Irmãos para o futuro: Re-speitar, re-conhecer o bem divino na Criação
15/07/2020
Por quanto tempo continuaremos ignorando o sofrimento dos pobres e a agonia dos mártires ecológicos? Quando deixaremos de ignorar a voz do povo que fala em nome da Mãe Terra? Por quanto tempo este martírio e o ecocídio continuarão deixando de ser notícia? Os seres humanos são as únicas criaturas neste mundo que cortam árvores, fazem papel delas e depois escrevem no papel: “Salve as árvores”.
Ai… A terra geme com as dores da contínua tortura, abuso e mau uso. A trágica cena histórica se repete diante de uma nova audiência. Estamos vivendo neste planeta como se tivéssemos outro para onde ir.
Cristo encontra-se em toda criação, incluindo a terra – que chamamos de casa, lar. A teologia da criação de acordo com São Boaventura diz que Deus pode ser encontrado em todas as criaturas porque elas foram criadas pelo AMOR incondicional de Deus. Segundo ele, a criação é a Bíblia aberta (Bíblia e terra), a primeira Revelação. Porém, poucas pessoas percebem que suas ações e indiferença em relação ao bem-estar da Terra e das pessoas das periferias são símbolos e sinônimos do sofrimento de nosso amado Salvador.
A Crucificação era a forma mais vergonhosa e dolorosa de morte naquela época. Mesmo assim Ele pensou que nós valíamos essa morte. É por isso que ele morreu por nós.
Jesus foi despojado de suas roupas, e nós, da mesma maneira, estamos desnudando nossa mãe a terra, sobrando detritos e cinzas. A proporção de corte de árvores é equivalente à perda de 40 estádios de futebol por minuto. Nos últimos cem anos, 50% das árvores do mundo foram derrubadas. E isto sem contar com o uso de produtos químicos contendo bromo, cloro e mercúrio da indústria de mineração.
Como aqueles que não olhavam, os executores e instigadores, que zombavam, atormentavam ou mesmo se afastavam do Cristo sofredor com desprezo, as pessoas respondem ao genocídio ecológico em geral com uma dessas reações. Jesus na cruz gritou: “tenho sede”, e hoje isto soa como desertificação, degelo, fome, falta de água…
Qual é nossa resposta quando ouvimos a terra chorar e gritar: “Estou com sede?” Em 2019, na Austrália, o fogo queimou 11 milhões de hectares – 110.000 quilômetros quadrados de floresta, mato, bosque, parques, matando seres humanos, animais selvagens e destruindo seus habitats. Acredita-se que as causas desses incêndios foram a mudança climática, a conjunção de extensas secas com um alarmante alto nível de ondas de calor.
Entretanto, na crucificação de Jesus, veio a escuridão na terceira hora, simbolizando apagões inesperados, extinções e a morte da bio-população e da biodiversidade.
Jesus sofreu nas mãos dos soldados romanos que dividiram suas roupas e sortearam seu manto sem costura; exatamente como a luta pela África e pela Amazônia, as nações estão irrompendo no espaço sagrado da crosta terrestre, brigando e arrasando todos os tesouros que encontram em seu caminho.
Nós crucificamos incessantemente a Mãe Terra com o uso imprudente e interminável das máquinas de mineração.
Nossas lanças penetram no espaço sagrado do planeta.
A água flui de suas encostas, porque alteramos continuamente a integridade de seu corpo.
Nossas atividades industriais estão bloqueando e esquartejando a alma da terra.
Na verdade, assim como acreditamos que todos são responsáveis pela morte de Jesus, que deu testemunho da justiça e da verdade, assim também ninguém está isento deste crime hediondo contra a Mãe Terra. Da mesma forma, todos nós devemos ser responsáveis pela crucificação da Mãe Terra.
As vozes dos Mártires ecológicos estão se elevando acima do ruído e uma luz inegável está brilhando através do túnel da restauração ecológica. Antes que a terra dê o seu último suspiro e, como Cristo, diga “Tudo está consumado”, gritemos por mudanças! Trabalhemos pela ressurreição.
Citando o Papa Francisco, ” Lanço um convite urgente a renovar o diálogo sobre a maneira como estamos construindo o futuro do planeta. Precisamos de um debate que nos una a todos, porque o desafio ambiental, que vivemos, e as suas raízes humanas dizem respeito e têm impacto sobre todos nós.”
Precisamos criar uma nova cultura, uma nova civilização que respeite plenamente o infinito Amor e Bem de Deus na Criação. Só então seremos capazes de cantar junto com São Francisco de Assis e São Boaventura: “Louvado sejas meu Senhor” (Laudato Si’, mi Signore)! Você (+) e eu = nós, todos nós somos chamados hoje a esta missão revolucionária: Revolução da ternura, revolução do vigor: Revolução Laudato Si’.
Amemos nossa Mãe Terra. Não causemos feridas no planeta de nossos antepassados, nós devemos deixá-lo às nossas gerações futuras.
Elevemo-nos acima de nossos egos e cuidemos de nossa mãe Terra. Ela se sente fraca e está pedindo ajuda. Você é bem-vindo para fazer parte da Revolução Laudato si’.
Somente quando a última árvore tiver morrido, e o último rio tiver sido envenenado, e o último peixe capturado, é que perceberemos que não podemos comer dinheiro.
Ouça o vento, fala
Ouça o silêncio, fala
Ouça seu coração, saiba que este é nosso planeta, e este é o nosso futuro.
Serviço de Justiça, Paz e Integridade da Criação da Ordem dos Frades Menores