A Fundação Franciscana Imaculada Mãe de Deus de Angola (FIMDA) esteve presente na XXI Assembleia Nacional da Comissão Episcopal de Justiça e Paz da CEAST (Conferência Episcopal de Angola e São Tomé), realizada de 17 a 19 de julho, em Huambo.  Participaram Frei Laerte de Farias dos Santos, da Fraternidade São Francisco de Assis, em Kilamba Kiaxi; e Frei João Alberto Bunga, da Fraternidade da Porciúncula, em Viana.

Sob a presidência de Dom Gabriel Mbilingi, Arcebispo de Lubango e Presidente da Comissão Episcopal, o evento que teve como tema “ Com a força do Evangelho, transformemos o mundo”, frase de Papa Francisco, reuniu 57 delegados, representando 18 Dioceses, para definir o plano estratégico da Comissão para o próximo triênio.

Durante três dias foram debatidos temas como a consolidação e a revitalização da Comissão Episcopal no território da CEAST. Atualmente, 20 dioceses (Cabinda, Mbanza Kongo, Uige, Dundo, Caxito, Luanda, Viana, Saurimo, Lwena, Kuito – Bié, Sumbe, Benguela, Huambo, Lubango, Menongue, Ondjiva, Malanje, Ndalatando, Namibe e São Tomé) englobam a área de atuação da Conferência.

As questões climáticas também tiveram destaque, com reflexões sobre a situação das comunidades vulneráveis e as adaptações necessárias para que possam se manter diante do presente e do futuro global. As injustiças na exploração de recursos naturais que ocasionam degradação ambiental, foi outro aspecto abordado.

Diante do cenário de fragilidades, os delegados também abordaram o agravamento das desigualdades sociais, assim como a degradação da condição de vida dos cidadãos e o grave desinteresse dos jovens pelas causas sociais em geral. O partidarismo exacerbado, que subestima valores de urbanidade democrática, também chamou a tenção das lideranças.

A Assembleia Nacional destacou ainda a violação sistemática dos direitos das crianças, das mulheres e dos adultos vulneráveis. Um dos pontos alto dos debates foi a expansão de extremismos religiosos, onde os valores culturais e cristãos tendem a ceder para novas lógicas imediatistas. Os delegados também consideraram as interferências digitais negativas e os impactos na sociedade, além das ameaças do ambiente virtual à democracia.

A partir das problemáticas apresentadas, a Conferência refletiu sobre sua autossustentabilidade e identidade baseada na defesa dos mais desfavorecidos da sociedade. Foi destacada a importância do “Cuidado com a Criação”, diante das explorações ambientais que desconsideram a vida da natureza e dos seres humanos, gerando o deslocamento massivo de populações, além do desrespeito às leis de impacto ambiental, realidade que ameaça ainda mais as comunidades já vulneráveis.

Ao final das atividades, os participantes deixaram recomendações que irão conduzir os trabalhos da comissão. As propostas englobam a criação de um plano de cooperação com instituições estaduais e de outras esferas para a defesa de causas nacionais que irão atender as vulnerabilidades dos cidadãos; a concessão de espaços para exploração de recursos naturais precedida de estudos de impacto ambiental, consultas públicas adequadas sujeitas à fiscalização do Estado. E, por fim, a organização democrática de uma nação fundamentada na participação de todos.

As lideranças encerraram suas considerações citando Papa Francisco, no texto ”No Coração da Democracia”, no qual diz: “Sim, os problemas que enfrentamos pertencem a todos e dizem respeito a todos. O caminho democrático é discutirmos juntos e saber que só juntos esses problemas podem encontrar solução. Porque numa comunidade como a humana não se pode salvar-se sozinho. Nem o axioma de mors tua vita mea se aplica. Pelo contrário. Até a microbiologia nos sugere que o humano está estruturalmente aberto à dimensão da alteridade e do encontro com um “você” que está à nossa frente”.

Adriana Rabelo