Celebração Ecumênica marca os 175 anos da colonização alemã na Cidade Imperial
29/06/2020
Frei Augusto Luiz Gabriel
Petrópolis (RJ) – No Dia do Colono Alemão, a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Petrópolis (RJ), foi anfitriã da “Celebração Ecumênica” que homenageou a colonização germânica neste dia 29 de junho, feriado municipal e que comemora os 175 anos de colonização. O evento faz parte da programação da 31ª edição da Bauernfest e contou com a presença da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana, representada na pessoa do pastor Elton Pothin. A Celebração foi transmitida ao vivo e em cadeia pela página do Facebook da Igreja do Sagrado e a dos Luteranos e pelo canal oficial do YouTube da Prefeitura de Petrópolis.
Logo no início da celebração, o pároco e guardião da Fraternidade do Sagrado, Frei Jorge Paulo Schiavini, acolheu a todos e manifestou sua gratidão por este momento de fé e unidade. Lembrou que o evento acontece costumeiramente no Palácio de Cristal da cidade, onde está plantada a cruz, que é o símbolo da fé dos colonos alemães. “Trazemos presentes em nossa celebração toda a sociedade mundial, principalmente aqueles que sofrem com a pandemia. De modo especial, queremos rezar pela vida de tantos descendentes de colonos alemães que, com seu trabalho e religiosidade, marcaram e marcam o município de Petrópolis”, sublinhou.
Durante a celebração, um grupo de frades entoou hinos e cânticos em língua alemã sob condução do experiente maestro do Coral dos Canarinhos, Marco Aurélio Lischt, que regeu os frades e abrilhantou a celebração.
Cleia Hillen é descendente alemã e paroquiana da Paróquia do Sagrado. Seus bisavós vieram para o Brasil na expedição da Alemanha. Segundo ela, a celebração o ajudou a relembrar suas origens e cultura. “Que culto maravilhoso. Gostei muito das canções”, disse emocionada, lamentando não poder assistir presencialmente o evento.
Após a leitura bíblica do Evangelho segundo Mateus (11,25-30), o pastor Elton fez sua reflexão recordando a chegada dos imigrantes alemães a Petrópolis. Afirmou que vieram ao Brasil pela difícil situação econômica na qual a Alemanha se encontrava na época, lembrando que o país saía das guerras contra Napoleão Bonaparte, que causaram muita destruição.
“Neste 29 de junho olhemos para trás, para a história da humanidade e, principalmente, para a história dos nossos antepassados alemães que vieram a este Brasil e o quanto eles sofreram. Que nós possamos olhar para Deus e dizer: obrigado pelos nossos antepassados! Obrigado Deus por aquilo que foi construído com firmeza de fé e coragem! E que possamos olhar para o futuro com esta mesma coragem e esperança e fé em Deus para construirmos uma cidade onde todos possam ter vida digna”, ressaltou.
A BOA NOVA DO AMOR SOLIDÁRIO DE DEUS
Em seguida, Frei José Ariovaldo da Silva, também fez sua reflexão. Iniciou com a saudação em alemão: “Gelobt sei Iesus Christus! In Ewigkeit”, que significa: ‘Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo! Para sempre seja louvado’. Segundo ele, no Evangelho escrito por Mateus, Jesus se expõe, fala de sentimentos de profunda alegria e gratidão, bem como de consoladora ternura e compaixão. Em meio a muita gente pobre, gente subjugada pela tirania de “verdades” enganosas, ele se dirige ao Pai, dizendo: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado” (v. 25-26). Depois, ele afirma: “Tudo me foi entregue por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (v. 27). E completa: “Venham a mim vocês todos que estão cansados e fatigados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vocês vão encontrar descanso. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (v. 27-30).
Segundo Frei Ariovaldo, Jesus falou isso depois de ter feito uma dura chamada de atenção às cidades de Corozaim, Betsaida e Cafarnaum, por onde ele havia passado. “Podemos pensar nas inúmeras curas realizadas de todo tipo de doenças. Mas, com todos aqueles milagres, as elites dessas cidades dominadoras, subjugadoras, exploradoras do povo pobre, não acreditaram em Jesus (cf. v. 20-24). Houve até quem o acusasse de “comilão e beberrão de vinho, amigo de publicanos e pecadores” (cf. v. 19). Não acreditaram que Jesus era o próprio Filho de Deus, a expressão acabada daquilo que Deus mesmo é: Amor solidário com os que sofrem. Preferiram permanecer na zona de conforto de suas ‘verdades’ a se converter à sabedoria de vida que Jesus trazia da parte do Pai. A estes, fechados em suas ‘verdades’ enganadoras, que achavam precisar de mais nada, e que o Evangelho, ironicamente, os apelida de ‘sábios e entendidos’,– a eles, os pensamentos generosos do coração de Deus ficaram escondidos. Por quê? Porque resistiram, se fecharam à revelação do Amor que Deus é, na pessoa de Jesus, o Filho de Deus”, destacou.
Para ele, os pobres, injustiçados, subjugados, explorados, cansados e fatigados, estes, sim, entenderam a proposta de Jesus. Diferentemente dos ‘sábios e entendidos’, os ‘pequeninos’ dispunham de espaços totalmente abertos em seus corpos para assimilar e colocar em prática a íntima conexão de conhecimento existente entre Jesus e o amor do Pai. Entenderam ser Jesus o próprio Deus em carne e osso no meio deles. “Daí a alegria do louvor de Jesus ao Pai, por perceber que, nos ‘pequeninos’, a Boa Nova do Amor solidário de Deus não encontrou nenhuma resistência”, revelou.
Segundo o frade, em outras palavras, Jesus lhes diz: “A vida de vocês vai ficar mais suave e mais leve. Mas são vocês que, junto comigo, vão construir esse mundo melhor. É o que eu lhes desejo de todo o meu coração. Contem com meu apoio, com a graça do meu Espírito de amor”, refletiu.
“Celebramos 175 anos da Colonização Alemã de nossa cidade de Petrópolis. Foram muitíssimas as pessoas que até hoje aqui viveram intensamente a revelação de Jesus em incontáveis gestos de amor cristão e, assim, contribuíram no sentido de termos uma cidade saudável, em que a vida possa se tornar suave e leve para se viver. Gott sei dank”, concluiu.
HOMENAGEM
Faz parte da celebração fazer uma homenagem a um dos imigrantes que possuem uma especial importância para toda Imperial Colônia Germânica de Petrópolis. Na celebração de hoje, a homenageada foi a senhora Alice Monken, que já passou dos 100 anos. Nascida no dia 4 de janeiro de 1919, seus descendentes chegaram em Petrópolis em 29 de junho de 1845. Teve uma infância igual a todas as crianças descendentes de germânicos, estudou o curso primário no Colégio Santa Catarina. Na adolescência foi auxiliar da modista Rosa Borzino, conhecida na cidade como Rosinha. Seu pai a levava e buscava para trabalhar e aprender a profissão. Casou-se com Delauro de Souza Adão com 19 anos. Desta união nasceram os filhos, Isis, Ronaldo, Niceia e Eliane. Hoje possui dois netos e dois bisnetos. Atualmente ainda exerce as suas atividades do lar, inclusive nas costuras das suas roupas, sem a necessidade de usar óculos.
Para a senhora Helga Flushoh, que acompanhou a celebração virtualmente, as reflexões de Frei José Ariovaldo e do Pastor Elton serviram de consolo para o difícil momento em que o país vive. “Que nunca esqueçamos que Cristo está sempre junto a nós em todos os nossos dias”, disse. Já Maria Odete Henriques agradeceu: “Obrigada por mais este momento de fé, consolo e esperança”. Segundo Elisabeth Graebner, a Celebração Ecumênica é o momento mais belo da Bauernfest. “Em especial hoje, dia 29 de junho, estamos comemorando 175 anos da chegada dos primeiros colonos alemães à nossa amada Petrópolis. Muito obrigado a todos vocês”. O Pastor Márcio, de denominação luterana, também acompanhou o culto e disse: “Parabéns ao coral dos frades e ao maestro Marco Aurélio pelos hinos em alemão cantados com a pronúncia correta. Realmente ficou lindo”, parabenizou.
Há 30 anos, a tradicional Festa da Bauernfest celebra a cultura desse povo. Porém, no 31º aniversário, com o isolamento social por causa do coronavírus, o evento está acontecendo de maneira virtual. Danças folclóricas, shows, atividades para as crianças, história e até mesmo os concursos foram contemplados na programação que termina neste dia 29 de junho.
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