Frei Rodrigo: “Sem vocês, esse ministério assumido não tem sentido”
20/04/2013
Moacir Beggo
São Lourenço (MG)– Numa típica manhã de outono, com clima ameno e próprio de uma região na Serra da Mantiqueira, a cidade de São Lourenço, no Sul de Minas, parou para celebrar a entrega generosa de Frei Rodrigo da Silva Santos como novo presbítero da Ordem Franciscana e da Igreja de Deus. E dele o povo ouviu a promessa: “Aqui estou para servir. E, sem vocês, esse ministério assumido não tem sentido!”
Frei Rodrigo recebeu o Sacramento da Ordem pela imposição das mãos de Dom Diamantino Prata de Carvalho, OFM, bispo da Diocese de Campanha, que presidiu a celebração eucarística às 10 horas, neste sábado (20/4), na Paróquia de São Lourenço Mártir. Diante de um povo que se acostumou com a presença franciscana durante cerca de 80 anos nesta cidade, a igreja se vestiu novamente com a cor marrom do hábito franciscano devido à grande presença de confrades de toda a Província.
Entre eles, o Definidor Frei Evaristo Spengler, que representou o Ministro Provincial Frei Fidêncio Vanboemmel nesta celebração, seminaristas do Seminário São Francisco de Assis, em Ituporanga (SC), onde Frei Rodrigo é orientador, e postulantes de Guaratinguetá (SP), religiosos e religiosas, sacerdotes da Diocese e a sempre acolhedora Ordem Franciscana Secular de São Lourenço. Mas a igreja não lotou somente com o povo da cidade. Caravanas das comunidades de Petrópolis e da Baixada Fluminense, onde Frei Rodrigo trabalhou, vieram celebrar com o ordenando.
Tendo de um lado o pai Adilson e do outro a mãe Regina, Frei Rodrigo se juntou aos frades para dar início à celebração. Até o início do rito, ele ficou sentado ao lado dos pais e dos irmãos Marcelo, Felipe e da cunhada Michele.
Quanto Frei Rodrigo foi chamado a se aproximar do bispo, ele se despediu de seus pais. Dom Diamantino, então, explicou que essa despedida a seus pais antes de ser chamado para frente do altar não fazia parte do rito, mas era “um gesto bonito de reconhecimento que, sem a família, nós não somos nem gente muito menos servidores de Cristo”.
O que se viu durante duas horas foi uma celebração fraternal. Dom Diamantino relembrou com alegria, no início e na homilia, que o garotinho Rodrigo foi seu coroinha. Por sua vez, Frei Evaristo lembrou que Frei Diamantino foi seu professor e orientador quando era seminarista e também o pároco na Igreja de Nossa Senhora da Paz, em Ipanema (RJ), quando foi ordenado diácono. Entre os sacerdotes, os irmãos Frei Adriano e Frei Alessandro, que fizeram a mesma caminhada de Frei Rodrigo. Outros dois religiosos, Frei Marcos e Frei Camilo Militão são naturais de São Lourenço e estavam presentes.
Depois da eleição do candidato (veja texto à parte), Dom Diamantino falou no início da homilia diretamente aos pais de Frei Rodrigo. “Certamente, há 20 anos, Regina e Adílson não esperavam que Rodrigo viesse a ser franciscano e viesse a ser padre. Quem iria imaginar! A gente, às vezes, tem outros planos para os filhos, às vezes arquiteta outras orientações, imagina outras profissões, como os outros dois filhos e irmãos de Rodrigo – Felipe e Marcelo -, que abraçaram a profissão de engenheiros, mas o Rodrigo foi descobrimento ao longo de sua caminhada que o Senhor o chamava. Eu sou testemunha também, porque por volta dos 8 ou 9 anos, o Rodrigo já era coroinha da Missa das 10 horas, aos domingos, presidida pelo saudoso Frei Aymoré Dalmédico e, depois, começou a fazer parte do grupo não só dos coroinhas mas dos vocacionados”, contou.
Na mesma época, participava deste grupo vocacional, os irmãos Frei Adriano e Frei Alessandro Nascimento. “Aí estão os dois culpados disso, Adriano e Alessandro. Foram eles que colocaram no Rodrigo um apelido muito simpático, de “Querubim”. Porque, na verdade, ele era como um anjo que brilhava quando ajudava a Missa. Parecia que uma luz vinha de dentro dele e irradiava no seu rosto. Então, não sei se ele é assim ainda, mas no nosso tempo, aqui em São Lourenço, era realmente uma figura resplendorosa e brilhava porque ele participava do mistério”, recordou.
Reforçando o testemunho de Frei Evaristo de que o ordenando é um homem de oração, o bispo disse que sem essa intimidade com Deus, sem essa comunhão com Deus, na leitura Orante da Palavra, nós não podemos ser muita coisa, não! “Por isso, é bom ouvir esses testemunhos que o Frei Rodrigo prima também por essa dimensão da intimidade com Deus, na oração, na leitura orante da Palavra, na participação dos sacramentos. E todos nós, nesse Ano da Fé, somos convidados, sobretudo, a não apenas dizer que ‘eu acredito’, ‘eu tenho muita fé’ – até os demônios têm também e tremem, diz o Apóstolo -, mas a fé deve ser cultivada qual plantinha que merece todos os cuidados. E a fé, precisamente, é alimentada pela oração, é aprofundada pela Palavra e é nutrida e celebrada nos Sacramentos, para depois ser testemunhada no dia a dia da nossa vida, pelas nossas atitudes, pelas boas ações, pelo nosso empenho em sermos realmente ajudantes do Cristo na transformação do mundo, para que seja sinal de presença do reino que Ele veio implantar”.
“E nem sempre é fácil a gente fazer crível a Cristo Jesus. Pela Palavra, a gente pode até comover, diz um poeta, mas só convencemos pelo testemunho, pelo exemplo, pela vida, e é por isso que o Papa Paulo VI dizia na Encíclica Evangelii Nuntiandi que o mundo precisa de profetas, de mestres, precisa de alguém que ensine, de alguém que propague os prodígios de Deus, como cantávamos no salmo responsorial”, acrescentou o bispo.
Segundo Dom Diamantino, o mundo também precisa de testemunhas que mostrem pela sua simplicidade, pela sua humildade, pela sua convicção profunda de que realmente a razão de ser da nossa vida não é outra senão Jesus Cristo, o Crucificado, como Paulo diz na Carta aos Coríntios e como São Francisco gostava de repetir: “Longe de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo”!
“Meu querido Frei Rodrigo! É verdade que nós te chamávamos de ‘Querubim’ – quem sabe você já perdeu as asas ao longo do tempo -, mas não faz mal, o importante é a leveza do coração que levou você a chegar até aqui. O importante é essa convicção profunda de que Deus o chamou para a consagração religiosa na Ordem Franciscana, mas também escolheu você para ser presbítero na sua Igreja e, como diácono, você já está orientando outros no seguimento de Francisco, no seguimento de Jesus Pobre e crucificado”, disse o bispo.
E completou: “Que você possa continuar, enquanto tiver forças, a irradiar essa luz do Senhor, mesmo que tenha perdido as asas. Não importa! As asas são apenas símbolo da nossa agilidade de ir ao encontro do Senhor. E as asas são também símbolo de irmos correndo ao encontro dos irmãos, para anunciar a Boa Notícia que o Senhor está aí e ama você, quer bem a você. No fundo, o essencial de nossa fé é assumirmos que Deus realmente é bom para conosco, para com todos. É assumirmos, de verdade, que Deus sempre é Pai de ternura, de misericórdia, de imenso amor. E o nosso testemunho é que vivamos esse amor na fraternidade e para além da fraternidade, na comunidade onde vivemos, nessa sociedade por vezes tão questionadora e interpelativa, mas por vezes também vazia de conteúdo, pobre de fé, mas desejosa de esperança nesse Deus que a todos quer bem. Que você possa testemunhar no dia a dia do seu ministério, não apenas presidindo celebrações, aqui e acolá, mas sobretudo lá com seus meninos (seminaristas) e ser realmente esse ‘Querubim’ que irradia o amor do nosso Deus”.
Nesse momento, o rito continuou com o propósito do eleito. Em seguida, foi cantada a Ladainha de todos os Santos, quando o eleito prostrou-se, como sinal de sua total entrega a Deus. Veio, então, o momento central da ordenação com a imposição das mãos e a Prece de Ordenação. Na sequência, a última parte do rito: unção das mãos, vestição do eleito com a casula e a estola e a entrega do pão na patena e o vinho e a água no cálice para dar sequência à celebração eucarística.
Agradecimentos
O Definidor Frei Evaristo Spengler falou em nome da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil e agradeceu carinhosamente a Dom Diamantino, aos pais de Frei Rodrigo, ao Padre Afonso Henrique Alves da Silva, pelo apoio da Paróquia na preparação e na celebração, à OFS, à Província, aos formadores, ao povo da cidade e ao povo que se deslocou de vários cantos do país para participar deste momento. “Hoje queremos elevar uma grande prece de louvor e de gratidão ao Bom Deus pela entrega generosa de Frei Rodrigo à Ordem Franciscana e à toda Igreja como presbítero”, disse.
Frei Rodrigo, que esteve muito tranquilo durante toda a celebração, não conseguiu conter a emoção e teve de interromper por três vezes as suas palavras de agradecimentos, especialmente quando falou de sua família. “Agradeço a meus pais porque no nosso lar pude entender que os laços fortes que nos unem vem do amor que nos ofereceram. Agradeço a Deus por ter dado força e sabedoria aos meus pais para que nos ensinassem os valores familiares, os quais eu e os meus irmãos trazemos até os dias de hoje”, confessou.
Frei Rodrigo agradeceu à Província, seu amigo e confrade Dom Diamantino, os formadores, o Pe. Afonso, a OFS, e não poupou elogios ao povo da cidade, “de religiosidade e devoção marcantes”, acrescentou. Agradeceu a todos que o acompanharam durante os dez anos de formação e ao povo onde esteve em pastoral. “Muito me ensinaram e como foi bom caminhar com vocês!”. E, no final, prometeu: “Aqui estou para servir. E, sem vocês, esse ministério assumido não tem sentido!”
A Ministra Aparecida Maria Bruno da Silva falou em nome dos paroquianos e dos irmãos e irmãs da Fraternidade da OFS.