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Convento da Penha acolhe projeto de preservação e conservação de vestes sacras

26/04/2024

Notícias

Foi lançado na tarde da última quinta-feira (25) o projeto de preservação e conservação de vestes sacras do acervo do Convento da Penha, em Vila Velha-ES. O evento foi na “Casa Verde”, aos pés do Santuário de Nossa Senhora da Penha e contou com a presença de autoridades públicas, como Joel Rangel que representou o prefeito Arnaldinho Borgo e da museóloga da secretaria de estado da cultura Paula Nunes Costa.

O Guardião do Convento, Frei Djalmo Fuck; o presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Vila Velha, Luiz Paulo Rangel; as conservadoras Fuviane Galdino Moreira, Anne Teixeira Barcellos e Carolina Morgado; também estiveram no evento de lançamento e apresentaram como foram os trabalhos de identificação, recuperação, conservação e acondicionamento das peças na chamada “reserva técnica” no Convento.

O objetivo  dos profissionais envolvidos no projeto é arquivar, proteger e valorizar vestimentas usadas nas imagens de Nossa Senhora e demais imagens sacras do Convento da Penha. O projeto é inédito no Espírito Santo e contemplou cerca de 200 peças têxteis do acervo de esculturas do Santuário que é um dos mais antigos do Brasil. Entre os objetos, constam mantos, túnicas, anáguas, sobrevestes, vestidos camisolas e laços, além de outros objetos que estão sendo nomeados e catalogados. As vestes foram feitas em tecidos de veludo, cetim, tafetá, cambraia, com rendas e bordados realizados à mão e à máquina.

“Tudo começou durante minha tese de doutorado que foi sobre os mantos de Nossa Senhora Aparecida, quando identifiquei uma lacuna em relação à conservação e inventariação de vestes sacras, nesse sentido, quando fiz um levantamento das padroeiras do Brasil, identifiquei que a padroeira do meu estado – sou capixaba – de quem sou devota, possuía guarda-roupas e mapotecacom vestes preciosas da imagem de Nossa Senhora da Penha, a partir daí, comecei e escrever um projeto com a pesquisadora Carolina Morgado Pereira de inventariação e conservação desse acervo. Também estamos entregando à comunidade capixaba, um catálogo com alguns exemplares dessas vestes e ainda, buscamos com esse trabalho, incitar, fortalecer aos capixabas esse sentimento de pertencimento, de conhecimento em relação à sua história religiosa e cultural. Esse trabalho contribui com a preservação da memória da nossa história”, destacou Fuviane Galdino.

A especialista em conservação preventiva de têxteis e vestuário, e coautora do projeto, Carolina Morgado, explicou como ocorreu todo o trabalho de conservação. “O meu trabalho, junto com a Fuviane, foi voltado para toda a logística da conservação preventiva, avaliando o estado de conservação das peças, como elas estavam. Fazemos uma análise de todas as peças que temos no acervo e a partir daí vamos pensando nos suportes que vão guardar essas peças, mas para isso é necessário utilizar o material adequado para garantir a conservação delas. Materiais de pH neutro, materiais que vão gerar barreiras contra pragas, sujeiras, umidade. Usamos o tnt, a polionda e a manta acrílica, como materiais, nos vários suportes que foram escolhidas dentro desse processo de guarda e acondicionamento”, detalhou.

Carolina ainda esplanou como se deu o processo de acondicionamento das peças. “O nosso trabalho ficou dividido em dois tipos de acondicionamentos: o vertical, feito nos cabides e capas, cabides feitos de manta acrílica e tnt e as capas que são feitas de tnt com proteção, cobertura para que não tenha entrada de sujeiras. O outro tipo de acondicionamento é o horizontal. Esse foi feito em caixas de polionda nas gavetas, onde foram guardadas as vestes do Menino Jesus, as menores, mais fragilizadas e deterioradas. Também temos as peças que são enroladas, esse tipo de acondicionamento é feito para peças muito longas. Então a gente enrola essas peças com camadas de tnt e capas com etiquetas de identificação. Todas as peças estão guardadas em capas, nas gavetas de poliondas ou nos rolos. Esse tipo de escolha é feito a partir da peça e do estado de conservação dela. Quanto mais fragilizada ela estiver, será direcionada para a guarda horizontal. É feita uma análise peça por peça”, esclareceu.

As fichas de inventário e de conservação foram preenchidas pelas assistentes de museologia e conservação têxtil, Carolina Lima Ávila e Flávia Zanardini Alves Rosa, sob a orientação da museóloga Anne Teixeira Barcellos. Anne também é responsável pelo arrolamento desses bens e enfatiza que a catalogação desse acervo sacro têxtil contribui para a sua valorização e legitimação como patrimônio da sociedade capixaba. “O meu trabalho consistiu na inventariação e organização da reserva técnica. A inventariação, focamos muito na parte de tentar coletar o máximo possível de informação dos objetos para fazermos um grande arquivo. Isso envolve não só a parte de material, de descrição da peça, datação e histórico da peça, mas também em relação ao estado de conservação dela. Além da parte iconográfica, os símbolos que existem por trás do que a gente vê. Já a parte de organização da reserva técnica e do acondicionamento adequado dessas peças, focamos muito na preservação da memória, não só do Convento, mas da comunidade capixaba. Agora, com o catálogo a gente tenta trazer todo esse processo de volta para a sociedade e tudo que fizemos”, disse.

“Os objetos, ainda que peças de museu, são objetos vivos. Eles têm essa simbologia, essa fé das pessoas. Que as pessoas continuem colocando a sua crença e por que não trazer uma exposição para os devotos?!”, sugeriu Anne. E ainda sobre a exposição, Frei Djalmo garantiu que há interesse na realização de uma exposição, ainda a ser organizada.

Aprovado pelo edital 06/2022 da Secretaria de Estado da Cultura (Secult–ES), este projeto tem como proponente o Instituto Histórico e Geográfico de Vila Velha, sob a presidência de Luiz Paulo Siqueira Rangel, que afirma que a preservação e a conservação da história e da cultura de Vila Velha são uns dos principais objetivos do IHGVV.

Após a conclusão dos trabalhos, as peças poderão ser conferidas pelo público em geral por meio de um catálogo em forma de e-book que ainda será disponibilizado.

Sobre o catálogo

O catálogo intitulado “Vestir o sagrado: artefatos têxteis de Nossa Senhora da Penha, padroeira do Espírito Santo” reforça o sentimento de pertença e de valorização da cultura capixaba, contribuindo para que as práticas religiosas e artísticas do Convento da Penha sejam rememoradas. Ao expor de forma digital esse catálogo, possibilitaremos que o conjunto têxtil do Convento da Penha seja conhecido em todo o território estadual, nacional e internacional. As organizadoras são Anne Barcellos, Carolina Morgado, Fuviane Galdino, e as fotografias são de Maria Zanete Dadalto.


Cristian Oliveira- Assessoria Convento da Penha