Coral dos Canarinhos completa 74 anos
08/08/2016
Petrópolis (RJ) – Ao chegar em Petrópolis, o alemão Frei Leto trouxe consigo a vontade de criar um coro de meninos, sonho que se tornou realidade no dia 15 de agosto de 1942, quando o Coral dos Canarinhos de Petrópolis se apresentou pela primeira vez na Igreja do Sagrado Coração de Jesus. Era o início de uma trajetória marcada pelo pioneirismo e tradição, mas também cercada de amor, dedicação e orgulho daqueles que estamparam no peito o símbolo do coro, que comemora agora seus 74 anos.
O grupo vocal, que se consagrou como um dos maiores patrimônios da cidade, é o mais antigo e tradicional coro de meninos do Brasil. Para o público, sinônimo de qualidade técnica e encantamento, para os coralistas, uma escola da vida. O Coral dos Canarinhos, que hoje pertence ao Instituto dos Meninos Cantores de Petrópolis (IMCP), deu uma nova oportunidade para milhares de crianças e adolescentes, que tiveram a chance de contar com um ensino musical exemplar inteiramente gratuito, abrindo portas e mudando o destino de muitos jovens.
Seu Geraldo de Mello foi um Canarinho entre 1953 e 1955. Hoje, também completa 74 anos e lembra com saudade de sua época no coral. “No meu tempo, éramos muito carentes, minha família era muito pobre. Eu pegava os sapatos da minha irmã e enchia de jornal para poder me apresentar. No entanto, esse era o momento que me fazia feliz. O coro me ensinou a admirar a música clássica e a valorizar a cultura. Uma época dourada da minha vida e infância”.
Mas a formação de quem passa pelo coral vai muito além da música. É o que conta o maestro Marco Aurélio Lischt. A frente do grupo vocal há 18 anos, Lischt já esteve do outro lado, se apresentando como um canarinho. “Aqui, as crianças têm noção de mundo, aprendem o que é responsabilidade e disciplina. É difícil encontrar alguém que não se sinta grato pela oportunidade de ter tido os Canarinhos como parte de sua educação. As experiências adquiridas e o contato com a cultura daqui e de outros países proporcionam uma vivência única na vida desses meninos”, declarou.
As vozes angelicais do Coral dos Canarinhos de Petrópolis já percorrem o Brasil e o mundo, com turnês na América Latina, Europa e Estados Unidos. Cerca de três mil coralistas fizeram parte da história do grupo vocal, que coleciona uma ampla discografia com 18 CD’s gravados, incluindo álbuns lançados na Alemanha.
Grandes concertos abrilhantam o currículo do coro, como três apresentações para o Papa João Paulo II. Os Canarinhos também participaram diversas vezes do Projeto Aquarius, destacando-se o da praia de Copacabana em 2006 com as Orquestras Petrobras Sinfônica e Sinfônica de Porto Alegre, e do projeto “+Criança na Rio +20”. Em 2014, o grupo vocal voltou a se encontrar com a Orquestra Petrobras Sinfônica, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, para apresentações da clássica obra “O Messias”, de Handel. Recentemente, em 2016, o Coral apresentou, ao lado das Meninas dos Canarinhos, da Orquestra Filarmônica de Petrópolis e de solistas convidados, o oratório “A Paixão segundo São João”, obra-prima de Johann Sebastian Bach, apresentada pela primeira vez em Petrópolis.
As emoções de se apresentar como um Canarinho também foram sentidas um dia pelo Sr. Renato Pitzer, que, no final do ano, soma a mesma idade do grupo vocal do qual fez parte. “Entrei no coral em 1951 e lá permaneci até 1959, saí muito bem preparado. O nível de ensino daquela época era excelente, coisa que é difícil de encontrar hoje em dia”.
Seu Gilberto Amaro foi um Canarinho por 9 anos e ingressou no coro na década de 50. Até hoje, carrega a alegria de ter feito parte do grupo vocal. Tanto que ele sempre dá um jeitinho de ficar perto do coral. “Me apresentei no coro dos ex-canarinhos e sempre que posso, assisto aos concertos. Tenho saudade, foram bons tempos, a escola era muito boa. Hoje, aprecio a música graças às aulas”, relembrou.
“A nossa história não para por aqui. Muito pelo contrário, vamos alçar voos muito maiores e continuar encantando o público e transformando a vida desses meninos. Essa é a missão do Coral dos Canarinhos. Muitas outras vozes e corações chegarão para continuar construindo nossa trajetória, sem esquecer de todos aqueles que contribuíram para que chegássemos até aqui”, declarou Lischt.