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Cacique Raoni se encontra com o Papa e denuncia ameaças à Amazônia

28/05/2019

Papa Francisco

O Papa Francisco recebeu em audiência privada na Casa Santa Marta na manhã desta segunda-feira, 27, o líder indígena brasileiro Raoni Metukire, da comunidade Caiapó. O cacique está na Europa desde 14 de maio, numa viagem de três semanas, para se encontrar com os chefes de Estado e a opinião pública para alertar sobre as crescentes ameaças à Amazônia.

O encontro do Pontífice com o líder do povo Caiapó – ameaçado por madeireiros e pelo agronegócio – havia sido confirmado no último sábado pelo diretor interino da Sala de Imprensa da Santa Sé, Alessandro Gisotti. Com a audiência – explicou ele – “o Papa reitera a sua atenção pela população e pelo ambiente da área amazônica, e o seu compromisso pela preservação da Casa Comum”.

Gisotti também havia explicado que “a audiência insere-se no contexto da preparação para a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a região Pan-Amazônica, que se realizará de 6 a 27 de outubro, no Vaticano, sobre o tema ‘Amazônia: Novos Caminhos para a Igreja e por uma Ecologia Integral’”.

O líder indígena brasileiro também está recolhendo fundos para a proteção da reserva do Xingu, no Mato Grosso.

AGENDA NA EUROPA

Líder da etnia caiapó, o cacique de 87 anos ganhou visibilidade internacional nas últimas décadas em sua luta pela preservação dos povos indígenas e da Amazônia. Ele tentará arrecadar um milhão de euros para proteger O Parque Nacional Indígena do Xingu – reserva onde vivem vários povos indígenas – de madeireiros e do agronegócio. Raoni viaja acompanhado de outros três líderes indígenas que vivem no Xingu.

Na França, Raoni se reuniu com o presidente Emmanuel Macron e seu ministro do Meio Ambiente, François de Rugy. As lideranças indígenas estiveram na Bélgica, Suíça, Luxemburgo, Mônaco e Itália.

A viagem de Raoni ocorre num momento de apreensão para os povos indígenas no Brasil devido a medidas adotadas ou anunciadas pelo governo do presidente Jair Bolsonaro.

Em abril, Bolsonaro afirmou que propôs a seu homólogo americano, Donald Trump, a abertura da exploração da região amazônica em parceria com os Estados Unidos. O presidente criticou também o que chama de “indústria” de demarcação de terras indígenas, que inviabilizaria projetos de desenvolvimento da Amazônia, e afirmou que pretende rever demarcações. O governo também defendeu a possibilidade de ampliar atividades de mineração e agropecuária em terras indígenas.

Logo que assumiu a Presidência, Bolsonaro transferiu a responsabilidade pela demarcação de terras da Fundação Nacional do Índio (Funai) para o Ministério da Agricultura. Na semana passada, uma Comissão do Congresso aprovou o retorno da atribuição para a Funai, assim como a volta da fundação, transferida para o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, para a alçada do Ministério da Justiça. O parecer aprovado pela comissão ainda precisa passar pelos plenários da Câmara e do Senado.

Os fundos que Raoni pretende arrecadar devem ser uados para sinalizar melhor os limites da reserva do Xingu e comprar drones e equipamentos para vigiar a região e protegê-la contra incêndios, segundo a Foret Vierge, organização que Raoni preside de forma honorária.

Além disso, algumas comunidades no Xingu necessitam de recursos para saúde, educação e conhecimento técnicos para a extração e comercialização de produtos renováveis obtidos na floresta.

“Assim, os indígenas poderiam viver de forma digna na reserva e, ao mesmo tempo, proteger a floresta, em vez de ir a áreas rurais ou urbanas”, disse a Foret Vierge em comunicado. A viagem de Raoni recebeu o apoio de figuras como o cantor Sting, que há 30 anos realizou uma viagem ao lado do cacique por 17 países e o ajudou a ganhar notoriedade internacional na luta pela proteção dos povos do Xingu.


Fonte: Vatican News