Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Carta aos animadores da Pastoral Vocacional

24/11/2025

Notícias

 

Roma, 17 de novembro de 2025

Prot. 114859 (FS 179/25)

 

A todos os Animadores do Cuidado Pastoral das Vocações da Ordem

 

Caro irmão:

Que o Senhor lhe dê a paz!

 

Da Cúria Geral, no início deste ano, começamos a enviar cartas a todos os responsáveis ​​pela Formação. Depois de escrever aos Ministros provinciais, aos Custódios, aos Secretários provinciais para a Formação e os Estudos e aos Moderadores da Formação Permanente, dirigimo-nos agora a vocês, Animadores do Cuidado Pastoral das Vocações. No próximo ano, completaremos este processo escrevendo aos Mestres de Postulantes, Noviços e Professos Temporários. Temos grande confiança de que estas cartas, sempre em acordo com o Ministro e o Definitório gerais, encorajarão e enfatizarão aspectos importantes do processo de formação.

ÍCONE BÍBLICO

No dia seguinte, João estava lá novamente com dois de seus discípulos. Vendo Jesus passar, disse: “Eis o Cordeiro de Deus!” Os dois discípulos ouviram-no dizer isso e seguiram Jesus. Virando-se, Jesus os viu seguindo-o e perguntou: “O que vocês estão procurando?” Eles responderam: “Rabi” (que significa “Mestre”), “onde moras?” “Venham e vejam”, respondeu ele. Então, eles foram e viram onde ele estava hospedado e passaram aquele dia com ele. Eram cerca de quatro horas da tarde. André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram o que João havia dito e que seguiram Jesus. Ele encontrou primeiro seu irmão Simão e lhe disse: “Encontramos o Messias” (isto é, o Cristo). E o levou a Jesus. Jesus olhou para ele e disse: “Tu és Simão, filho de João; serás chamado Cefas”, que significa “Rocha”[1].

O Evangelho de João relata uma das passagens sobre a vocação, na qual encontramos Jesus, João Batista e seus dois discípulos, um dos quais é André. João tem a missão de apontar o Messias. No dia anterior, João declarou: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! Este é aquele de quem eu disse: ‘Depois de mim vem um homem que é superior a mim, porque já existia antes de mim.’ Eu mesmo não o conhecia, mas vim batizando com água para que ele fosse revelado a Israel”[2]. Embora a história comece com a menção de João, ele não é o foco. O foco está em Jesus, e João deixa isso claro para seus discípulos. Os discípulos não são convidados a seguir João, considerado até aquele momento seu mestre, eles são, no entanto, conduzidos a Jesus, o Cordeiro de Deus, que se torna seu único mestre.

A pergunta dos discípulos: “Onde moras?” permite que Jesus os convide: “Venham e vejam”, e, como nos conta o evangelista, eles “foram e viram onde ele morava, e ficaram com ele naquele dia”. Neste relato, emerge um padrão vocacional: alguém que se apresenta ao Senhor, dialoga com o Senhor e faz a experiência de vida com o Senhor. O caminho é comunitário, não solitário.

Continuando com a narrativa bíblica, o evangelista apresenta um dos dois discípulos — André — e sua primeira missão diante seu irmão Simão. Fica claro que a vida e a vocação, desde o seu início, é também uma vida de missão e testemunho.

LEITURA FRANCISCANA

A imagem da vocação dos discípulos de João Batista nos lembra São Francisco, que se tornou um convite a seguir a Cristo. Bernardo de Quintavalle foi um dos primeiros a aceitar esse convite. Diz-se dele:

“Este homem hospedara frequentemente o bem-aventurado Pai; tendo observado e verificado sua vida e costumes, reconfortado pela fragrância de sua santidade, concebeu o temor de Deus e foi inspirado pelo espírito da salvação. Viu-o, quase sem dormir, orando a noite toda, louvando o Senhor e a Virgem gloriosíssima, sua mãe; e maravilhou-se e disse a si mesmo: ‘Verdadeiramente, este homem é de Deus’. Apressou-se, portanto, a vender todos os seus bens e distribuiu generosamente o dinheiro entre os pobres, não entre seus parentes; e, abraçando a regra do caminho mais perfeito, pôs em prática o conselho do santo Evangelho: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois vem e segue-me”[3].

Bernardo sente uma profunda fascinação por Francisco e, por fim, compreende que todas as suas ações visam seguir Jesus. Tal como os discípulos que passam o dia na casa de Jesus, também Bernardo tem a oportunidade de morar com Jesus, juntamente com Francisco. Esta “habitação” implica uma transmissão de experiências. O que acontece a Francisco não é menos importante: “São Francisco alegrou-se muito com a chegada e conversão de um homem tão qualificado, pois isso lhe mostrou que o Senhor se importava com ele, dando-lhe um companheiro necessário e um amigo fiel”[4]. O início da experiência vocacional o novo irmão, atraído pelo Senhor, não representa apenas uma mudança para si próprio, mas também transforma a fraternidade e cada frade.

RESPONSABILIDADE NA ANIMAÇÃO DA PASTORAL VOCACIONAL

Caro irmão, você foi designado responsável pela Pastoral Vocacional, mas todos os irmãos devem se lembrar do que dizem as Constituições Gerais: “A responsabilidade de promover e apoiar novas vocações pertence a todas as fraternidades e a cada irmão individualmente”[5]. Nesse sentido, todos os irmãos são animadores da pastoral vocacional. Além disso, nas Constituições vemos que: “Os irmãos, conscientes da poderosa atração de São Francisco, devem assumir a responsabilidade de mostrar a todos o seu modo de vida e os seus valores como elemento essencial da nossa vocação, e viver com tal fidelidade, autenticidade e alegria que inspirem outros a escolher e a viver esta vida”[6]. A Pastoral Vocacional depende essencialmente da convicção, autenticidade e alegria com que vivemos a nossa vocação como irmãos e menores.

Dessas considerações decorre que sua tarefa não pode se limitar aos candidatos que manifestem o desejo de abraçar esta vida, mas deve incluir também aqueles que já são irmãos. De fato, os Estatutos Gerais, ao descreverem a função de Promotor da Pastoral Vocacional, afirmam: “É responsabilidade deste irmão promover e moderar a atividade vocacional franciscana, tanto dentro da Província quanto com outras Províncias e com toda a Família Franciscana, segundo as normas das Constituições gerais e dos Estatutos particulares”[7]. Não deve recair sobre você todo o peso da pastoral vocacional. Sua tarefa é promover e coordenar as iniciativas de todos nessa área.

Nos últimos anos, reconhecemos a oportunidade de colaboração entre os diversos escritórios de nossa Ordem e Entidades. Nesse sentido, o cuidado pastoral das vocações deve abranger o Definitório provincial ou o Conselho custodial, depois toda a Secretariado para a Formação e os Estudos e todos os Formadores, mas também a Secretariado de Missões e Evangelização e o Animador do JPIC.

ITINERÁRIO DO CUIDADO PASTORAL DAS VOCAÇÕES

Gostaria de recordar as “atitudes básicas” que todos os que trabalham na pastoral vocacional devem ter, conforme delineado no documento da Ordem, Orientações para a Pastoral Vocacional[8].

Vocês e todos os demais envolvidos nesta tarefa são convidados a ter confiança no Senhor, que “continua a nos chamar para segui-lo”[9]. Somos testemunhas da situação vocacional muito diversa dentro da nossa Ordem. Em algumas áreas, vivenciamos crescimento, enquanto em outras, sofremos um grande declínio. O crescimento não deve levar ao triunfalismo, assim como o declínio não deve levar ao desespero. Em todas as circunstâncias, somos chamados a viver com uma disposição de confiança e gratidão, sabendo que o Senhor guia os nossos passos.

A outra orientação essencial é a lucidez, que nos permite compreender o mundo e as diversas culturas dos jovens de hoje. Em particular, observamos o crescente afastamento dos jovens da transmissão da fé, das linguagens e das experiências da fé. Somos chamados a tomar consciência desta realidade, a ouvi-la, a estudá-la e a comparar o nosso anúncio da fé cristã com ela hoje. Tudo isto é vital para que a nossa proposta vocacional seja verdadeiramente válida e para que fique claro que a origem da proposta é o Senhor, enquanto nós somos apenas mediadores. A lucidez exige que a proposta inclua os valores evangélicos que fundamentaram a vocação de Francisco. Por outro lado, exige que a nossa proposta seja clara, sem falsos adornos.

A terceira atitude já foi mencionada de alguma forma, e é a convicção. É o testemunho de vida para todos nós. Só se vivermos a nossa vocação com convicção e paixão seremos capazes de convidar outros a seguir Cristo conosco, como irmãos. Talvez seja precisamente aqui que devemos vislumbrar um vasto campo de trabalho, em conjunto com o Definitório provincial ou o Conselho custodial, com os Moderadores da formação permanente e com os responsáveis ​​por outros ofícios: como despertar nos irmãos a alegria da nossa vocação, como inspirar a coragem para a proclamar e propor, inclusive no acompanhamento dos jovens para a nossa vida e missão. Não devemos esquecer que devemos oferecer este testemunho como irmãos e como menores, oferecendo uma experiência autêntica da nossa identidade, que inclui tanto os irmãos leigos como os clérigos. Seria bom se uma equipe do Cuidado Pastoral das Vocações incluísse ambos. Aliás, o Animador da Pastoral Vocacional não deve ser o único irmão que os candidatos encontram em seu caminho.

A chave, então, é a fraternidade concreta, que é a morada concreta para a qual os convidamos. É fundamental reconhecer a inspiração do Espírito nos candidatos[10] e cultivar sua acolhida[11]. A Fraternidade de Acolhimento Vocacional é uma exigência expressa de nossas Orientações: com a animação vocacional, é parte integrante do itinerário formativo[12]. Antes do postulantado, é necessário haver um lugar e um tempo para o acompanhamento e o discernimento pessoal e em grupo dos candidatos, atentando também para as dimensões humana, afetiva e relacional, levando em conta os critérios fundamentais do discernimento[13].

IMPORTÂNCIA DA PASTORAL DA JUVENTUDE

Há alguns anos, em nossa Ordem, amadureceu a convicção de que a pastoral da juventude “é vocacional por natureza, pois qualquer caminho de fé necessariamente abre a pessoa para a escuta de seu próprio chamado pessoal”[14]. Tanto a Pastoral da Juventude quanto a Pastoral Vocacional ajudam as pessoas, jovens e adultas, a embarcar no caminho do seguimento de Cristo e a encontrar o caminho para o qual o Senhor as chama.

No caminho da Pastoral da Juventude, o primeiro anúncio torna-se cada vez mais crucial. De fato, antes de ajudar os jovens a discernir a vontade de Deus, muitas vezes é necessário ajudá-los a conhecer a Deus como Pai e a encontrar verdadeiramente Jesus. Isso implica direcioná-los para Jesus, como fez João Batista no ícone bíblico.

Às vezes, como já mencionamos, se nos faltar convicção, não teremos a coragem de propor nosso modo de vida, mesmo quando há claros sinais de uma vocação. Como Animador da Pastoral Vocacional, você não deve negligenciar esse aspecto. Devemos ajudar nossos irmãos e irmãs a se tornarem verdadeiros arautos da vocação, não apenas pelo exemplo de nossas vidas, mas também pela pregação, catequese e conversas pessoais. Outras vezes, pensamos que devemos ignorar todos os outros caminhos possíveis e propor apenas a nossa forma de vida, mesmo quando há sinais de outro tipo de vocação, para outro tipo de vida consagrada ou para a vida matrimonial. É preciso honestidade fundamental para reconhecer e aceitar a própria vocação.

As entrevistas pessoais, que já mencionamos, são um meio indispensável para acompanhar cada jovem e sua vocação. Esses encontros podem se tornar importantes momentos de reflexão e síntese.

Encorajo-lhe a colaborar com os responsáveis pela pastoral da juventude em sua Entidade para ajudar os jovens a encontrar seu caminho e responder ao chamado a uma vida plena.

MISSÃO E EVANGELIZAÇÃO E JPIC

A proposta vocacional não pode ser separada da missão de nossa Ordem e de nossas Fraternidades. De fato, a Missão e a Evangelização são a esfera vital onde alguém pode normalmente discernir sua vocação, graças também às orações dos fiéis. Ao mesmo tempo, a Missão e a Evangelização são o campo para o qual a pessoa se sente enviada. Se lermos os relatos de vocações no Antigo e no Novo Testamento, veremos que a missão quase sempre acompanha a vocação. De fato, mesmo no ícone bíblico que aparece no início desta carta, André, recém-chamado, encontra-se em missão junto ao seu irmão.

Portanto, aconselho-lhe a colaborar ativamente com o Secretariado para a Missão e a Evangelização de sua Entidade, para encontrar lugares e comunidades onde possam desenvolver iniciativas da pastoral vocacional, mas também para identificar projetos e locais missionários ou de evangelização onde os candidatos possam vivenciar a nossa forma fraterna de missão e de evangelização.

Identificando, também com a ajuda dos responsáveis ​​pelo JPIC, as realidades concretas em que os frades se encontram como menores entre os menores, isto é, nas periferias da sociedade e em situações de sofrimento, talvez possamos evitar o risco de uma pastoral meramente tradicional e, por vezes, autorreferencial, que muitas vezes se esquece deste tipo de missão e se concentra, em vez disso, numa espiritualidade desencarnada. Na Pastoral Vocacional, a nossa preferência pelas periferias e pelos marginalizados deve ser clara desde o início.

Finalmente, também em nome do Ministro e do Definitório gerais, quero agradecer-lhe pelo seu empenho e colaboração neste ofício, que para muitos é a primeira imagem da nossa Ordem. Gostaria de encorajá-lo neste serviço, tão importante para o Povo de Deus e para todos nós, incluindo você, que o realiza em nome daqueles que procuram ouvir a voz do Senhor, vir e ver a sua morada e seguir os seus passos neste tempo.

 

Fraternalmente,

 

Fr. Darko Tepert, OFM
Secretário Geral para a Formação e os Estudos

[1] Jo 1,35-42.
[2] Jo 1,29-31.
[3] 1Cel 24.
[4] 1Cel 24.
[5] CCGG 145 §2.
[6] CCGG 145 §1.
[7] EEGG 89 §2.
[8] Secretaria geral para a Formação e os Estudos, Orientações para o cuidado pastoral das vocações “Vinde e vede!”, Roma 2002, pp. 13-16.
[9] Vita Consecrata, 64.
[10] Orientações CPV, n. 13.
[11] Orientações CPV, n. 21.
[12] Orientações CPV, n. 16.
[13] RFF, n. 172.
[14] Vinde e Vede, p. 32.