Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Frei Antenor será ordenado presbítero sábado

16/12/2014

Entrevistas

Moacir Beggo

“Trazemos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que este poder extraordinário seja de Deus e não de nós”. Este é o lema escolhido por Frei Antenor Camilo Militão, mineiro de São Lourenço, para a sua ordenação presbiteral, no dia 20 de dezembro, às 10 horas, na Paróquia Santíssima Trindade, em São Lourenço. Frei Atenor Camilo será ordenado presbítero por Dom Diamantino Prata de Carvalho, bispo da Diocese de Campanha (MG) e frade desta Província. Sua Primeira Missa será celebrada no dia 21 de dezembro de 2014, às 9h30, na mesma Paróquia. Nesta entrevista, Frei Antenor fala, com orgulho, de suas raízes (ele nasceu no dia 14 de agosto de 1980 em São Lourenço), de sua família, conta como se deu seu discernimento vocacional e as perspectivas que tem como presbítero numa Igreja que tem como seu timoneiro o Papa Francisco. Frei Antenor vestiu o hábito franciscano no dia 8 de janeiro de 2004.

Site Franciscanos Em primeiro lugar, fale um pouco de sua vida. Como é a sua família?

Frei Antenor Camilo Militão – Sou natural de São Lourenço, Sul de Minas. Meus pais moram na zona rural, cerca de sete quilômetros da cidade. Tínhamos uma horta. Meu pai e meu irmão faziam feira e eu era responsável por cuidar da horta. Era um trabalho que eu gostava muito, talvez seja por isso que, ao longo do tempo que estive no Seminário, sempre gostei de mexer com a terra, plantar e cultivar a lavoura. Até hoje, gosto desse trabalho com a terra. Meus pais são humildes, não dispensam um fogão a lenha, andam descalços e buscam lenha no mato. Sou muito agradecido a eles porque me deram uma educação simples, mas uma formação cristã tendo como alicerce os valores do Evangelho. Sou muito grato a eles e aos meus irmãos, Junior, o mais velho, e o caçula, Mateus. Confesso que, mesmo longe deles, somos muito amigos, e essa amizade me ajuda muito a não perder as minhas raízes, pois são elas que me sustentam.

Site Franciscanos  – Como se deu seu discernimento vocacional?

Frei Antenor Camilo – Quando tinha 7 anos, minha avó precisava de alguém para passar a noite com ela, pois morava sozinha. Então, apenas pousava em sua casa e, de manhãzinha, retornava para minha casa. Confesso que não apreciava muito, mas fazia aquilo para ajudá-la. Como ela era muito devota de Nossa Senhora Aparecida, ouvia todos os programas da Rádio Aparecida, como o do Pe. Vitor Coelho de Almeida, “Consagração a Nossa Senhora”, “Os ponteiros apontam para o infinito”. Estes programas até hoje ainda existem. Quando tinha 13 anos, ela faleceu. Um ano depois, disse para meus pais que queria ser padre. Mas por ser muito levado, “arteiro”, eles me disseram: “Você, padre, nunca!” Desapontado, voltei para o meu trabalho e pensei: “Se for vontade de Deus, vai perdurar”. Um ano se passou e continuei com aquela vontade. Então, com muito custo, peguei o endereço dos Padres de Aparecida, pois não sabia o que era padre diocesano, redentorista e franciscano. Um tio meu se casou e essa tia conhecia um senhor que preparava os meninos para ingressarem no seminário. Ela se chamava Dona Luísa, já falecida, sobrinha do Monsenhor Lucas Maia (também falecido). Mas ela não escreveu para os redentoristas como eu esperava, mas sim me enviou para os diocesanos, em Campanha. Tinha na época 16 anos. A ideia não me agradou. Um dia, Frei Pedro Viana foi em casa e conversei com ele. Então, me disse para procurar o Frei Perceval. E assim fui muito bem recebido pelo frei e comecei a fazer o encontro vocacional. Entrei em Agudos para fazer o Ensino Médio quando estava com 19 anos.

Site Franciscanos Por que escolheu ser frade franciscano?

Frei Antenor Camilo – Me recordo que em casa tinha um folheto das missões que os frades franciscanos fizeram em São Lourenço, em meados da década de 80. Nesse folheto havia a imagem de São Francisco com uma oração: “Senhor que queres que eu faça, coloco-me diante de ti….” e atrás tinha o nome dos missionários. Toda a noite rezava esta oração. Sentia que esta oração me dava muita paz. Aos sábados, na parte da tarde, passava um frade de bicicleta na frente de casa. Minha mãe dizia: “É o Frei Aymoré!”. Admirava-o porque era um homem simples, humilde e tinha um rosto tão limpo, tão puro que ficava admirado com seu modo de vida. A escolha de ser franciscano vem da simplicidade de vida que os frades cultivam, pelo amor aos pobres que revela o rosto do Cristo, e pelo modo de serem peregrinos e viandantes neste mundo, do não ter nada de próprio, da raiz de ser missionário que os frades possuem, do ir além-fronteiras. Essas qualidades do franciscano me cativam muito.

Site Franciscanos  – Quais as perspectivas para o ministério presbiteral com o Papa Francisco?

Frei Antenor Camilo – Penso que é um homem inspirador e renovador, isso não tem como negarmos. Ele é. E com isso, ele traz mudanças revolucionárias para nossa Igreja. Ele vai marcar o nosso século, não tenho dúvida. Mas temos que tomar cuidado com a apologia que se faz sobre o Papa. Até ele não gosta desse endeusamento, quando ele próprio diz: “Sigam a Cristo e não o Papa!”. A perspectiva que temos que ter é de uma Igreja mais aberta e voltada para a realidade do povo, principalmente daqueles que estão à margem da sociedade. Ele fala muito da compaixão, da misericórdia, do colocar-se ao lado do outro e sentir suas dores e angústias. Talvez o mais intrigante e que nos questiona muito, e nos deixa envergonhados, seja que antes de ele falar, ele já está fazendo, como: acolhendo o pobre, o órfão e devolvendo a eles o que é de suma importância para a pessoa humana. Aquilo que Jesus já fazia no seu tempo, nem tanto com palavras, mas sim com gestos e atitudes concretas, que era devolver ao fraco e limitado a dignidade de filhos e filhas do Pai. Mas diante dos apelos de “sair de si” que o Papa e a Ordem tanto nos pedem, temos que bater no peito e confessar humildemente o nosso pecado. Isso vejo diante dos meus olhos, nas nossas casas de formação, nas diversas pastorais das nossas paróquias e movimentos onde atuamos e marcamos a nossa presença franciscana. Talvez o nosso maior pecado seja o fechar-se, o medo do novo, a superproteção dos nossos formandos e a nossa de frade menor. Esta redoma de vidro temos que quebrá-la para não entrarmos na zona de conforto. Este é o maior obstáculo a nós, frades menores. Se conseguirmos sair deste casulo, deste emaranhado que nos cerca e que nos prende, tenhamos a certeza de que estaremos cumprindo não apenas o que o Papa nos pede, mas aquilo que Deus espera de nós, frades menores.

Site Franciscanos  – Por que vale a pena ser franciscano hoje?

Frei Antenor Camilo – Vale a pena ser franciscano nos dias de hoje porque São Francisco é um homem atual, uma figura que nos aponta para algo que é novo, transformador. E esse novo é a pessoa de Cristo, sua palavra revela-nos o rosto do próprio Deus que está nos pobres e abandonados. No entanto, é preciso confiarmos mais em Deus do que em nós mesmos, pois a messe é dele, e é ele quem chama, quem convida e quem prepara para a missão, ungindo-nos, consagrando-nos e enviando-nos mundo afora.

Site Franciscanos  – Deixe, para terminar, uma mensagem àqueles que querem seguir Jesus Cristo, a exemplo de São Francisco.

Frei Antenor Camilo – Vale a pena ser franciscano, entregar tudo e seguir o Senhor que nos chama. Ele não só quer que perseveremos, mas que nos esforcemos, nos empenhemos e sejamos fiéis a ele. Tenhamos a certeza: somos aquele vaso de barro, frágil, simples, aparentemente sem nenhum valor. Mas quanto mais esvaziarmo-nos de nós mesmos, das nossas vontades, dos nossos desejos, mais Deus vai encher este vaso com sua graça, a ponto de transbordarmos de bondade, verdade e justiça de Deus. Confiemo-nos ao Senhor, ele nunca nos faltou e nunca há de nos faltar.

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