Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

“Moral cristã e seus fundamentos”, novo livro de Frei Nilo

05/09/2016

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nilo_050916-gMoral cristã e seus fundamentos: Educar em tempo de mudanças é o título da mais nova publicação de Frei Nilo, publicada pela Editora Vozes. Este livro está sendo lançado em diversos eventos, entre os quais no 40° Congresso Brasileiro de Teologia Moral, nos dias 29 de agosto a 1 de setembro de 2016, em São Paulo.

Nesta obra, Frei Nilo identifica a riqueza que brota de nossas raízes cristãs e busca partilhá-la com todos que, em meio a este tempo de mudanças, procuram respostas para fazer face aos desafios atuais. Trata-se de uma busca comum, num diálogo permanente, a partir de nossa identidade, a fim de colaborar com a humanidade na tarefa educativa. Cabe-nos ter coragem e esperança, atraídos pela proposta de Jesus Cristo, no itinerário percorrido pela Igreja Católica, sobretudo após o Concílio Vaticano II.

Sabemos que o atual contexto histórico-social passa por grandes transformações. Enquanto pessoas de fé, nossa missão de cristãos é a de acompanhar atentamente as mudanças em curso e buscar respostas à altura dos desafios de nosso tempo. Isto requer uma educação que forme sujeitos éticos, capazes de identificar os engajamentos morais, tendo a coragem de assumi-los na vida, quer pessoal, quer social.

“Desde o tempo do Concílio, o contexto histórico-social mudou muito no plano da visão do mundo, mas também em termos de conceitos ético-políticos. A década de 1960 foi um período de espera confiante, graças à convocação do Concílio, mas graças também a uma maior distensão na relação entre os Estados. O cenário mudou profundamente em relação ao passado. Evidenciou-se um forte impulso à secularização. O processo de globalização cada vez mais acentuado, ao invés de favorecer a promoção do desenvolvimento das pessoas e uma maior integração entre os povos, parece limitar a liberdade dos indivíduos e afunilar os contrastes entre os vários modos de conceber a vida pessoal e coletiva (com posições oscilantes entre o mais rígido fundamentalismo e o mais céptico relativismo)”1.

Diante destes e tantos outros desafios, podemos reagir de diferentes formas. Uma é aquela reação, descrita pelo Papa Francisco, de nos “entrincheirarmos em nosso pequeno mundo”2, numa posição de defesa, quando não é de combate, fechados em nossas pequenas fortificações. Outra postura é aquela que assume a tarefa de “uma grande reflexão crítica e um empenho de relançar a identidade, em termos propositivos e novos”3.

Inseridos nas realidades de nosso tempo, não negamos os valores da modernidade, nem os anseios da pós-modernidade; nós também participamos de suas conquistas científicas, democráticas e sociais, bem como de seus sonhos e desejo de realização. Porém, estamos conscientes de que estas conquistas se encontram num quadro ainda incompleto. Propomo-nos, como cristãos, a oferecer de nossa riqueza para que as pessoas, as famílias, as comunidades e as sociedades possam se desenvolver mais integralmente, conscientes de que somos um dom de Deus a serviço da humanidade.

Ao buscar a riqueza que brota de nossas raízes cristãs e católicas, Frei Nilo aponta para o diálogo a ser travado na contemporaneidade, não bastando nos refugiar no passado; é necessário nos mobilizar a partir de nossa identidade, de nossa riqueza e colocarmo-nos em missão, a fim de colaborar com a humanidade, num empenho comum.

Nós temos ainda muito a aprender. Longe de termos esgotado o que brota de nossas raízes cristãs, cabe-nos ter fôlego, coragem e esperança, para deixar-nos surpreender pela presença de Deus que, no Seu Espírito, nos chama “a elaborar novas respostas para os problemas novos do mundo atual”4. Sabemos que “o Espírito sabe dar as respostas apropriadas mesmo às questões mais difíceis”5. Tudo está atravessado pelo desígnio de Deus e banhado por seu Amor.
Por outro lado, deixemos ressoar as palavras do Papa Francisco: “Este é o momento favorável para mudar de vida! Este é o tempo de se deixar tocar o coração”6. Coloquemo-nos todos num movimento de conversão atraídos pelo amor misericordioso de Deus. O amor não é uma palavra abstrata. Deve atravessar nossa vida concreta e informar nossas intenções, atitudes e comportamentos no dia-a-dia, devendo estar permeado pela misericórdia; é Deus Pai orientando o nosso agir. “A credibilidade da Igreja passa pela estrada do amor misericordioso e compassivo”7.

Isto é fundamentalmente um ato de educar, como itinerário pessoal e comunitário a ser percorrido durante toda a nossa vida. A educação tem um lugar central em nossos dias à medida que assume o compromisso de “encontrar alternativas históricas capazes de assegurar a emancipação de todos, tornando-os sujeitos da história”8, capazes de uma autorreflexão crítica e de uma “autonomia para organizar os modos de existência e a responsabilidade pela direção de suas ações”.9

“Essa característica do ser humano constitui o fundamento da formação do sujeito ético. Este deve ser o objetivo fundamental da Educação”10.

A moral cristã participa deste itinerário educativo, levando ao “discernimento da vontade de Deus em vista da ação concreta”11. O desenvolvimento ético e moral das pessoas encontra na fonte cristã da moral uma fundamentação que auxilia na formação humana integral e capacita para o discernimento, enraizado no seguimento de Jesus Cristo. “Seguir Jesus Cristo é o fundamento essencial e original da moral cristã”12. “A fé possui… um conteúdo moral: dá origem e exige um compromisso coerente de vida… Através da vida moral, a fé torna-se ‘confissão’ não só perante Deus, mas também diante dos homens: faz-se testemunho”13.

Notas

1 CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA. Educar hoje e amanhã: Uma paixão que se renova (Instrumentum laboris). Vaticano, 2014, p. 5.
2 PAPA FRANCISCO. Apud SCUOLA DI ALTA FORMAZIONE EDUCARE ALL’INCONTRO E ALLA SOLIDARIETÀ (EIS – LUMSA). Educare oggi e domani: Una passione che si rinova. Sfide, strategie e prospettive dalle risposte al questionario dell’Instrumentum laboris. Roma: Congregazione per l’Educazione Cattolica, 2014, p. 7.
3 Ibidem, p. 7.
4 JOÃO PAULO II. Exortação apostólica Vita Consecrata. Petrópolis: Vozes, 1996, n. 73.
5 Ibidem.
6 PAPA FRANCISCO. O rosto da misericórdia. Bula de Proclamação do Jubileu extraordinário da misericórdia. São Paulo: Paulinas, 2015, n. 19.
7 Ibidem, n. 10.
8 SEVERINO, A. J. A busca de sentido da formação humana: tarefa da filosofia da Educação. Educação e Pesquisa, 3 (2006), p. 632.
9 RODRIGUES, N. Educação: Da formação humana à construção do sujeito ético. Educação & Sociedade, 22 (2001) p. 232.
10 Ibidem.
11 Cf. GIBELLINI, R. A teologia do século XX. São Paulo: Loyola,1998, p. 111. Rosino Gibellini segue, na citação destacada, o pensamento de Dietrich Bonhoeffer.
12 JOÃO PAULO II. Carta encíclica Veritatis Splendor. Petrópolis: Vozes, 1993, n. 19.
13 Ibidem, n. 89.