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Frei Medella: “Francisco nos ensina a buscar os verdadeiros sonhos”

04/10/2020

Notícias

Moacir Beggo

 São Paulo – O clima ameno nos últimos dias em São Paulo, depois de muito calor, ajudou nas festividades de São Francisco de Assis, na Paróquia da Vila Clementino, em São Paulo, onde também está a Sede da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil. O Vigário Provincial Frei Gustavo Medella presidiu a Missa das 9 horas, tendo como concelebrante Frei Robson Scudela. Devido às normas sanitárias, o espaço na igreja durante as celebrações foi limitado. Mesmo assim, muitas pessoas ficaram de fora esperando outros horários de missas. Frei Medella representou o Ministro Provincial, Frei César Külkamp, que está em viagem fraterna ao Noviciado Franciscano de Rodeio (SC).

Muitos fiéis participaram das celebrações e um grande número de pessoas fez fila para abençoar seus animais de estimação. Por causa da pandemia, muitas atrações foram canceladas neste ano, como a feira de adoção de animais, o pastel de São Francisco e a feira de artigos religiosos. O pároco Frei Valdecir Schwambach manteve o tradicional Bolo de São Francisco, com 1.100 medalhinhas abençoadas do santo.

Frei Medella disse que, neste dia festivo, nossos olhos e nosso coração se voltam para a figura de São Francisco de Assis. Segundo ele, este homem que viveu na Idade Média, cuja mensagem se faz tão própria e atual para os nossos dias, serve de exemplo e inspiração para uma vida diferente, uma vida alternativa, mais qualificada diante de Deus e diante do Planeta.

Frei Medella escolheu dois elementos presentes na vida de Francisco para encontrar possíveis ensinamentos hoje, “no aqui agora da nossa existência pessoal e comunitária”. São eles: os sonhos e a nudez.

Os sonhos, segundo o frade, volta e meia é possível encontrar nos textos dos biógrafos e hagiógrafos de São Francisco. “Eu gostaria de deter-me sobre um, ainda antes de sua conversão, quando a caminho de uma batalha, com o objetivo de se tornar um membro da nobreza, Francisco sonha com um suntuoso castelo, cheio de armas e escudos, todos eles marcados pela insígnia da cruz. E neste sonho, ele ouve uma voz: ‘Francisco, o que é mais importante: servir ao servo ou ao Senhor?’ E ele, no sonho, chega à conclusão que é melhor servir ao Senhor. E aí a voz disse: ‘Volta para a tua cidade, e lá descobrirás o que deves fazer’. Interessante como há a junção desses dois elementos: a glória, a suntuosidade, a ostentação de um grande prédio, com armas poderosas, mas todas elas marcadas pela simplicidade da cruz. E Francisco, então, reaprende a sonhar. Redireciona suas energias e seus sonhos para seguir a Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele se descobre, profunda e incondicionalmente, amado por Deus e deseja fazer tudo o que está ao seu alcance para corresponder, dentro dos seus limites, a esse amor com o qual ele vive uma experiência tão próxima e tão intensa. E deixa seus sonhos serem dirigidos pelo Senhor”, explica Frei Medella, acrescentando: “O sonho de abraçar o leproso; de ir ao encontro das enfermidades mais difíceis da humanidade; o sonho de despojar-se de tudo, e com as mãos e o coração livres poder seguir levando aquilo que de mais precioso tinha: o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo”.

Trazendo para os tempos atuais, perguntou sobre nossos sonhos pessoais e comunitários? “Se meu sonho é movido na direção apenas de um consumo exacerbado, eu vou cair no vazio, eu não vou conseguir êxito na minha busca de uma realização plena. Se meu sonho é eivado de egoísmo, se só penso eu mim, eu jamais vou conseguir enxergar no outro o irmão com quem eu posso construir uma vida para além de laços geográficos, de sangue, de raça, de classe social”, classificou.

“Poderíamos nos perguntar: quais são os sonhos que movem o coração, por exemplo, de alguém que se dispõe atear fogo em florestas a fim de conseguir a terra para exploração especulativa e financeira? Com o que esses sonhos estão conectados? Com que tipo de desejo, com que tipo de expectativa? O que sonha alguém que se dispõe a corromper-se desviando recursos, por exemplo, que seriam usados para salvar vidas na crise da pandemia como estamos vivendo?

São sonhos perversos, são sonhos de destruição, de morte, que destroem aquele que sonha e aqueles que são atingidos pelas práticas tenebrosas que esse tipo de sonho, verdadeiro pesadelo, inspira corações enfraquecidos, pela autossuficiência, pelo egoísmo, pela dificuldade de amar”, expressou Frei Medella.

“Francisco nos ensina a buscar os verdadeiros sonhos. Francisco, graças a Deus, inspira esses sonhos em nosso pastor maior, o Papa Francisco, que na Encíclica Laudato Si’, lançada há cinco anos, partilha com a humanidade o grande sonho da fraternidade universal: o cuidado com a Casa Comum, com as pessoas, que são nossos irmãos, irmãs e que merecem ser respeitados e amados”, frisou.

Frei Medella explicou que o Santo de Assis agora inspira o Papa com a encíclica lançada ontem (3/10): o sonho da fraternidade humana. “A encíclica chama-se ‘Fratelli Tutti’ (Todos irmãos e irmãs), buscando a construção de uma sociedade onde haja o respeito, o carinho, o diálogo, a abertura, a promoção da vida, a defesa dos fracos e sofredores. Sonhos muito legítimos e cheios de vigor evangélico, que nós, como cristãos, como seguidores, amantes e admiradores de São Francisco, somos convidados a sonhar e a construir juntos esse mundo diferente a partir daquilo que está ao nosso alcance, na porta de nossa casa”, exortou.

Frei Jeâ e a fila para a bênção dos animais

O segundo elemento, segundo Frei Medella, é a nudez. O frade lembra que, nas legendas do Santo, há dois episódios que Francisco fica nu. “Antes de falar da nudez, contudo, vamos falar da vestimenta de Francisco. Primeira veste dele era de roupas bem produzidas, coloridas, porque seu pai era um comerciante poderoso de Assis e que tinha uma boa condição financeira. Provavelmente, se na época houvesse sites de celebridades, Francisco ocuparia as colunas sociais ostentando sua condição…”, disse.

“E, de repente, naquela conversão, ele percebe que aquelas vestes o distanciavam do caminho da verdadeira realização. E aí, pressionado pelo pai e pela cidade diante do bispo, diante do todo mundo, ele, corajosamente, despe-se de tudo e fica totalmente nu, mostrando que seus sonhos passariam a caminhar numa outra direção. Ele percebe que aquele caminho não é o caminho que vai preenchê-lo a partir de dentro, e aí assume a veste do camponês, que hoje, estilizadamente, é o nosso hábito franciscano: uma túnica, um cordão e o capuz, porque caminhavam muito sob as intempéries”, explicou.

Segundo Frei Medella, a segunda vez que Francisco fica nu é próximo à sua morte, quando pede a seus confrades que o dispam completamente a fim de que nu seja deitado sobre terra nua, como quem recebendo o abraço definitivo daquela a quem ele chamou de Mãe e de irmã. “E aí, a nossa pergunta: do que estamos precisando nos despir hoje para sermos pessoas mais autênticas, mais simples, mais fraternas, mais humanas, mais solidárias? Não devemos ter medo de depor todo o orgulho, preconceito, medo, fechamento em si, autossuficiência, egoísmo. Tiramos de nós essas vestes para nos revestirmo-nos da simplicidade original da qual Deus nos chama, sem muito território para defender, sem muitas opiniões para impor aos outros, sem muitas respostas e mais perguntas e questões, com muita disposição para escuta, para ouvir e compreender o outro na sua dor e conseguir abraçá-lo. Vestido de muita empatia e compreensão, disposição para amar e servir. Vestido de disposição para colocar a mão na massa e fazer a diferença”, ensinou.

Juliana, Pedrinho, João, Pedro e Maria

“Que Francisco nos ajude a sonhar sonhos grandes que nos levam a ser pequenos, como foi Francisco, e conforme o Evangelho de hoje: Deus se revela aos pequenos e humildes. E vamos nos despir de tudo aquilo que nos afasta de Deus!”, pediu no final.

A bênção dos animais foi feita no estacionamento ao lado do Salão Paroquial para dar distanciamento e segurança às pessoas. Maria Carolina Cristóvão de Proença Vieira e seus filhos Pedro e João trouxeram o Tobby, que, segundo eles, representa todos os animais que não puderam estar presentes. Junto com eles vieram a amiga Juliana e seu filho Pedro.

Fabiana com Mingau (à esquerda) e Zélia com o João.

O filho se adiantou em dizer que mãe é uma amante dos animais. “Eu sempre gostei da natureza e de suas criaturas”, contou, explicando que não é paroquiana, mas uma devota. “São Francisco sempre teve, de uma forma ou outra, na nossa vida. Nós participávamos há muito tempo no Santuário Santa Edwiges, onde tem as irmãs franciscanas”, disse. Segundo ela, numa das consultas médicas de seu filho no bairro, conheceram a Igreja São Francisco. “Há duas semanas, meu filho falou que queria vir a esta igreja. Na quinta-feira, viemos ao médico e, depois na Missa, quando o padre falou que iria ter a festa de São Francisco. Então, resolvemos vir e escolhemos um dos animais que temos para representar todos eles”, explicou Maria, que será madrinha do filho de sua amiga.

Quem fez sucesso entre a maioria canina foi a dupla: Mingau e João. Nem se importaram com os latidos. Tranquilamente, no colo de Zélia e Fabiana da Silva, eles receberam a bênção na mais santa paz. Segundo Fabiana, a devoção a São Francisco começou quando ela descobriu que o Santo era o “Padroeiro dos Animais”. “Quando o João ficou doente, eu fiz uma promessa: enquanto eu vivesse, traria ele para tomar a bênção todos os anos”, disse. As duas são unânimes em dizer que gostam dos caninos, mas a preferência é pelos felinos. Mingau, pelo visto, estava adorando o passeio. Este é o seu primeiro ano.


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