorriem e os moradores de rua percebem isso. A cada dia vemos a providência divina e, muitas vezes, o milagre da multiplicação e o bonito é saber que não importa sua religião, credo, etnia, raça, cor… O mais importante é fazer o bem! Esses dias têm sido gratificantes e são experiências que vou levar pra minha vida toda. Esses poucos dias do meu voluntariado têm me ajudado a ser uma pessoa melhor, destruindo muitos conceitos e mostrando o verdadeiro sentido do Amar, Cuidar e Defender”, garante Mariana.

AÇÃO SOLIDÁRIA EM CURITIBA

Fila ao lado da Igreja Bom Jesus dos Perdões em Curitiba

Uma barraca em frente a Igreja Bom Jesus dos Perdões, em Curitiba, mostra todo o trabalho da Ação Solidária para levar comida a quase 5 mil moradores de rua. “A razão de ser toda a religião é cuidar: receber o cuidado de Deus e retribuir esse cuidado aos que mais necessitam”, explica o pároco Frei Alexandre Magno. Segundo o frade, o projeto já existia, mas a pandemia aumentou a sua importância.

PRONTO ATENDIMENTO

O jovem missionário franciscano, Reginaldo Taborda Ribas, 34 anos (foto ao lado), não perde os eventos da Província e assim que viu o apelo de Frei Diego para ser voluntário no Sefras, deixou sua cidade, Campo Largo (PR), na região metropolitana de Curitiba para se juntar a esse exército de solidariedade. “Atualmente estou desempregado e me disponibilizei a fazer esse trabalho porque gosto de ações de solidariedade, principalmente com moradores de rua”.

Mesmo sendo local de grande concentração, o que pode ajudar na propagação do vírus, Reginaldo diz que é muito gratificante poder contribuir e ser útil para fazer o bem ao próximo.

CORRENTE DO BEM

Segundo o Serviço Franciscano de Solidariedade da Paróquia Porciúncula de Santana de Niterói (RJ), mais de 150 famílias assistidas pelo serviço, mas nesse momento de dificuldades, a demanda aumentou. Para isso, o serviço está recebendo as doações de alimentos nesta semana de segunda a quarta-feira, das 8h às 12h e 13h às 17h. As doações também podem ser feitas por depósito bancário.

A corrente do bem continua em Nilópolis com um apelo aos jovens franciscanos. “Agora é nossa hora de ajudar com força total, jovens! A partir de 16h30 na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, na quarta-feira. Esperamos vocês. Precisamos de jovens para fazer o alimento e também para distribuir”. O apelo incluiu além do alimento, kits de higiene.

O serviço de Justiça, Paz e Integridade da Criação da Fraternidade Santo Antônio e a Pastoral do Povo da Rua da Região Pastoral São João de Meriti, da Diocese de Duque de Caxias, estão distribuindo panfletos e cartazes com orientações para a população em situação de rua para ajudar a prevenir a Covid-2019, causada pelo novo coronavírus. A iniciativa visa ajudar na prevenção e tirar da invisibilidade grupos que vivem em extrema situação de vulnerabilidade social.

Pamela Chiapetti. em primeiro plano, fala do projeto “De todo o coração”, que nasce em Campo Largo (PR)

DE TODO O CORAÇÃO

Na cidade de Campo Largo, na região metropolitana de Curitiba, está nascendo o projeto “De todo Coração”, que fez a sua primeira ação na última quinta-feira. “Aqui em Campo Largo há uma família que já faz há alguns anos esse trabalho com as pessoas em situação de rua, e foi grande nossa comunhão com o Sefras no sentido de sairmos da nossa zona de conforto para podermos fazer algo também. Chamamos o projeto “De todo coração”, em sintonia com São Francisco: “É isso que queremos, é isso que procuramos, é isso que desejamos irmãos fazer de todo coração…”, explica Pamela Chiapetti. Segundo ela, por ser cidade pequena, as pessoas vulneráveis não estão tão expostas como em cidades grandes e imaginava que seriam uns 3 ou 4. “Mas quando fiz essa ação, vi quantos são e quantas vidas há por trás desses números com histórias inimagináveis”, explicou.

Para Pamela, ao conhecer a história de São Francisco, sempre soube que sua maior barreira seria entender as vulnerabilidades existenciais. “Mas sempre tive grande em meu coração transpor essas barreiras. Me abri, conheci e mudei muitas ideias com conhecimento e autoconhecimento. Meus valores como ser humano estão cada vez mais firmados e em sintonia com os valores que Jesus Cristo nos ensinou”, indicou.

Para Bruna, a segunda da esq. para dir., a solidariedade vem de berço e não é diferente nesses tempos de pandemia.
LUTA E RESILIÊNCIA

“Minha família e minha paróquia (Santa Clara de Assis – Imbariê – RJ) sempre me ensinaram a importância da solidariedade. Vivemos em um bairro pobre, com pouco acesso a saneamento básico, educação de qualidade e segurança, contudo muito rico em luta e resiliência. As periferias tendem a sofrer mais nos períodos de crise e, neste período de pandemia devido ao coronavírus (COVID-19), não está sendo diferente. Já que não podemos contar muito com a ajuda do Estado e nos resta unir as pessoas de bom coração e ajudar os que mais precisam”. O depoimento é de Bruna Maria da Paróquia Santa Clara, que montou e continua montando cestas para ajudar as famílias que já acompanhavam antes e agora conseguiram ajudar até mais famílias.

O FAIM (Festival de Artes em Imbariê) e parceiros também está fazendo a distribuição de cestas nos bairros do Terceiro Distrito de Duque de Caxias. “Tem sido um período de muita reflexão. Estamos vendo pessoas abdicando de sua segurança para ajudar o próximo e se isso não é construção do Reino de Deus, eu não sei o que é”, questiona essa jovem franciscana.

“Temos visto a face de Cristo em todos que ajudam e principalmente nos que precisam nesta onda de amor. Minha prece é que não esperemos um momento de crise para aflorar nossa sensibilidade”, ensinou.

Siga o instagram da paróquia: @staclaraimbarie; o instagram do FAIM: @faimfestival.

GOTAS DE MISERICÓRDIA

O projeto Gotas de Misericórdia de Nilópolis (RJ) vai completar 4 anos de fundação no próximo dia 10 de julho.
“Desde o primeiro momento até o dia de hoje uma coisa não faltou: muito amor”, escreviam no Facebook do grupo no aniversário de 3 anos.

“Entregar quentinhas é algo fácil, mas quando pensamos nos problemas de cada um, vivendo-os intensamente tudo fica mais prazeroso e logo mais difícil”, escrevem os integrantes do projeto, que agora veem as demandas serem maiores diante da pandemia. Veja as necessidades do projeto para poderem dar atendimento à população em situação de rua de Nilópolis.

Entre em contato: https://www.facebook.com/gotasdemisericordiaoficial/

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Frei Diego acredita que todas essas iniciativas pastorais e de solidariedade irão nos ajudar a vencer outras doenças. “Uma é a da Cúria Romana, denunciada pelo Papa Francisco em 2015 e que, certamente, está presente em nosso meio, que é a doença da planificação excessiva e do funcionalismo, quando o apóstolo planifica tudo minuciosamente e julga que, se fizer uma planificação perfeita, as coisas avançam efetivamente, tornando-se, assim, um contabilista ou comercialista. É necessário preparar tudo bem, mas sem nunca cair na tentação de querer conter e pilotar a liberdade do Espírito Santo, que sempre permanece maior e mais generosa do que toda a planificação humana (cf. Jo 3, 8). Cai-se nesta doença, porque «é sempre mais fácil e confortável acomodar-se nas próprias posições estáticas e inalteradas. Na realidade, a Igreja mostra-se fiel ao Espírito Santo na medida em que põe de lado a pretensão de O regular e domesticar – domesticar o Espírito Santo! – (…) Ele é frescor, criatividade, novidade». Que possamos sair dessa pandemia mais solidários, fraternos e realmente entusiastas daquela radicalidade evangélica que encantou Francisco de Assis”, deseja Frei Diego.

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