Congresso dos Comissários da Terra Santa
10/12/2025

Nos dias 18 a 25 de novembro, aconteceu o V Congresso Internacional dos Comissários da Terra Santa. O evento teve como sede o Convento de São Salvador e o local de hospedagem, a Casa Nova de Jerusalém, Israel, contando com mais de setenta comissários, vice-comissários e colaboradores.
No dia 19, tivemos a missa presidida pelo Custódio da Terra Santa, Fr. Francesco Ielpo, concelebrada pelos Comissários, no mesmo lugar onde aconteceu a Última ceia de Jesus, o Lava-pés e a vinda do Espírito Santo, no Cenáculo de Jerusalém. Depois da missa, tivemos a oportunidade de ouvir o pároco de Gaza, Pe. Gabriel Romanelli, via teleconferência, que nos falou um pouco da sua experiência vivida no tempo da guerra na Faixa de Gaza e das consequências deixadas no meio dos escombros, pessoas feridas, quebradas, desalojadas, famintas e sedentas. A paróquia se transformou em abrigo para as pessoas que conseguiram escapar da guerra, não tendo mais suas casas, seus apartamentos e seus locais de trabalho. No atendimento, não se faz distinção de pessoas ou de religião. Todos são atendidos, na medida em que conseguem recursos e doações que agora começam a chegar de todo o mundo. Na tarde do mesmo dia, tivemos um testemunho de vida de Dom Frei Bruno Varriano, Bispo auxiliar do Patriarcado latino de Jerusalém, atuante em cinco paróquias em Cipre.
Ele manifestou muito entusiasmo ao trabalhar com as Igrejas Ortodoxas daquela região, no atendimento de milhares de imigrantes, que chegam naquela ilha, de todo o Oriente Médio. Depois disso, tivemos trabalhos em grupos, divididos por línguas (italiano, inglês e espanhol). Foi um momento muito rico, na troca de experiências dos comissários.
No dia 20, depois da missa, tivemos algumas mesas redondas de conversas e partilha de experiências, ouvindo o testemunho, dentre outros, de Fr. Sinisha (guardião da Basílica do Getsêmani) que nos falou sobre a experiência da fraternidade ao abrir a basílica diariamente, celebrando as missas, sozinhos, pela falta de peregrinos. Graças a Deus que agora estão voltando, aos poucos. À noite, fomos a pé, em procissão, até o Getsêmani, onde tivemos a Hora Santa pela Paz, rezada e cantada em várias línguas, inclusive em português. No final desta celebração, tivemos uma breve conversa com Frei Luiz Henrique, que lá serve em sua missão na Terra Santa.
No dia 21, sexta-feira, na parte da manhã, pudemos ouvir o Fr. Paulo Paulista, brasileiro, pertencente à Custódia da Terra, que partilhou um pouco de sua experiência, atuando no Colégio Terra Santa de Bethanina. Depois, ouvimos o Fr. Jad Sara, que nos falou das suas experiências no acompanhamento das casas da Custódia, que são alugadas a preço simbólico, aos poucos cristãos que ainda resistem em permanecer na Terra Santa. Esses cristãos são pedras vidas, testemunhando a sua fé no meio das tantas guerras, falta de trabalho e de melhores condições de vida.
Na parte da tarde, pudemos participar, junto aos demais frades que lá vivem e alguns peregrinos, da tradicional Via-Sacra, pelas ruas da Cidade Velha. No final do dia, ouvimos o Custódio sobre as novas orientações de como depositar as Coletas da Terra Santa e como melhor gerenciar todo o montante, oriundo de todo o mundo, destinadas às suas específicas finalidades.
No sábado, dia 22, fomos bem cedo ao Campo dos Pastores, onde celebramos missa na nova capela dos croatas. São três capelas já construídas nos subterrâneos, à esquerda da Gruta dos Pastores. Outras, ainda em projeto, de acordo com as nações que aceitaram lá construir uma nova capela. Depois da missa, fomos até Belém, onde entramos na Basílica da Natividade, mais especificamente indo até a Gruta e a Manjedoura. Poucos peregrinos!
A seguir, visitamos o Colégio da Terra Santa, inclusive entrando em algumas salas de aula, em vista da saudação das crianças e adolescentes que lá estudam nas várias etapas da escola e colégio. Ao todo, são cerca de 1800 alunos, que têm desde o maternal até o final do ensino médio. Estes alunos são filhos de cristãos e de muçulmanos, que lá fazem a sua formação básica, inclusive tendo aulas em inglês, italiano e outras línguas. Também recebem formação em música, instrumentos musicais, artesanato e cursos de turismo e hotelaria.

Após o almoço na Casa Nova de Belém, caminhamos pelas ruas históricas por onde passou a Sagrada Família antes do nascimento de Jesus e durante a fuga para o Egito. Chegamos no grande centro da Ação Católica, onde tivemos algumas apresentações artísticas, com instrumentos musicais tocados pelos jovens de Belém, inclusive uma dança típica da cultura local. O jantar com pratos típicos da culinária árabe, foi servido aos congressistas, pelos membros da JUFRA. Pudemos fazer perguntas aos jovens, dentre as quais, como eles vivem na terra separada pelo “muro da vergonha”. Uma jovem respondeu que não é fácil permanecer em Belém, “porque ninguém de nós tem garantia de aqui continuar, porque não nos deixam ir a Jerusalém e outros lugares de Israel, pelo fato de sermos palestinos. Não temos local de trabalho e por isso, temos que deixar nossas famílias e migrar para outros países, em busca de um novo mundo”.
No domingo, dia 23, tivemos a missa no São Salvador, presidida em árabe, junto aos paroquianos. Na parte da tarde, tivemos um programa mais livre, com possibilidade de visitar o Museu da Flagelação (Studium Biblicum Franciscanum) e outros locais. Eu optei por fazer um passeio pelas ruas da cidade nova de Jerusalém, usando os meios públicos de transporte (VLT e ônibus). Percebi nesta experiência que o povo circula em modo normal, nas idas e vindas aos colégios, universidades, shoppings e demais interesses. Ao pedir informações a alguns jovens israelenses, no ponto de ônibus, sobre como recuperar uma mala de viagem que chegou em Tel Aviv avariada, me informaram direitinho quais os ônibus a chegar até o bairro Talpiot e retorno até o centro de Jerusalém. Percebi nestes gestos e no modo como vive o povo, que tudo caminha muito bem para acolher peregrinos e turistas!
Na segunda-feira (24/11), tivemos algumas comunicações em plenário sobre como manter os dados atualizados nos Comissariados, notícias da Terra Santa, bem como o acompanhamento das peregrinações, organizadas e/ou solicitadas aos comissariados.
No dia 25, às 06h30, tivemos a missa de encerramento no Santo Sepulcro, presidida pelo Custódio da Terra Santa e concelebrada pelos comissários e vices. Uma experiência marcante, onde pudemos celebrar mais uma vez em frente à edícula do Sepulcro e a seguir, tocar o Túmulo vazio, depositando ali nossas orações, solicitadas pelos fiéis de nossas searas de atuação. E na parte da tarde, após algumas considerações finais, a partir dos trabalhos em grupo, tivemos o envio dos comissários e vices, com algumas diretrizes e orientações do Custódio, Frei Francesco Ielpo, que resumidamente apresento abaixo:
- O comissário é embaixador da Terra Santa nas igrejas locais (particulares). Ele é intérprete e comunicador da missão realizada na Terra Santa. É companheiro espiritual dos peregrinos. É ponte entre a Custódia e sua seara de missão. É responsável pela articulação e manutenção das pedras vivas, as comunidades cristãs que dão testemunho de fé nos lugares da Redenção;
- O comissário da Terra Santa dá testemunho e proclama em seu território de atuação a memória e manutenção dos Lugares Sagrados. Durante as peregrinações, é um guia, um timoneiro aos fiéis peregrinos, para que possam fazer uma experiência de encontro com Cristo nos lugares visitados;
- No cenário dos recentes conflitos, devemos reconhecer que a Terra Santa mudou e os seus peregrinos. Diante disso, o comissário deve ajudar a evitar a polarização entre as religiões dos locais sagrados. Neste sentido, não ver o outro como “inimigo”, mas ser proativo, numa visão mais evangélica, capaz de compreender a complexidade daqueles territórios e seus habitantes;
- O comissário deve dedicar especial atenção às Coletas da Sexta-Feira Santa, promovida com transparência. A custódia, por sua vez, enviará aos comissários, antecipadamente, o material de divulgação;
- Os comissários não devem apoiar projetos pessoais, promovidos por frades individuais na Terra Santa, sem antes ter a aprovação do Custódio. Neste modo, se pode garantir a transparência, a comunhão e a fraternidade em missão;
- O coordenador custodial dos comissários deve promover a comunhão entre os comissários de uma mesma região ou conferência, bem como organizar congressos regionais, sobretudo em vista do apoio dos novos comissários na Ásia, África e outras regiões;
Saímos de Jerusalém trazendo na bagagem novas esperanças de retomar as peregrinações, paulatinamente, porque os ambientes que lá encontramos inspiram confiança, acolhida e condições de realizar experiências de Deus em modo qualificado, na Terra do Quinto Evangelho!

Por Frei Ivo Müller, OFM


