Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Frei Marcos será ordenado presbítero no sábado

15/10/2014

Entrevistas

Moacir Beggo

No dia 18 de outubro, às 16 horas, Frei Marcos Prado dos Santos será ordenado presbítero pelo bispo Dom Diamantino Prata de Carvalho, OFM, da Diocese de Campanha (MG). No domingo, 19 de outubro, ele vai celebrar a Primeira Missa às 10 horas. Tanto a ordenação como as primícias serão na Paróquia São Lourenço, no centro de São Lourenço (MG). Nesta entrevista, esse mineiro de Carmo de Minas fala um pouco do ministério que vai assumir, dos desafios, e da orientação do Papa Francisco para que ele tenha o “cheiro das ovelhas”. Conheça um pouco mais o futuro presbítero da Província, que escolheu como lema para a sua ordenação: “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao dono da messe que mande trabalhadores para a colheita” (Lc 10,2).

Site Franciscanos – O que representa para você chegar à ordenação presbiteral depois de tantos anos de estudo?

Frei Marcos – Depois de anos de estudo, da prática pastoral constante e de cada dia dedicado ao seguimento de Jesus, sinto-me feliz por continuar a missão do discipulado, sendo fiel, colocando a minha vida a serviço da Província e da Igreja. Este momento especial em minha vida, de minha querida família, que está em São Lourenço, e de meus estimados irmãos na fraternidade, não se resume apenas em mais uma conquista ou uma vitória, mas a maior conquista e vitória é a doação de vida, deixando-me modelar a cada dia pelo Evangelho e seu santo modo de operar. A maior riqueza, a vitória, é colocar-me a serviço pela causa do Reino de Deus. Este tesouro não se corrompe, muito menos é entregue às traças. E, quando olho para vida de São Francisco de Assis, enxergo uma grande virtude franciscana: ser capaz de viver em constante desapego, ser capaz de seguir o exemplo de Nosso Senhor Jesus Cristo, vivendo desta felicidade constante do desapego; tenho a felicidade de saber que a luta não é para mim mesmo, mas para o povo de Deus. Por isso, tenho consciência de que não tenho que estar em primeiro lugar, mas, pelo contrário, talvez o lugar que me é concedido seja o último. Porque, na luta para ser servo, o mais importante é servir. E sei que neste mundo poucos são os operários e poucos ainda querem lutar para serem servos! Para mim o ser servo significa: “não levar consigo coisa alguma para o caminho, nem bordão, nem mochila, nem pão, nem dinheiro, nem ter duas túnicas” (Lc 9,3). Minha felicidade não se resume em ser servo de quem eu sou, mas de quem me escolheu, por isso, para alcançar esta plenitude do múnus apostólico, sei que quem me escolheu, me dará tudo e, ao mesmo tempo, não deverei ter nada, senão somente o desejo e a vontade de fazer a Sua vontade, ou seja, pregar com fervor o Evangelho. E, desta maneira, com o nada ser feliz em tudo. Por isso, minha felicidade e alegria em servir se reflete na segurança de quem descobriu o maior de todos os tesouros: estar sempre a serviço de Jesus e do povo de Deus.

Site Franciscanos – O que você acha da frase do Papa de que o presbítero tem que ter o “cheiro das ovelhas”?

Frei Marcos – Ser presbítero é ter sempre intimidade com Jesus, tendo uma vida profunda de oração, fé e devoção, mas o ser presbítero também é se ocupar a cada dia com as páginas da história de vida de cada um que faz parte da comunidade de fé, ou seja, o povo de Deus. O ouvir constantemente a Deus traduz-se no ouvir também o constante apelo do povo de Deus, porque os efeitos da amizade, da intimidade com Deus, estarão profundamente mergulhados na relação de auxílio, atendimento da comunidade, e na vida de cada fiel, que necessita encontrar a Jesus. Basta olhar ao redor da paróquia de Santo Amaro, e a partir desta realidade visualizar as muitas necessidades do povo de Deus. Quando se assume a missão de Jesus, se assume também a missão da comunidade de fé, e neste sentido é essencial para o pastor ter o “cheiro das suas ovelhas”; portanto, acredito que a vida de um presbítero somente tem sentido se é vivida junto da comunidade de fé, encontrando na comunidade o sentido maior de se viver: sendo sentinela, servindo sempre, pois um sacerdote missionário que ama a Jesus deve assumir a cada dia o serviço e missão da Igreja, uma Igreja que é comunidade e conversão. Eu tenho certeza que a cada dia devemos exercer o serviço ao povo de Deus, descobrindo e redescobrindo o chamado de nossa vocação, onde quer que Deus nos conduza, “pregar a palavra, insistir oportuna e inoportunamente, repreender, exortar com toda a paciência e empenho de instruir” (2 Tm 4,2) e com amor. O Papa Francisco com a expresão “cheiro das ovelhas” quer que o Presbítero sempre seja amigo de Deus e de seu povo, cuidando de cada coração, aproximando-se e aproximando cada um da morada paterna.

Site Franciscanos – Quais os desafios que um jovem presbítero tem neste momento da Igreja?

Frei Marcos – Um jovem presbítero deve sempre se manter fiel ao povo de Deus. E, a partir desta fidelidade, mergulhar de coração na evangelização, levando a Palavra de Deus a todas as pessoas. Hoje, principalmente no contexto da evangelização atual, deve-se atender aos sinais dos tempos. Eis um grande desafio, atender aos sinais dos tempos na fraternidade, na comunidade, na dimensão eclesial. Como dizia Santa Clara: “Não perca de vista o ponto de partida”, não se pode permitir perder de vista o ponto de partida, o primeiro amor, o desejo e a vontade de fazer a vontade daquele que envia. O presbítero de hoje é aquele que, na Igreja, povo de Deus, coloca-se como servidor, em uma vocação permanente e decidida, com discrição, para atender aos pobres e ricos, em sentido material e principalmente espiritual. Alimentar, com a Palavra de Deus, o povo, que está sedento. E para um jovem presbítero, posicionar-se diante de uma sociedade em constante mudança, é um grande desafio, uma sociedade centralizada no econômico, onde muitas vezes a religiosidade está se deslocando para o anonimato, e a maioria das pessoas não veem mais sentido na esfera religiosa, ou seja, não se cultiva mais a fé, a devoção, a caridade, enfim, o amor ao próximo parece tender a um enfraquecimento. O Deus que é amor deixa de ser o essencial da vida das pessoas. É nesta dimensão de vida que se deve manter fiel, para ajudar no anúncio do Evangelho, para resgatar o coração das pessoas perdidas, e, a partir da experiência pessoal, ser um exemplo de fé e devoção como São Francisco de Assis. Tenho certeza de que ser presbítero na sociedade de hoje é dar prioridade à comunidade formada pelo Povo de Deus, levando a mensagem do Evangelho a todas as pessoas, fazendo nascer o fruto em terra seca, e desta forma demonstrar que somente se encontra segurança nas mãos de Deus. Jesus, para mim, sempre foi um porto seguro, e na hora em que eu mais precisei, Ele estava presente em minha vida. Quero levar este Jesus, presente na Eucaristia, a todas as pessoas necessitadas. A Eucaristia hoje deve ser um sinal da presença de Deus entre nós, não de maneira superficial, mas em profundidade, dando-nos uma identidade pessoal de abertura e diálogo constante com Deus. Ser um jovem presbítero hoje é levar o Cristo eucarístico para dentro do coração de cada fiel! Assim como Ele habita em nosso coração.

Site Franciscanos – Como se deu o seu discernimento vocacional?

Frei Marcos – Eu era bem jovem quando comecei a participar dos encontros vocacionais com Frei Diamantino, hoje bispo da Diocese de Campanha, no Sul de Minas. Naquela época, buscando o discernimento vocacional, também estava em contato com os Redentoristas, já que, com apenas nove anos, tive contato com eles quando fui com minha avó Maria Aparecida ao Seminário Santo Afonso, na cidade de Aparecida, no Vale do Paraíba (SP). Fui, durante um longo tempo, assistido pelos Redentoristas, sem deixar de fazer todos os encontros vocacionais na Paróquia de São Lourenço Mártir, que era franciscana. Sempre ouvia falar de São Francisco de Assis e o admirava por seu exemplo de vida. Aos poucos, fui nutrindo certa paixão pela vida franciscana. Mesmo assim decidi entrar na Congregação do Santíssimo Redentor e morei no Seminário Santo Afonso, em Aparecida. Mas não fiquei muito tempo. Saí em 1999 e, nos anos seguintes, continuei a fazer os encontros vocacionais com Frei Perceval Canuto. Amadureci minha vocação franciscana e me decidi pelo carisma franciscano, bem diferente do carisma de Santo Afonso, principalmente em relação ao modo de vida, à vivência dos votos na vida religiosa. Para exercer tudo isso com gratidão de coração, decidi seguir os passos de Jesus Cristo, a exemplo de São Francisco de Assis.

Site Franciscanos – Como São Francisco entrou em sua vida?

Frei Marcos – A minha catequese toda foi assistida por Frei Aymoré Dalmédico, que morava e trabalhava na Paróquia de São Lourenço. Portanto, sempre estive perto dos frades, sempre vivenciei a vida e os valores da fraternidade que conhecia. Mesmo durante a catequese, depois na época dos encontros vocacionais, com Frei Diamantino e, mais tarde, com Frei Perceval, aprofundei-me nos escritos e na vida de São Francisco, grande santo e patrono de todas as criaturas. Antes, ainda, conheci um São Francisco na escola que amava a natureza e cuidava de todos os animais. E quando era coroinha, na Paróquia de São Lourenço, sempre admirei a maneira como os frades celebravam e falavam dos valores da vida. Suas pregações e homilias eram cativantes. Era uma extensão da vida de São Francisco de Assis na sua simplicidade e amor a todas as coisas criadas por Deus.

Site Franciscanos – Fale um pouco de sua família e de sua cidade, Carmo de Minas.

Frei Marcos – Em linhas gerais, quando era pequeno, minha família morava em Carmo de Minas. Meus pais, avós e todos os parentes ainda estavam no campo, mas foram seduzidos por uma vida longe daquele lugar, talvez uma vida melhor. Eu tinha pouca idade quando minha família iniciara um êxodo de Carmo de Minas. Alguns decidiram ir para o Rio de Janeiro, e até hoje moram por lá, outros foram para São Paulo e alguns residem no Triângulo Mineiro. Mas, escapei de morar no Rio de Janeiro, pois minha mãe achou que era muito longe. Fomos para a cidade mais próxima, São Lourenço. Meus pais se separaram. Meu pai continuou em Carmo de Minas e depois foi para Belo Horizonte, e minha mãe com meus avós, uma tia e meu irmão, ficamos em São Lourenço. Desde pequeno, cresci em São Lourenço, onde minha família se dedicou ao trabalho no Hotel Beira Parque.

Site Franciscanos – Deixe uma mensagem aos sobre esta missão que está assumindo.

Frei Marcos – Santo Agostinho dizia: “Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Eis que habitáveis dentro de mim, e eu, lá fora, a procurar-Vos!”. Vejo que os jovens de hoje andam meio preocupados com a beleza, ou seja, um padrão de beleza, onde as pessoas querem, dentro de um contexto, serem lindas, perfeitas, evidenciando apenas a exterioridade da existência. Mas, às vezes, se esquecem da maior perfeição que um dia conheceram: o Deus que habita com seu Espírito Santo o coração de cada pessoa. Deus proporciona uma felicidade que não passa, que não é uma vitrine, que não muda de acordo com a moda. Ao encontrar a Deus, muitos jovens deveriam se preocupar menos com a beleza e tentar buscar primeiramente a alegria e o prazer em viver as coisas únicas e simples do dia a dia. Como a mulher samaritana, cada um de nós tem a oportunidade de viver no dia a dia o verdadeiro Amor, não aquele que oprime e que deixa estagnado no lugar, mas aquele Amor que dá asas. Este é o amor que nos ensina a agarrar-nos às coisas de Deus; as coisas de Deus não são passageiras. O Papa Francisco nos diz que “a grande esperança que a fé nos dá é saber que mesmo em meio às dificuldades Deus atua e nos surpreende”. Portanto, jovem, não tenha medo, caminhe sempre com o coração voltado para Deus!