Conheça “Fiinha”, o “patrimônio” do Seminário Frei Galvão
18/08/2019
Durante mais de 50 anos, gerações de postulantes e seminaristas passaram pelo Seminário. Nas Missas diárias, em meio a eles, está lá, quietinha e sorridente, a Fiinha, o apelido carinhoso de Maria Aparecida da Silva, que no próximo dia 19 de setembro vai comemorar 76 anos de vida. Faltou um ano para ter a mesma idade do Seminário. E o mais incrível: viveu próximo desta casa de formação franciscana por 76 anos. Segundo ela, nos 16 primeiros anos de vida, a família morava na Vila Brasil, mas a mãe a trouxe, ainda “bebezinho”, para conhecer o Seminário Frei Galvão. “Eu nasci na Vila Brasil, na Paróquia Nossa Senhora de Lourdes. Fiquei lá até os 16 anos, mas minha mãe queria morar perto do Seminário para poder ir à Missa sempre. Então, viemos para cá em 1959”, contou.
Fiinha, que ganhou o apelido da mãe, mora hoje na Vila São José, bastando atravessar uma rua para estar no Seminário. Ela não se casou mas vive com quatro sobrinhos. “Meu irmão continua no local de origem de nossa família e quatro sobrinhos moram comigo. Cada um tem a sua casinha. Parece casa de coelho. Entra numa porta, sai noutra”, diz sorrindo, como é própria dela. “Tenho um capela de Nossa Senhora Auxiliadora, que o Frei Jean foi lá abençoar. Eu ganhei essa imagem de Frei Alcides Cella. O meu irmão trabalhou, em 1985, no Seminário como pintor e minha cunhada gostou muito da imagem. Então, Frei Alcides a doou, na Semana da Família, para nós”.
Fiinha garante que lembra bem de todos os seminaristas que estiveram na sua comunidade e na sua casa. “Conheci pelo menos uns 30. Dom Jaime Spengler trabalhou com a gente; Dom Johannes; o Frei Samuel (Ferreira de Lima), o Frei João Francisco; o Frei Jean e outros. Também conheci os freis que moravam aqui. O difícil é guardar os nomes de todos os seminaristas. Teria que fazer um relatório”, brinca (risos).
Mas quem pensou que Fiinha é devota só de São Francisco ou Frei Galvão, seu conterrâneo, enganou-se. “Eu sou devota de todos os santos. O Pe. André Gustavo diz que o céu desceu na terra, porque em casa tenho todos os santos que preciso. Cada dia homenageio um santo”, garante. “Os santos ajudam muito a gente e o carinho das pessoas ajuda muito uma pessoa idosa. A gente tem que ter atenção e carinho das pessoas. Isso fortalece o nosso ego e não ficamos pra baixo. Tanto dou carinho como recebo. Eu trato bem todo mundo. Desde uma criança até uma pessoa idosa. Qualquer um. Eu amo a todos”, ensina, fazendo uma ressalva: “A gente gosta mais da pessoa com quem convive. Eu falo para o Frei que aqui é minha segunda casa. Mas em tudo o que precisei, o Seminário me socorreu. O Frei Samuel me ajudou a tirar o ‘Cartão do Marrom’ para não pagar ônibus. Eu não pago passagem há 8 anos. Eu viajo, eu trabalho, eu rezo. Eu vou a Lorena, eu vou a Aparecida uma vez por semana na Basílica. Enquanto Deus me der perna para andar, eu não paro”, garante.
Para ela, Deus deu um grande presente de morar perto dos Franciscanos. “Eu posso vir à Missa todo o dia. É só atravessar a rua. É aqui pertinho. Quando trabalhava fora, não tinha como vir à Missa todo dia. So tinha uma folga aos domingos. Sou grata aos freis que me ajudaram na minha aposentadoria. Em 1996, eu trabalhei durante 7 meses para completar o tempo de aposentadoria. Frei Paulo César Ferreira, que mora no Convento da Penha, e o falecido Frei Carlos Pierezan me ajudaram. Diziam: ‘Vamos dar um jeito de arrumar a aposentadoria para você. Já está com 28 anos pagos e com 57 anos’. E deu certo”, contou.
Fiinha lembra que em 2011 levou um susto. “Sofri um acidente e fiquei entre a vida e a morte. No dia 1º de novembro, estava indo para a aula de artesanato, de ginástica e música. Não havia nenhum carro e comecei a atravessar a rua. Quando estava com o pé na guia, um carro veio com tudo para cima de mim e me prendeu debaixo dele. Eu sobrevivi. O Frei Claudino disse que eu ressuscitei, porque a batida foi forte. Ainda não paguei meus pecados. Tenho que esperar mais um pouco. Deus está sendo misericordioso comigo”, diz, esbanjando simpatia. Segundo ela, esse lucro é porque Deus chamou sua mãe, Maria Inácia Soares, aos 54 anos, e o pai, Pedro Gonçalves da Silva, aos 64 anos. O meu irmão mais velho morreu aos 51 anos com cirrose. Ela e seu irmão caçula já passaram dos 70 anos.
“Última bolacha do pacote”
Fiinha conta que a chamam de “patrimônio” por causa de Frei José Carlos, natural do bairro Pedregulho. “Eu cheguei uns 20 minutos atrasada para a procissão na Nossa Senhora da Glória. Aí ele falou assim: ‘Enquanto o patrimônio não chega, a gente não começa a procissão’. Mas eu não sabia o que ele estava falando. Eu pensei que era gente lá do Rodrigues Alves… Aí eu fiquei quieta, mas ainda assim intrigada, e perguntei: ‘Frei, mas que patrimônio que o sr. está falando?’. Ele respondeu: ‘Você’. Eu disse: ‘Credo, Frei!’ Aí ficou patrimônio! O Frei Walter Hugo pega no meu pé. Disse que quando eu morrer vai fazer uma estátua minha e vai pôr lá no Mausoléu dos frades”, conta rindo.
A esse carinho dos frades, ela é muito grata. “Eles gostam muito de mim. Eu não faço nada por merecer. Eles gostam de mim do jeito que eu sou. Às vezes falante, às vezes pertinente, às vezes chorona. Até os funcionários me tratam muito bem. Então, eu estou me sentindo a última bolacha do pacote. Já viu. Só tem uma e todos ficam disputando ela. Estou me sentindo assim…” (risos).
Sua felicidade é ser lembrada por um frade que vai ser ordenado e lhe envia um convite para sua ordenação. “Já fui umas 8 vezes a Santa Catarina por causa das ordenações. O Frei Edvaldo (Batista Soares) até agora cobra, porque ele foi ordenado na Bahia. Aí mandou o convite numa época que estava com uma ‘crise de coração’. Não podia viajar. Ele cobra até agora!”, lembra.
Para ela, São Francisco de Assis é “um frei” que imitou bem a Jesus Cristo. “Tanto que ele recebeu as chagas de Cristo. Depois tem uma imagem que Jesus tira o braço da cruz para abraçar São Francisco. Então, eu acho que ele é um santo humilde, prestativo. É um santo que adora a natureza. Qualquer religião tem uma devoção por São Francisco. Eu já conversei com muitas religiões que falam de São Francisco, como os evangélicos, os espíritas”, revela.
Fiinha diz que vem à Missa de domingo a domingo: “O Frei brinca que eu tenho ‘carteirinha de Missa’. Só na quarta-feira (dia livre no Seminário) que eu vou à Missa do meio-dia na Catedral”, ressalta, mostrando a aliança que tem o nome de Jesus gravado. “Eu não casei mas sou uma pessoa realizada. Eu já namorei. Esse anel, eu ganhei de um namorado dos três que tive. Depois que separamos, ele deixou eu ficar com o anel. Ele disse: ‘Você tem o dedinho tão pequenino, que não tem moça para este anel’. Guardei o anel e esqueci dele. Soube que este namorado tinha falecido e então peguei o anel e perguntei a Frei João o que eu faria com ele. Ele me aconselhou a gravar o nome de Jesus e o abençoou pra mim. Está fazendo uns 5 meses que eu só tiro o anel para trabalhar”.