Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Dez mil pessoas acolhem Dom João Bosco em Barueri

21/07/2014

Notícias

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Moacir Beggo

Osasco (SP)

O bispo franciscano Dom João Bosco Barbosa de Sousa tomou posse ontem, 20 de julho, na Diocese de Osasco, em celebração que reuniu cerca de 10 mil pessoas no ginásio de esportes José Corrêa de Barueri, na Grande São Paulo. Dom Bosco é o terceiro bispo da ‘jovem’ Diocese que neste ano celebra seu jubileu de 25 anos e foi nomeado pelo Papa Francisco no dia 16 de abril deste ano.

A celebração, que reuniu dezenove bispos de todo o Brasil, assim como sacerdotes e religiosos, além das autoridades, durou quase três horas. O rito da posse no início da celebração se deu com a leitura da Bula Pontifícia do Papa e, em seguida, o Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, convidou Dom Ercílio Turco, até então Administrador Apostólico e segundo bispo diocesano, a entregar o báculo pastoral a Dom João Bosco.

bosco_gA entrega desta insígnia, que representa o governo da Diocese e a tríplice missão própria do bispo de ensinar, santificar e governar o rebanho a ele confiado, representa também a transmissão do pastoreio da Diocese ao seu novo pastor.

Dom Bosco, como sempre fraternal e muito espontâneo, interagiu com facilidade com o grande público e, na sua homilia, dispensou o que escreveu e passou a falar de improviso.

”Me permitam dizer palavras muito simples e até deixar de lado o que eu escrevi aqui (… ). A homilia de hoje quem faz são vocês, a presença de vocês neste momento de Igreja que é a sucessão apostólica é que é a verdadeira homilia”, disse o bispo.

Saudou e agradeceu as autoridades presentes dizendo que encontraria com eles em breve para se unirem no trabalho dos mais necessitados.

O novo bispo saudou de modo especial a Dom Cláudio Hummes, que o ordenou como presbítero e bispo. “É meu pai, meu irmão e também meu irmão de hábito como franciscano”, disse. A Dom Ercílio, agora bispo emérito, disse: “A missão do Evangelho que ele nos passa, com sua simplicidade, com sua alegria, com sua proximidade com os diocesanos, quero tentar viver”, acrescentou o novo bispo.

Quando pediu que os sacerdotes de sua Diocese se apresentassem, ouviu o público se manifestar com grande entusiasmo e garantiu: “Quando fui nomeado, fiquei com medo de assumir uma Diocese tão grande, mas agora não tenho mais medo”, confessou, prometendo ser fraterno e próximo dos seus pastores. E também pediu que eles sejam próximos dele.

Também falou de maneira especial aos religiosos, tendo em vista o ano dedicado aos consagrados que acontecerá em 2015 e pediu para, desde já, começarem a prepará-lo. Para os leigos, confiou o Ano da Paz que a Igreja do Brasil propõe. “Testemunhem esse ano da paz junto com os seus pastores. Que seja realmente marcante e não simplesmente uma bandeira. Se for só uma bandeira, vai passar em branco. Queria que desde agora a gente assumisse esse caminho da paz que a Igreja nos pede, com gestos e ações significativas”, pediu.

A arena de esportes de Barueri, segundo a sua administração, tem capacidade para 6 mil pessoas sentadas. Ontem, além das seis mil pessoas, a arena ficou tomada nos correadores e cerca de mil pessoas que não conseguiram entrar no ginásio puderam acompanhar a celebração através de um telão na parte externa.

O ginásio ficou muito bonito com O altar no centro, um projeto da Ara Christus, do arquiteto Leandro Nascimento. No coral de 100 vozes, todas as 13 regiões da Diocese foram representadas. Além disso, a banda foi composta por um quarteto de cordas, bateria, baixo, saxofone e violão.

Um grupo de cerca de 40 pessoas veio especialmente de União de Vitória, a primeira e última Diocese onde Dom Bosco passou sete anos, para participar da cerimônia de posse de Dom João Bosco, em Barueri. Além das caravanas das cidades da Diocese, todas as Paróquias por onde passou Dom João Bosco, como São Paulo, na Vila Clementino e Pari, e Pato Branco (PR) também estiveram presentes, assim como a sua cidade natal, Guaratinguetá. Frei Djalmo Fuck, pároco da Paróquia São Francisco de Assis, representou a Província Franciscana da Imaculada Conceição na posse de Dom Bosco.

Destaque especial para a mãe de Dom João Bosco, Dona Ondina, que, aos 95 anos, não deixou de participar deste momento importante de seu filho.

Ao povo presente, Dom Bosco disse que a coleta feita se destinaria para a Diocese de União da Vitória, que está em reconstrução depois das chuvas intensas no Sul.

No final, Dom Bosco agradeceu a todos os voluntários que trabalharam no evento. Como pôde ser visto, o exército de voluntários da  Diocese deu um show de organização.

ÍNTEGRA DA HOMILIA
Queridos irmãos e irmãs,

Quero saudar e agradecer de coração aos irmãos arcebispos e bispos, entre eles de modo especial o Cardeal dom Odilo, pela acolhida nesta Província, e também a dom Cláudio que é um pouco meu pai, me ordenou padre há 37 anos, e depois ele mesmo presidiu a ordenação episcopal, há 7 anos, e agora está presente nesse novo início. Também agradeço a Dom Ercílio que, desde o início manifestou verdadeira alegria em me receber. E não posso deixar de lembrar Dom Walter que não pode vir, com quem convivi nesses sete anos, em União da Vitória, e que foi um emérito exemplar. Tenho certeza de que ele foi pra mim muito melhor do que eu pra ele, Deus sabe disso. Saúdo e agradeço também os presbíteros e diáconos, os meus padres de Osasco e também os que vieram de União da Vitória, os confrades franciscanos, e todos os religiosos e consagrados seculares, as autoridades públicas, ao povo de Deus aqui e também aqueles que vieram das cidades por onde passei, e que representam uma multidão de amigos que carrego no coração.

A Palavra de Deus diz hoje tudo o que devíamos levar em conta ao iniciar esta nova etapa: O livro da Sabedoria fala de um Deus forte para nos amparar, porém, paciente e bom para suportar nossas fraquezas. São Paulo garante que é o Espirito Santo que vem em socorro de nossa fraqueza, pois a gente é incapaz até pedir aquilo de que necessitamos. E o evangelho me garante que vou encontrar aqui na Diocese de Osasco um campo já semeado, e que há muito fruto bom a ser colhido. Não deixa de ser consolador para quem chega, e não é diferente aqui em Osasco, nesses 25 anos de trabalho intenso pelo Reino. Porém, o evangelho adverte: há, por certo, também a semente ruim, não se pode ter ilusões. Pior: a semente ruim tem semelhança com a boa. Podemos confundir e arrancar o que deveria ser preservado, ou tentar salvar o que deveria ser eliminado. Essa dificuldade assusta o novo bispo, não se pode pecar por descaso, nem por pressa ou excesso de zelo. Assim o joio e o trigo deverão conviver.

Então é natural que a gente sinta certo desconforto por essa convivência entre o bom e o ruim. Mas há aí nessa realista advertência do Senhor, nesse tempo prolongado de joio e trigo, nessa aparente complacência de Deus, também um sentido confortante: que se chama misericórdia e esperança. O Senhor tem paciência conosco e espera que nos convertamos. Mas essa paciência não é conformismo. Ela é carregada de esperança. Um dia, tudo se tornará límpido e certo. E não vai depender tanto de mim ou de você, mas vai ser consequência da bondade daquele que semeia só sementes boas.

Nem conformismo nem complacência com o mal

A missão é de longo prazo, não podemos tratá-la com impaciência. (Recebi, nesses três longos meses muitas mensagens, e-mails – três meses pareciam uma eternidade – de padres e também de leigos, contando suas expectativas, e também buscando algumas respostas que eu mesmo não sabia responder, peço perdão se não respondi convenientemente a todos…)

A missão é de longo prazo, mas traz consigo uma urgência que não admite o conformismo. E vamos trabalhar juntos para que esse dia prometido afinal chegue, o dia do juízo e do fogo. Mas enquanto não chega esse dia, ajuda-nos as outras duas parábolas de hoje, a da mostarda e do fermento, que falam de um crescimento misterioso e potente, maior do que a nossa expectativa, e que vai além do que podemos programar com os nossos planos e estratégias. Podemos plantar e regar, mas o crescimento é de Deus. Podemos não distinguir com clareza o que é joio e o que é trigo, mas o Senhor nos oferece critérios para que nós possamos conviver com o trigo e resistir ao joio.

Vivemos um momento especialmente privilegiado da nossa Igreja

Não é dia, hoje, de fazer programa de trabalho nem promessas de governo (ainda que estejamos em tempo de campanha eleitoral, mas não é o nosso caso). Mas queria convidá-los a olhar o futuro com muita esperança e muita alegria. Alegria, aquela de que fala o Papa Francisco. Ele nos ajuda a sermos trigo de Deus, sermos trigo de alegria para esse mundo de situações que são carentes de vida e de alegria. Ele o Papa Francisco, não faz sozinho essa grande transformação da Igreja que, hoje, deixa meio embasbacados aqueles que não creem, aqueles que lutam contra a esperança, os joios da indiferença e do conformismo com a corrupção e com o mal. Ele conta conosco, com uma Igreja disposta a sair para as ruas, evangelizar com gestos fortes de conversão, de testemunho. Temos as nossas urgências da Igreja no Brasil muito claras, se bem que difíceis, mas numa linha decidida de sair em missão. É essa Igreja que eu quero propor, quero esperar e sonhar, com a força prometida por Deus.

Quero dizer, então, aos bispos, especialmente ao meu novo Regional, mas também àqueles do Paraná, pois a nossa missão é a mesma, junto com meu agradecimento, o meu desejo é de plena comunhão. Temos em mãos um projeto missionário rico e abundante de inspirações, que se expressam no documento “Comunidade de Comunidades” e nas nossas 5 urgências. Peço que me ajudem a caminhar junto num grande projeto de Igreja viva e presente na realidade daqui, que preciso aprender.

Ao clero, meus filhos, minha família diocesana, sem vocês, eu não sei o que fazer nessa seara imensa. Notei, Dom Ercílio, um cuidado muito especial que o sr. teve na formação, no cultivo, desde a pastoral vocacional, até o acompanhamento próximo e paterno, próximo da vida de cada um. Me ajude a continuar assim. Notei também, nos e-mails que recebi dos padres, muita euforia em me mostrar os trigos e prevenir os joios. Todos somos, eu também sou joio e trigo, vocês vão perceber, mas vamos nos ajudar a ser, cada vez mais, trigo bom. No que depender de mim, quero-os próximos, de mim e, sobretudo, próximos do povo. “Pastores com cheiro de ovelhas”, como quer o Papa Francisco, e isso já virou lugar comum, mas traduz bem o que teremos de ser.

Aos consagrados e consagradas, eu também sou religioso franciscano, e sei o quanto é significativa a nossa vida consagrada. Mas sei também que em muitos aspectos perdemos a força de ser sinal. Temos aí pela frente um ano especial dedicado à vida consagrada, 2015, e vamos aproveitar isso desde já. Peço que tomem a frente para apresentar um testemunho corajoso de despojamento, de lucidez e de alegria pelos seus carismas, e me levem junto por esse caminho de audácia e entrega.

Aos leigos e leigas, gente comprometida e participativa, alegre e fiel. Pude já, desde os primeiros dias, sentir a força e entusiasmo da nossa gente aqui, quando nos encontramos em Aparecida, com mais de quatrocentos ônibus e vans, em agradecimento pelo jubileu da diocese. A vocês, eu confio de modo especial o Ano da Paz que terá início no próximo Advento. Mas não esperem que chegue o fim do ano para começar. A paz não é só uma bandeira para carregar, ela é feita de propostas concretas, ações transformadoras. Isso tem que começar a ser pensado a partir de hoje, nos movimentos, nas associações, em comunhão com os pastores. Senão o ano da paz vai passar em branco, literalmente, em branco… Se todos estivermos engajados haverá muito o que fazer nesse ano da Paz, tão oportuno.

Entre os leigos e leigas quero agradecer de modo especial as autoridades públicas aqui presentes. Já pude perceber uma proximidade que não é só de ocasião. Uma parceria sadia, em benefício do povo a quem servimos, deverá nos mostrar que o poder público, num pais sadiamente laico, não pode ficar alheio às ações da Igreja. Estado laico não é estado ateu. Mas também não é troca de favores e interesses pequenos, mas respeito e serviço, aos valores da fé e ao bem do povo.

A todos, o Papa Francisco nos pede uma Igreja corajosa, em saída, um testemunho luminoso, e sem negociar ou reduzir as exigências do Evangelho, centrados em Cristo, sob a proteção de Maria Santíssima.

A todos, Paz e Bem!