Aos 97 anos, falece Frei Thaddée Matura, o grande escritor do franciscanismo
08/01/2020
“Com profunda tristeza, recebemos a notícia da morte de nosso irmão Frei Thaddée Matura, O.F.M, um dos grandes estudiosos do franciscanismo, que morreu em 5 de janeiro de 2020, na Providencia Carrefour, em Montreal. Ele tinha 97 anos e 79 anos de vida religiosa e 71 anos de sacerdócio. O funeral será realizado no sábado, 11 de janeiro de 2020, às 14 horas, na Igreja Franciscana (5750, Rosemont Boulevard), em Montreal. Agradecemos ao Sumo Bem por sua vocação e testemunho franciscano”, informa a Cúria Geral.
Nascido em 24 de outubro de 1922 em Zalesie Wielkie, na Polônia, Frei Taddée, por razões familiares, juntou-se ao pai no Canadá na véspera da Segunda Guerra Mundial. Ao frequentar uma faculdade dirigida pelos Frades Menores, nasceu em Frei Thaddée o desejo de se tornar franciscano. Assim, em 7 de abril de 1940, ele entrou no Noviciado da Província São José e fez profissão temporária em 1941 e a profissão solene em 1944. Em 27 de junho de 1948 foi ordenado sacerdote.
Em 30 de novembro de 2012, ele deu a seguinte entrevista ao Boletim Fraternitas, da Ordem dos Frades Menores:
1. Como tem sido seu itinerário franciscano?
Eu posso dividir esses anos em três etapas. Minha vida franciscana no Canadá (1940-1964), que pode ser resumida em tempo de treinamento, estudos universitários (Roma-Jerusalém) e ensino. Foi um tempo de aprofundamento intelectual e teológico, de perguntas, de tentativas de melhoria. Depois, meu êxodo para a França em 1964. No início, foi a experiência de Taizé, onde morei com outros frades por oito anos. Sucessivamente, aderi à “nova fraternidade” dos Grambois. Essa etapa foi a mais criativa e produtiva da minha vida. As duas experiências permitiram-me criar e viver especificamente algo novo, mais próximo do primitivo ideal franciscano. Durante esses anos, pude aprofundar meus conhecimentos teóricos sobre São Francisco, especialmente seus Escritos, bem como a história da Ordem. Durante esses anos, também comecei a viajar, a escrever e a ter muitos contatos com a Família Franciscana dos cinco continentes. Após o fechamento de Grambois, em 1994, se abriu um período de amadurecimento e reflexão, buscando publicar os resultados de meus estudos sobre a mensagem escrita de Francisco, uma mensagem em que trabalhei com base no meu treinamento de exegeta e fazendo referência a situações específicas na vida da Ordem.
2. O que foi essencial em sua vida e em sua pesquisa?
A frase de São Francisco “Outra coisa não desejemos,/ nem queiramos,/ nem nos alegre,/ senão o nosso Criador,/ Redentor e Salvador,/ o único e verdadeiro Deus / que é o bem pleno,/ o sumo e verdadeiro bem” (Rnb 23,9), sempre me guiou e me ajudou na minha longa vida franciscana. Creio que Deus, o desejo de Deus, tem sido o verdadeiro “centro” da minha longa vida franciscana, seu motor. Da mesma forma, a importante “expressão”: “Observe o santo Evangelho de Jesus Cristo”, acho que foi o coração da minha vocação. Portanto, senti uma grande alegria ao ver ao longo dos anos que muitos outros, na Família Franciscana e em outros lugares, tinham os mesmos “centros” e tentavam vivê-los com alegria e coragem.
3. Como você vê o presente e o futuro de nossa Ordem?
A situação atual da Ordem é conhecida e podemos descrevê-la objetivamente. Quanto ao futuro, eu não sou um profeta! No entanto, eu a vejo imersa em uma crise saudável. Nos últimos cinquenta anos, diminuímos aproximadamente pela metade. Esse declínio parece inexorável e afeta nossa presença em todos os lugares, talvez, com exceção da África e da Ásia. Tudo isso nos obriga a fechar casas, abandonar instituições, fundir Províncias. Quantos seremos daqui a 20 ou 30 anos? No entanto, acredito “na força do Evangelho”.
À medida que envelhecemos, diminuímos e tendemos a desaparecer, descobrimos e aprofundamos como quase nunca em nossa história, nossas origens e nossa verdadeira identidade como Irmãos Menores, contemplativos em missão, sujeitos a todos. A crise atual nos obriga, e é uma graça, incorporar e expressar esses valores neste mundo e nesta Igreja, de uma nova maneira, até então desconhecida, mas humilde e modesta. Mesmo se nos tornarmos apenas algumas centenas, nada nos impedirá de irradiar a paz e a alegria do Evangelho. E isso se refere a toda a Família Franciscana: os três ramos dos Frades Menores, as Clarissas, os Religiosos Franciscanos, as numerosas OFS, homens e mulheres, presentes em todos os lugares para testemunhar juntos a fé no Deus vivo, o Todo-Poderoso Todo-Poderoso e bom senhor!
No livro “O projeto evangélico de Francisco de Assis”, Vozes/ CEFEPAL, Petrópolis 1979, p. 80, ele escreve: “A fraternidade não é somente, nem em primeiro lugar, uma escola de perfeição ou uma equipe de trabalho apostólico. Ela tem uma finalidade de ser em si mesma: ser espaço onde os irmãos procuram estabelecer relações verdadeiramente interpessoais. A finalidade de uma fraternidade evangélica é que os irmãos se amem uns aos outros. Ela requer manifestação visível, uma espécie de sacramento da nova situação do homem, a quem o Senhor concedeu em Jesus Cristo, a possibilidade de amar verdadeiramente todos os homens. Os laços que unem entre si os irmãos de uma fraternidade evangélica não são espontâneos como no casal humano. Os irmãos se agrupam para amar-se por causa do Reino de Deus. Querem desta maneira manifestar de forma concreta a vocação primeira da Igreja: ser uma comunidade de amor”.